Ceramista por vocação

29 de janeiro de 2016

Graças ao talento de personagens como Claude Aïello e Pablo Picasso, nos anos de 1950, Vallauris se tornou o berço da criação e produção de cerâmica na França e é conhecida pela sua antiga indústria cerâmica e teve Pablo Picasso como um dos artistas propagadores dessa atividade quando estabeleceu na cidade seu atelier Madura, atraindo um grupo de ceramistas que se reuniu em torno de sua personalidade na década de 1950. Todavia, a cerâmica da cidade de Vallauris passou por vários momentos críticos por conta de mudanças econômicas, culturais e sociais mas há muito deixou de ser vista como uma linha de produção extravagante, considerada ultrapassada ou objeto de souvenir para visitantes ou turistas incautos. Graças aos novos talentos e aos mestres ceramistas, como Claude Aïello, uma das figuras emblemáticas dessa revolução, que tem colaborado com o reconhecimento mundial de Vallauris.

Nos últimos anos, a criação cerâmica da cidade mudou e ganhou novos valores em torno da sua imagem. Esse sucesso deve-se em parte aos apaixonados pela cerâmica, pessoas que se engajam voluntariamente para fazer com que as indústrias que desapareceram possam ganhar vida com o intuito de dar aos jovens novas oportunidades para promover esse savoir-faire ancestral. Com sua experiência, seu talento e perfeccionismo Claude Aïello tem contribuído com essa revolução. Sua energia e comprometimento com a reputação da cerâmica de Vallauris pode ser sentida assim que se cruza a porta do seu atelier na rua Hoche. Um espaço pequeno, caloroso e apinhado de modelos de todos os formatos à apenas alguns metros do Museu de Cerâmica de Vallauris. Recluso nesse atelier durante horas a fio, Aïello trabalha incansavelmente suas peças contemporâneas e desenvolve as encomendas que recebe de designers renomados como Ronan Bouroullec, Florence Doléac, Christian Ghion, o belga Nicolas Bovesse e Mathieu Lehanneur, um dos mais inovadores designers franceses, com quem Aïello dividiu o Prêmio Liliane Bettencourt para a inteligência da mão. Aïello e Lehanneur, foram os ganhadores do Grande Prêmio da Bienal Internacional de Criação Contemporânea e Cerâmica de 2010 na categoria “Design”. A união dessas duas gerações, que combinam talento e criatividade para dar nascimento a utilitários e peças originais, é uma dádiva, tanto para Claude Aïello, como para Vallauris, que tem se destacado como referência da arte contemporânea na produção de cerâmica. Para conhecer um pouco mais sobre o perfil do mestre da cerâmica, leia a seguir entrevista exclusiva concedida em seu atelier em Vallauris.

Conte-nos como tudo começou…

Claude Aïello – Cheguei em Vallauris vindo da Sicília em 1964, aos 13 anos de idade, com meus pais, irmãos e irmãs. Meu pai pertence a uma linhagem de artesãos italianos e estava fugindo da crise da cerâmica utilitária que atingiu a cidade de Patti Marina, província de Messina, na Itália, por isso vimos para a França. Logo cedo comecei a me interessar por esse ofício, tanto que aos 14 anos fui contratado como aprendiz numa fábrica local, em Vallauris, e desde então tudo o que faço é relacionado à cerâmica.

O que inspira você?

Claude Aïello – O conhecimento e a paixão pelo meu ofício.

O que o motivou a criar cerâmica?

Claude Aïello – Acredito que o fato de representar a terceira geração de ceramistas da minha família tenha sido mais que motivador. Fazer e criar peças em cerâmica, é algo natural para mim, é como respirar. Depois que comecei a trabalhar com o manuseio da argila, percebi logo cedo, ainda adolescente, que meu destino estava de alguma maneira traçado. Além disso, sou impulsionado pelo desejo de criar, de dar novas linhas para objetos de cerâmica, por isso, gosto de participar de projetos com profissionais de outras áreas, que aceitam meu conhecimento da cerâmica, minha expertise no processo criativo e as soluções técnicas que posso sugerir para satisfazer suas necessidades. 

Quais palavras descrevem melhor seu trabalho?

Claude Aïello – Criação, perfeccionismo, disciplina, determinação e hospitalidade. Gosto de receber as pessoas no meu atelier, profissionais de outros segmentos, aprendizes, curiosos, alunos que desejam conhecer minha técnica para promover a cerâmica de Vallauris com o seu trabalho.

Como você escolhe o modelo das suas coleções?

Claude Aïello – Através de cróquis ou através da minha imaginação. 

Quem dita o ritmo do seu trabalho: a razão ou a intuição?

Claude Aïello – Acredito que os dois.

Quais personalidades do mundo da decoração e do design o inspiram?

Claude Aïello – Trabalho em parceria com vários designers de diferentes horizontes e todos me inspiram pela maneira como concebem suas ideias. François Bauchet, Ronan Bouroullec, Pierre Charpin, Olivier Gagnère, Patrick Jouin, Jasper Morrison, Radi Designers, Frédéric Ruyant, Martin Szekely e Roger Talon, apenas para citar apenas alguns com os quais colaborei e que me incentivaram de alguma maneira a revisitar, questionar e tentar mudar a tradição cerâmica de Vallauris. 

Como você se define: decorador, artista ou ceramista?

Claude Aïello – Sou, antes de tudo, ceramista mas as outras opções, decorador e artista, são familiares ao que faço e também podem ser usadas para me definir.

Quais são seus próximos projetos?

Claude Aïello – Estou participando de um projeto original ligado a moda, juntamente com um designer têxtil.

 

 

 

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