Jérôme Blanquet
Vencedor do Audi Talents Awards 2016 na categoria “Curta-metragem” com o onírico Altération (literalmente “Alteração”), Jérôme Blanquet inventa personagens invisíveis desde a sua infância. Ainda adolescente o jovem cineasta se entregou à fotografia e à pintura como suporte de representação da realidade antes de ser seduzido definitivamente pelo cinema. “Na época, vários filmes me impactaram, entre eles os de Andrzej Zulawski especialmente L’amour Braque, pela sua representação de uma espécie de loucura ou ainda uma serie noire de Alain Corneau com Patrick Dewaere. Foi assim que me encontrei profissionalmante, trabalhando na montagem e realização de filmes”, relembra Blanquet. “Ao mesmo tempo, com meu irmão Jean-François Blanquet elaboramos algumas performances, ele como responsável pelo som e eu com a imagem.”
Da História da arte a diretor de curta-metragem, Jérôme Blanquet se especializou na imagem e participou de vários projetos, entre os quais, Electronic Performers um clip de curta-metragem co-realizado pelo grupo francês Air, que é uma tentativa de representação da teoria das cordas. Em seguida Jérôme Blanquet criou para a rede televisiva franco-alemã Arte, Accouchement Sonique, um curta-metragem sobre o estado de coma. Em Parallaxe, o roteiro trata de uma pessoa cega que recupera a visão e em Altération, um dos últimos projetos visuais de Blanquet, o cineasta aborda o estado dos sonhos. “Sempre quis representar o invisível e tudo o que se encontra fora do nosso inconsciente, como uma experiência sensorial…” Para falar dos seus estados imaginários e da importância da imagem em sua carreira, convidamos o cineasta para participar de um exercício de estilo elaborado por Correspondance Magazine® onde, através de 10 palavras-chaves, nosso entrevistado tenta explicar seus múltiplos talentos criativos para além das imagens.
CRIATIVIDADE – é uma atitude, um estado de espírito que consiste em nos desviar do que nos cerca. Poderia ilustra-la como um reboque, um estado de suspensão, que nos libera do controle e nos envolve na imaginação, como uma liberação dos códigos sociais que nos impedem de avançar. Criatividade, para mim, é sobretudo, sinônimo de espontaneidade.
CRIAÇÃO – é um ato que se concretiza, que materializa algo, uma abstração, uma sensação, uma emoção… um parto, em suma. Para ir além, como dizia o filósofo Deleuze “a criação é um ato político, um ato de resistência…”
DESAFIO – são essenciais, são os únicos que me fazem avançar e me motivam. Esses desafios que desestabilizam, que lançam dúvidas e que nos impelem a afrontar nossas limitações e supera-las para encontrar novas soluções. Os desafios são como indicações que nos mantem no bom caminho e nos fazem atingir picos inacessíveis.
FUTURO – tento viver no presente mesmo que isso seja difícil. O futuro, assim como o passado, é um fardo pesado no presente se nos apegamos à nostalgia, aos remorsos do dia de ontem e a apreensão angustiante do dia de amanhã. Tenho me esforçado para trabalhar com a ideia que o dia de hoje seja um futuro completamente presente, aqui e agora.
INSPIRAÇÃO – muitos artistas me inspiram e me influenciam. Na verdade, tudo em torno de mim é parte desse processo. Inspiração é como o ar que respiramos.
CONCEPÇÃO – é o resultado da criação. Algo entre reflexão, espontaneidade, entrega absoluta, é a síntese das ideias, um verdadeiro layout de luz.
HOBBY – sou curioso sobre quase tudo, adoro assistir filmes, séries, jogar e ouvir música, ficar perdido na web. Além disso, tenho duas crianças de 3 anos de idade e gosto particularmente da Arte Bruta e estatuetas.
SONHO – é um tema recorrente no meu trabalho, como a memória, as lembranças, mas também todos os estados secundários e de consciência alterada: alucinação, trance, coma, loucura, o que chamo de estados interiores. O sonho é também um dos principais temas do curta-metragem Altération (literalmente “Alteração”), vencedor do Audi Talents Awards, que é uma imersão na realidade virtual nos sonhos de um homem, onde fiz a ligação entre os sonhos e o poder envolvente da realidade virtual. Na verdade, os sonhos que temos quando dormimos são como filmes de realidade virtual onde o diretor e roteirista são nosso inconsciente! Nosso cérebro é persuadido a roubar ou movimento enquanto o corpo está parado e nós, literalmente, mergulhamos em um outro mundo porque o nosso cérebro está convencido disso. A realidade virtual funciona da mesma maneira e tem esse poder de autossugestão sobre o cérebro.
IMAGEM – é uma tentativa de representação do que nos rodeia ou que é indizível fazendo jus ao ditado que “Uma imagem vale mais que mil palavras”. A imagem tem um lugar essencial em minha carreira e é com ela que desenvolvo meus projetos.
REALIDADE – o que chamo de “realidade objetiva” é o que nos rodeia. O desafio é representar uma realidade possível, o que parece natural para nós, por isso gostaria de falar novamente da realidade virtual. Desde a história da representação das mãos pintadas nas cavernas, das representações planas às perspectivas da Renascença, passando pela fotografia, pelo cinema, pela televisão, o relevo é sempre em quadros, com a realidade virtual a pessoa está em uma representação esférica ou numa imersão. Isso é o que existe de mais próximo da realidade objetiva e para que a imersão seja consistente, o relevo deve ser ainda maior. Todavia, o relevo existente na realidade virtual não é um relevo de projeções, é uma profundidade e fortalece a presença porque ele está em uma esfera que nos aproxima do que percebemos, aumentando as sensações.
Galerie Audi talents
23 rue du Roi-de-Sicile,
75004 Paris
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