Pós-Minimalismo e Anti-forma

10 de março de 2017

Doutora em Letras pela Universidade da Cidade de Amsterdam com tese baseada nas tendências construtivistas da Bauhaus e a estética Weimar, Claudine Humblet trabalhou durante anos para os Serviços Culturais da Comunidade Francesa da Bélgica e para a Associação Internacional dos Críticos de Arte (AICA). Autora de diversos livros sobre as tendências estruturais na arte americana dos anos 60 e 70, Humblet publicou recentemente “Pós-Minimalismo e Anti-forma: superior a estética minimalista…”

Lançado pela editora Skira, essa obra ricamente ilustrada fala sobre a experiência intimista e a percepção que a autora vivenciou ao conhecer pessoalmente artistas americanos como Keith Sonnier, Gary Kuehn, Lynda Benglis, Rill Bollinger, Alan Saret, Richard Serra, entre outros. “Visitando suas casas, ateliês e estúdios, além de muita pesquisa nos Estados Unidos, me dei conta que todo esse material poderia se tornar uma publicação, mas não um livro como os outros, almejei escrever algo sobre as minhas sensações em relação aos artistas. “Era importante para mim transcrever o que senti ao visitar esses artistas, que tão amigavelmente me acolheram em suas vidas e em meio as suas obras,” comenta a autora.

Correspondance Magazine® conversou com Claudine Humblet para aprender sobre a estética da arte modernista e para transcrever esse momento especial vivido pela autora. “O que foi essencial para mim nesse projeto do livro foi o contato privilegiado que tive com os artistas”, conclui nossa entrevistada.

Como surgiu a ideia do seu último livro “Pós-Minimalismo e Anti-forma: superior a estética minimalista…”? Quanto tempo você levou para planejá-lo?

– Três anos foram necessários para esse livro ficar pronto. A ideia era escrever sobre o pós-minimalismo com o intuito de dar sequência aos meus livros precedentes: “New American Abstraction”, “Minimal Art”. Essas três publicações são o resultado de um caminho que decidi trilhar, uma viagem ao centro dos meus interesses.

Em suas publicações precedentes você estava deliberadamente contra os críticos no que se refere a Arte Minimal e ao Pós-Minimalismo, fale-nos um pouco sobre suas discordâncias nessa área.

– Os críticos do momento diziam que a Arte Minimal era inerte, inexpressiva e para mim ela era despojada, uma arte pura. Naturalmente, o minimalismo desapareceu mas queria ver o fim desta emocionante aventura. Com a chegada do pós-minimalismo, que é uma reação à arte minimal, os artistas usam novos materiais. Novos para eles, claro! Existe uma procura de novas ideias que façam referência ao movimento, por isso, para mim, isto não é uma arte despojada voluntariamente, é sobretudo uma pesquisa sobre matérias e materiais.

Qual foi a abordagem que você escolheu para incluir os artistas que figuram em “Pós-Minimalismo e Anti-forma: superior a estética minimalista”?

– Queria conhecê-los pessoalmente. Na verdade, os conhecia por meio da literatura mas queria conhecê-los em profundidade e planejei no curso de dois anos esses encontros sobre os quais falo no meu livro. Conheci Keith Sonnier em Knokke, na Bélgica, disse-lhe que sua arte me interessava e ele me convidou para almoçar em Nova York. Comecei a ver a arte deles nos Estados Unidos, na casa deles, primeiramente, depois visitando estúdios, ateliês e continuei a fazer minhas pesquisas ao mesmo tempo. No final, decidi produzir um livro sobre eles, os artistas, especialmente no vasto contexto americano, sempre muito comovente e interessante.

Você tinha um critério de escolha dos artistas que queria conhecer?

– O fio condutor era essa reação a Arte Minimal, ao que era purista. Essa jornada de aperfeiçoamento contínuo e a própria experiência de cada artista os conduzia, de alguma forma, até mim e minhas pesquisas.

Como esses encontros aconteceram?

– Os contatos foram feitos facilmente. Amigáveis e de personalidade calorosa, os artistas me receberam como um membro da família. Tínhamos longas conversas durante o almoço e, pouco a pouco, fui me documentando através de catálogos, informações especiais que eles me passavam sobre suas exposições. Gradualmente nossa relação evoluiu no que viria a ser minha carreira que, de algum modo, era inseparável da deles.

Qual foi a parte mais interessante desses encontros?

– Certamente conhecê-los pessoalmente. Alice Adams, por exemplo, me hospedou em sua casa de campo e me fez entrar no espírito de sua obra. E isso, eu não teria feito sozinha. Esses artistas me ofereceram muito mais que o trabalho deles, eles me presentearam com o espírito das suas criações.

Conhecendo pessoalmente tantos artistas, como você os definiria?

– Essa é uma pegadinha! Ser artista é uma maneira de moldar seus próprios impulsos, tudo o que temos dentro de nós mesmos e que gostaríamos de tornar público. Esse apetite pelo autoconhecimento e o desejo de querer aprofundar quem somos e o que queremos dizer aos outros, isso leva os artistas a se conectar com eles mesmos para evoluírem no seu trabalho. Todos eles vivem apenas para essa metamorfose artística.

E para você, o que é arte?

– Arte é o que me faz viver intensamente! A arte é tudo que tenho para explorar.

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