Moda masculina eclética

31 de outubro de 2018

 

Completamente autodidata, curioso e motivado, Franck Malègue conta que seu aprendizado foi construído através de experiências e encontros, sobretudo, durante o período em que trabalhou na implementação de marcas francesas e italianas na Ásia. “Vivi por 3 anos no Japão, onde a coexistência de tecnologia e tradição me impressionou muito”, relembra. “Rapidamente percebi que a inovação estava na reunião desses dois mundos, não em sua oposição.” Depois dessa constação, o criador da marca de moda masculina éclectic, que conta com duas boutiques em Paris e uma em Nova York, entrou em contato com um estúdio de arquitetura italiano especializado no desenvolvimento de materiais compostos, que o fez descobrir o potencial de novas fibras técnicas. “Nesse momento, tive a ideia de aproximá-las da expertise tradicional do Master Tailor para desenvolver peças de alta qualidade, conta Malèque.” Para conhecer a engenharia da marca éclectic e as coleções confeccionadas artesanalmente na Itália, Correspondance Magazine® entrevistou Franck Malègue esse empreendedor globettroter que soube unir tecnologia e artesanato para desenvolver coleções belas e funcionais, graças aos materiais inteligentes e totalmente adaptadas ao estilo do homem moderno. Como tudo o que Malègue faz é fruto de trabalho e pesquisa, ele se vale de artesãos italianos para elaborar suas coleções, principlamente, as jaquetas em fibra, que demandam uma engenharia de processo, por vezes, complicada. O resultado é impressionante: uma peça estruturada, alinhavada com elegância e conforto.

O que despertou seu interesse pela moda?

– Tudo começou pelo meu interesse pelo design de objetos e, em particular, pela busca simultânea de estética e funcionalidade. Sou adepto da teoria do “menos é mais” do arquiteto Mies Van Der Rohe que é, na minha opinião, uma incrível fonte de inspiração para outros campos criativos, como a moda. Graças à influência do design sou mais apaixonado pelo vestuário – seu desenho, sua forma, seu uso – do que pela moda no sentido “tendência” do termo.

O que fez você levar a moda mais a sério e fazer dela uma carreira?

– Tendo trabalhado por muitos anos no mundo do luxo, mesmo quando se tratava de cosméticos, a moda sempre fez parte do meu ecossistema. Minhas experiências profissionais na Índia e na China me fizeram descobrir muitas falhas na indústria do vestuário, particularmente em termos de desenvolvimento sustentável e ética social. Gradualmente, essa consciência deu origem à necessidade de propor uma moda diferente, mais sintonizada com as realidades dos homens e do planeta.

Como seu trabalho evoluiu desde que você começou sua própria empresa?

– Sem dúvida, todas as escolhas criativas e até estratégicas da marca foram inspiradas pelos nossos clientes. Por um lado, graças a percepção das questões técnicas, que mudou muito desde 2011, quando a marca foi criada. Agora os clientes estão muito mais abertos às inovações têxteis, o que me permitiu oferecer peças mais arrojadas ao longo do tempo, como a Airnet Jacket. Consequentemente, os cortes também se diversificaram de acordo com os perfis de nossos clientes. Por exemplo, agora estamos trabalhando mais e mais cortes soltos, para homens que procuram relaxamento, ou casacos curtos, para aqueles que viajam em duas rodas. Por fim, mesmo que a jaqueta continue sendo o coração do conceito da marca, estamos pensando no desenvolvimento de acessórios, iniciados em 2015 com o lançamento de nossas primeiras bolsas, a ideia é enriquecer gradualmente nossos acessórios de vestiário pensados para viagens.

Qual é a sua abordagem ao projetar roupas masculinas?

– Minha metodologia é o oposto das dos criadores de moda: começo meu processo criativo com o material para, em seguida, obter a forma. Esta última, eu a apreendo muito mais de maneira anatômica que estilística. Penso, acima de tudo, em valorizar os corpos e as morfologias e, para isso, a expertise do “Master Tailor” permanece particularmente adaptada.

Em que consiste essa expertise “Master Tailor”?

– Este método, impraticável industrialmente, consiste em acumular, na frente de jaquetas, sobreposições de pinturas às quais são enxertadas componentes como bolsos ou lapela. A técnica é longa porque meticulosa e a construção de uma jaqueta écletic requer quase 15 horas de trabalho e a intervenção de 12 artesãos. Todo esse processo é feito em uma oficina perto de Treviso, na Itália.

Você acaba de abrir uma loja em Nova York, como o seu trabalho é recebido internacionalmente?

– Tendo saído de Paris muito jovem, finalmente passei mais tempo nos Estados Unidos na Ásia do que na França. É, portanto, em um estado de espírito cosmopolita que achei o vestiário eclético. Em relação aos americanos, você deve saber que eles foram os primeiros a integrar roupas esportivas em suas roupas. Eles são, portanto, particularmente receptivos quando falamos sobre materiais respiráveis, bi-elásticos ou isolantes… e já carregam essa sensibilidade funcional, essa necessidade de conforto cotidiano.

Você é influenciado por alguma tendência, por estilistas, designers, estilos, outros?

– A evolução do meu trabalho e, a principal influência vem dos meus clientes, ou mais amplamente, dos homens que encontro na rua. Na minha opinião, poucos homens se reconhecem nos modelos apresentados nos desfiles e se sentem muitas vezes desconectados da realidade. Mesmo no que diz respeito à moda do momento. Como não sou influenciado por novas tendências, minha abordagem se concentra precisamente em uma lógica de duração, qualidade e intemporalidade. Por outro lado, continuo extremamente atento a todos os atores desse mercado, sejam empreendedores, artistas ou designers.

Qual é a maior lição que você aprendeu desde o início na criação do seu negócio?

– Que é preciso saber permanecer fiel às próprias convicções. No início do eclético, muitos temiam que a marca se tornasse um mono-produto. Para alguns, não oferecer um universo completo, de calças a camisas, era uma desvantagem real. E ainda assim, alguns anos depois, o mono-produto tornou-se um sinal de qualidade, uma forma de dizer “trabalhamos um único produto e o produzimos muito bem.” Idem para a nossa política de não-venda. Sete anos atrás, parecia impensável. Hoje, para muitos rótulos, torna-se uma solução de economia.

Que conselho você daria para jovens designers?

– O de permanecer fiel às suas próprias convicções. Ter identidade própria sempre acaba pagando o preço da perseverança, que é a melhor maneira de não se dispersar e não perder de vista os próprios objetivos.

De acordo com seus princípios criativos, como você conceituaria o estilo da marca?

– Atemporal e refinado, impulsionado por materiais funcionais e inovadores.

EDIÇÃO DE TEXTO – Marilane Borges

IMAGEM © éclectic 

 

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