Robert Polidori

28 de abril de 2017

O fotógrafo canadense Robert Polidori não se interessa em registrar conflitos, como fazem os fotojornalistas, e sim as marcas deixadas por desastres da história recente. A maior parte de suas imagens exibe ambientes vazios, revirados ou parcialmente destruídos, que foram abandonados depois de um choque violento. Ele retrata também as consequências da pobreza, moradias e paisagens urbanas em diferentes partes do globo.

A editora alemã Steidl publicou um belo compêndio de obras escolhidas em seu livro “Chronophagia” com alguns dos principais ensaios do fotógrafo. Beirute devastada pela guerra civil que atingiu o Líbano entre 1975 e 1990; a deterioração da suntuosa arquitetura de Havana; as cidades ucranianas de Chernobyl e Pripyat, fotografadas 15 anos após o acidente nuclear que as atingiu em 1986; Nova Orleans destruída pelo furacão Katrina, em 2005; além de cenários urbanos de Alexandria, no Egito, Varanasi, na Índia, e Amã, na Jordânia. Há também exemplos de um de seus primeiros ensaios, realizado em Nova York, em 1985, que registra interiores de apartamentos depredados. Foram danos causados por um tipo de vandalismo que então se tornava comum no Lower East Side: grupos de adolescentes invadiam e quebravam aposentos vazios de idosos que haviam acabado de morrer. 

Em imagens de grandes dimensões, Robert Polidori nos mostra como o mundo devastado pode ser belo, sem, no entanto, deixar de causar um profundo mal-estar. Sua visão crítica da sociedade atual dificulta julgamentos históricos baseados em ideologias políticas, pois, em seu trabalho, diferentes tragédias ganham feições semelhantes: as ruínas de Beirute se parecem com as de Havana, as de Chernobyl com as de Nova Orleans.

Polidori conta que seu trabalho ganhou força na década de 1980, quando optou pelo uso de câmeras de grande formato, com filmes de até 20 x 25 cm, capazes de captar uma grande quantidade de informações visuais. Com esse recurso, aliado ao emprego da perspectiva renascentista e ao uso cuidadoso da luz natural, é capaz de gravar uma impressionante riqueza de detalhes. Ao afirmar o vínculo da fotografia com as aparências do mundo, sua obra caminha numa direção oposta às vertentes contemporâneas, que investem na distorção de formas, na encenação ou na criação de imagens artificiais a partir de tecnologias digitais. No vasto e diversificado cenário da produção fotográfica atual, Polidori se alinha aos artistas que insistem em borrar as fronteiras entre a arte e a documentação, demonstrando que a discussão, em pauta desde a invenção da fotografia no século XIX, está longe de ser esgotada.

TEXTO – Heloisa Espada

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