Claude Iverné

1 de junho de 2017

Grande vencedor em 2015 do prêmio HCB da Fundação Henri Cartier-Bresson com uma série de imagens sobre o Sudão, intitulada “Fotografias sudanesas, rio das gazelas”, o fotógrafo francês Claude Iverné volta ao seu assunto preferido, o Sudão, na exposição “Bilad es Sudan”, em tradução literal, o país dos negros. A mostra, que fica em cartaz na Fundação Henri Cartier-Bresson, em Paris, até 30 de julho, conta com uma centena de fotografias, documentos, objetos e vídeos, faz jus ao estilo fotográfico singular de Iverné que se orienta de forma natural em torno de imagens atemporais, registradas invariavelmente em preto e branco. “Contrariamente às imagens de ilustração da atualidade, que devem captar a todo preço a atenção dos leitores, mas que dão pouca informação real e raramente provocam reflexão, minhas fotografias parecem um longo texto”, entrega o fotógrafo. “Minhas fotos demandam um tempo para a leitura de detalhes e ritmos, nada é gratuito nas imagens que capto.”

De fato, as imagens em preto e branco de Claude Iverné são cheias de simbolismo, onde nada é o que parece ser, como o fotógrafo ressaltou “é preciso que o observador dessas imagens faça um exercício deliberado para visualizar a mensagem do que fotografei.”. Como justificativa do porquê a maior parte da sua obra é em preto e branco, Iverné afirma que a cor perturba, o preto e o branco lhe permite ir direto ao ponto. “Utilizo a cor apenas quando ela é indispensável à descrição ou quando ela agrega uma compreensão. A perda de informação do branco e do preto em relação à realidade, em cores, é relativizada pelo uso de filmes de grande formato. Essa técnica restitui os materiais e aproxima a imagem de uma visão realista”, explica.

Para captar a alma dessa região, o fotógrafo francês frequentou durante mais de 10 anos essas caravanas, organizando expedições e misturando-se aos cameleiros nubianos à procura dos vestígios da antiga Rota dos Quarenta dias, que começa em Darfur e vai até a parte egípcia do Sudão. Vivendo como um simples cameleiro da caravana, Iverné participava de todas as atividades da tropa, fazia os turnos de vigília, cozinhava, sempre acompanhado de sua máquina fotográfica, um notebook e alguns blocos de anotações. “Mas eu dormia menos que eles”, confessa o fotógrafo-aventureiro que fala fluentemente árabe e alguns dialetos da região.

A Rota dos Quarenta Dias e suas explorações levaram o fotógrafo às regiões de Darfour, Kordofan e aos montes Nouba, sempre lentamente, no ritmo dos nômades e dos camponeses, em lombo de cavalos, dromedários, em caminhão ou a pé. “No Sudão, sobretudo, em Darfour, muitas pessoas jamais tinham visto um homem branco antes da minha chegada. O território sudanês é descrito apenas por alguns antigos viajantes até o ano de 1900. Pouco depois da Independência, em 1956, as únicas descrições que chegavam até nós, eram essencialmente transmitidas pelos mass-medias onde víamos, sobretudo, imagens das guerras locais”, lamenta esse desbravador que viveu nessa região onde quase ninguém vai.

IMAGEM © Claude Iverné – Elnour

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