Coleção modernista

27 de outubro de 2021

Aficcionado pelo design francês das décadas de 1960 e 1970, o colecionador Daniel Lebard vai colocar à venda num leilão da Christie’s Paris mais de 300 lotes de sua coleção privada fruto de quarenta anos de paixão e dedicação a essa temática. O evento, que acontece no próximo 3 de novembro, tem uma estimativa global de vendas entre 13 e 19 milhões de euros.

Lebard iniciou essa coleção de um período marcado por um borbulhar criativo e inventivo muito forte, que refletia uma sociedade em plena mudança: da urgência da reconstrução ao advento do consumo de massa, que Raymond Loewy, sem dúvida o maior designer francês do século 20, havia entendido perfeitamente.

Neste período em que tudo se acelerava, as grandes figuras da arquitetura e do design foram os pioneiros do entreguerras, como Jean Prouvé e Le Corbusier, que “inventaram” a profissão de designer, preocupados em acompanhar o progresso técnico e em produzir peças em série. Estas figuras tutelares foram sucedidas por uma talentosa geração de jovens, muitos dos quais nasceram entre 1925 e 1930 e procederam das artes decorativas.

Os mais de 300 lotes desta coleção, que manteve-se privada durante anos, representam a história desse mercado específico na década de 1950, e oferece ao público uma perspectiva singular sobre a evolução do design do século XX: mais precisamente, do nascimento do “Mouvement Moderne” nos anos 20 e 30 aos anos 50 franceses, que constituem o seu núcleo. A descoberta da obra de Jean Prouvé, sua profunda admiração pelo homem, seu trabalho, seu compromisso político e social serão a base para as escolhas futuras de Daniel Lebard e naturalmente o apresentarão ao trabalho de outras grandes personalidades da U.A.M (Union of Modern Artists) : Pierre Chareau, Charlotte Perriand, Pierre Jeanneret, Le Corbusier.

Juntamente com Jean Prouvé e Le Corbusier devem ser adicionados Charlotte Perriand e Marcel Gascoin, que já tinham uma carreira profissional e um know-how consolidado. É por isso que os tomadores de decisões políticas os conclamaram para reconstruir o país após a Segunda Guerra Mundial. Esse criativos carregam o ideal de um ambiente de vida moderno para um homem moderno, seja em termos de arquitetura, design ou urbanismo. Segundo Jean Prouvé, quem consegue construir um edifício deve ser capaz de criar um móvel. Sua abordagem era a de um estilo de vida global.

Aos poucos, Daniel Lebard vai agregar às criações dessas figuras tutelares as de outros criadores emblemáticos da época, como Jean Royère, Serge Mouille, Mathieu Matégot ou Georges Jouve, abrindo-se também para os designers de referência das décadas seguintes: Pierre Paulin , Roger Tallon, Atelier A, André Borderie… todos ilustram o melhor dos anos 60 e 70.

Esse leilão da Christie’s Paris corrobora, de uma certa maneira, a visão de Daniel Lebard sobre a construção de seu acervo como um instrumento de reflexão, questionamento e compreensão de uma época, sua política, sua sociedade e sua potência histórica. Lebard com sua paixão e  erudição por essas verdadeiras obras de arte dos mestres franceses, acumulou uma seleção espetacular dos ícones modernistas do design francês, que vai se perpetuar por gerações e gerações através dos seus novos proprietários.

EDIÇÃO DE TEXTO – Marilane Borges

IMAGEM – Cortesia da Christie’s Paris © Todos os direitos reservados

 

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