“No names, but names”

30 de maio de 2017

É o título da principal da instalação apresentada na primeira exposição, na França, da artista brasileira Débora Bolsoni durante o evento Drawing Lab Paris, que acontece de 09 junho a 09 de setembro. De acordo com sua curadora, Claudia Rodriguez Ponga “este trabalho consiste em vários projetos que poderiam ser perfeitamente acolhidos como esculturas e é precisamente nessa ambiguidade formal que está enraizado esse projeto poético.” Nesse contexto, “No names, but names” permite que o público circule entre as obras, cujo arranjo apresenta voluntariamente a disposição de um cemitério. Cada peça é feita de diferentes mídias, entre “dess-turas” e “sculp-ssins” apoiados por um pequeno carrinho, jogando com a ideia de que estas lápides poderiam, a qualquer momento, rolar.

Dois ambientes complementares desta instalação ilustram a importância do desenho na prática artística de Bolsoni: eles apresentam sua interpretação do desenho como um espaço de trabalho, bem como a importância da figura como padrão desenhado, como forma de trazer à vida entidades vibrantes, material para que eles possam se colocar em movimento diante dos nossos olhos. Correspondance Magazine® entrevistou a artista que se entregou ao exercício para preparar o nosso ponto de vista, falando sobre as silhuetas que desenha, uma mistura de interdisciplinaridade que caracteriza as origens do desenho e da escultura.   

Quais imagens da sua infância fazem referência a artista que você se tornou?

– Vivi numa casa em construção durante toda a minha infância numa zona da cidade do Rio de Janeiro que estava perdendo seus traços, ainda rurais, para tornar-se um novo subúrbio. O ritmo com que as transformações urbanas se davam e o caráter de improviso delas parecem ter servido de chave de interação com o mundo – isso para o bem e para o mal. De qualquer forma, em se tratando de imagens, creio que a convivência com os materiais de construção em meio a natureza, as brincadeiras nos terrenos das casas em estado de fundação, a mescla de ambientes naturais e espaços de habitação me deixaram um certo repertório sensível com o qual ainda lido.

De onde vem sua paixão pela arte e pelo desenho em especial?

– Acho que minha paixão pela arte vem da necessidade de estar com o outro e da possibilidade que a arte nos dá de criar intervalos no fluxo da rotina. Mas minha relação mais clara com a arte se deu pela literatura inicialmente. O desenho e a escrita sempre andaram bem juntos e, mais do que paixões, acho que tratam-se de necessidades reais do meu ser.

Como você desenvolve, emocional e artisticamente suas criações?

– Deixo-me levar por coisas que se impõem a mim. Assumo uma certa passividade como aquela que Drummond aconselhava ao poeta: “que ele deve adentrar surdamente no reino das palavras para descobrir aquelas que querem ser ditas…” Mas expor um trabalho demanda uma energia emocional considerável, que tem a ver com o esforço de gerar o encontro entre o expectador e a obra. Normalmente, procuro criar obras que suscitem uma presença gentil do observador, e às vezes não é pela obra em si, mas pelo modo como a apresento no espaço. Essa gentileza teria a ver com uma identificação inicialmente física, como se o público se visse diante de um outro ser.

O que o termo “ser artista” significa para você?

– Significa existir.

Qual a gênese desse projeto “no name, but names”?

– O título desse trabalho tem a ver com uma reivindicação de individualidade, que é o nome próprio de cada um. “No name, but names” partiu de um desejo de mostrar singularidades dentro de um conjunto.  Não queria só fazer uma massa de desenhos no espaço, tentei dar caracteres individuais para cada peça ainda que todas estivessem sobre o mesmo suporte. Isso tinha a ver com as experiências recentes de manifestações de rua no Brasil. Na primeira versão desta obra, que mostrei em Nova York em 2016, teve uma disposição bem marcial. Mas lá eles estavam num contexto de uma feira de arte, com muitos apelos visuais no entorno, então achei importante dar essa espécie de moldura rígida para eles. E eu via os carrinhos que suportam os desenhos como um grande aparelhamento de marcha ou parada mesmo. Mas aqui em Paris, acho que vai ser mais bacana deixar os desenhos se comportarem como se eles fossem o público no espaço, de uma forma mais caótica, em pequenos grupos ou voltados para direções nada previsíveis no espaço expositivo.

Que tipo de suportes você costuma usar para compor seus desenhos?

– Normalmente não são suportes neutros. Geralmente são suportes deslocados de suas funções originais, ou quando é papel, dificilmente é branco. Realmente acho que costumo partir de alguma realidade mais opaca e matéria para desenhar.

Você trabalha apenas com suas próprias ideias ou responde as encomendas que lhe são feitas? Conte-nos um pouco sobre seu processo criativo?

– Gosto de responder a encomendas normalmente. Na verdade, em termos de liberdade, não vejo muita diferença entre um trabalho encomendado e outro não. São só pontos de partida diferentes, o que pode mudar é o número de pessoas envolvidas, mas gosto de trabalhar com pessoas e isso até facilita meu processo criativo.

O que inspira você no cotiano?

– Problemas me inspiram.

 

 

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