Arquitetando no escuro

16 de junho de 2020

O livro bilingue inglês-francês, “Noir: Architecture Monochrome”, publicado pela editora Phaidon, que foi lançado recentemente em formato mini, explora uma variedade de construções pintadas de preto, que se assemelham a uma sombra na paisagem, tanto das cidades como dos campos. Os atributos fundamentalmente práticos da cor preta tem foco desde os primeiros exemplos até os mais recentes, onde os arquitetos adotaram tecnologias que potencializam suas criações monicromáticas em alcatrão preto, como  revestimento protetor e decorativo. Na Escandinávia da Era Viking, nas fazendas cobertas de grama que definiam a Islândia, o alcatrão preto como um componente importante da construção não é exclusivo dessa parte do mundo, nem da história distante. Muitos edifícios notavelmente modernos fazem uso de alcatrões, que resistem às intempéries, repelem insetos e dão consistência à cor, sobretudo, se esta for preta. Da mesma forma, a técnica japonesa de carbonizar madeira para preservar contra os elementos, Shou Sugi Ban, está em uso contínuo há séculos. O preto carbonizado possui funcionalidade além de estilo.

Na ótica, o preto absorve todas as cores e também é considerado um símbolo de elegância e luxo. É uma cor versátil, com um toque moderno, sofisticado e atemporal. E é por essas razões que o preto é usado por arquitetos de renome, dentre os quais, Mies van der Rohe, Philip Johnson, David Adjaye, Jean Nouvel, Peter Marino, Steven Holl, porque é uma cor que se destaca por sua simplicidade e que não expressa uma forte sensação à primeira vista. Essa arquitetura monocromática tem uma longa história e um alcance global. Assim como na história da arte, linguagem, ciência ou pensamento, a presença dessa cor na arquitetura é protéica, atraindo os designers e arquitetos por razões práticas, históricas, metafóricas ou formais – todas as quais nos evocam questões como usuários e espectadores de seus edifícios.

Uma fachada preta pode funcionar de maneira legível como um sinal não-verbal para servir à segurança pública, como nas casas dos canais holandeses originalmente pintadas na cor preta para comunicar que um morador tinha peste. As fontes de inspiração que os arquitetos adotam, rejeitam e, de alguma forma, remodelam para seus próprios projetos de construções contemporâneas nos fornecem um ponto de vista estimulante. Existem muitos exemplos mostrando o novo uso de técnicas históricas, como a madeira carbonizada de Shou Sugi Ban, o uso criativo e inesperado de alcatrão, lava talhada, tijolos decorativos, às vezes em padrões evocativos de fontes históricas, as novas pátinas do preto na madeira inspiradas na escuridão dos tempos e outros materiais tradicionais agora totalmente estilizados. A cor preta, que no passado era uma ferramenta de alerta, acabou se tornando uma questão de gosto estético embuída de simbolismo moderno.

EDIÇÃO DE TEXTO – Marilane Borges

IMAGEM – Cortesia da editora Phaidon para o livro “Noir: Architecture en Monochrome” © Todos os direitos reservados

PROJETO: Búðakirkja Church, Búðir, Iceland, 1848, Anonymous. IMAGEM: Della Huff 

PROJETO : House at Camusdarach Sands, Stormness, Scotland, UK, 2013, Raw Architecture. IMAGEM: Raw Architecture Workshop 

PROJETO: Black Desert, Yucca Valley, California, USA, 2014, Oller & Pejic. IMAGEM : Oller & Pejic Architecture/Marc Angeles

PROJETO: Museum of Contemporary Art Cleveland, Cleveland, Ohio, USA, 2012, Farshid Moussavi. IMAGEM: Dean Kaufman

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