Marc Newson
Relógio mítico, pensado para ser um objeto atemporal, “Atmos 568” é a essência do trabalho artesanal tão caro à maison Jaeger-LeCoultre. Esculpido pelas mãos hábeis de Marc Newson que empregou toda a sua criatividade para interferir de forma sutil no desenho do “Atmos 568” sem, contudo, modificar essa peça excepcional. O designer escolheu o cristal Baccarat para esculpir seu formato de cubo arredondado, colocando em evidência o mecanismo vanguardista desse relógio que pode ser admirado como uma verdadeira obra de arte. Da parceria entre Marc Newson e Jaeger-LeCoultre pode-se afirmar que design, artesanato e tradição se encontraram para moldar uma interpretação única desse ícone da relojoaria. Para entender o fascínio que o novo “Atmos 568” exerce sobre o exerce sobre os amantes da relojoaria, Correspondance Magazine® foi desvendar a origem desse objeto e conversou com Marc Newson, um dos designers mais reputados da sua geração e que, apesar de todo o seu talento, consegue incorporar na sua vida cotidiana os mesmos elementos que imaginou para o “Atmos 568”, ou seja, simplicidade, minimalismo e precisão.
Você colaborou pela primeira vez com a Jaeger-LeCoultre em 2008, quando projetou o “Atmos 561”. Conte-nos um pouco sobre essa parceria.
– Fiquei encantado com a proposta de criar um “Atmos”, porque é uma parte da relojoaria que gosto muito, desde a primeira vez que a vi ainda na minha adolescência. Trabalhar como designer para a Jaeger-LeCoultre, que sempre respeitei e, sobretudo, projetando um objeto como o “Atmos”, foi para mim uma experiência extremamente enriquecedora.
O que você quis expressar de especial com este novo design? Em que aspectos esse modelo é diferente do precedente?
– Objetos bem concebidos sempre resistem ao teste do tempo, eles envelhecem bem e tem um senso de qualidade e atemporalidade. Este ainda é o caso hoje em dia, particularmente num momento em que tudo parece ser descartável. Objetos como “Atmos” não são descartáveis, mas valiosos, eles despertam emoções em seus proprietários, são realmente parte de suas vidas. Os produtos fabricados pela Jaeger-LeCoultre atravessam facilmente o tempo e criam um valor e uma história que vai ser valorizado por gerações vindouras. O novo “Atmos” é um produto que almejei moderno incorporando os valores da Jaeger-LeCoultre. É muito importante para mim respeitar e integrar o DNA da marca com a qual trabalho, e isso deve ser sentido no design. Não se trata de reinventar a roda mas de respeitar os códigos da marca. Tive que aspirar a um novo personagem para o “Atmos” para torná-lo diferente e atrair um novo público.
Como você descreveria o processo criativo que seguiu para criar o novo design do Atmos?
– Para este novo “Atmos”, a maior parte das peças visíveis foram redesenhadas: as agulhas, os mostradores, as dimensões, a caixa, o balancier, a base e a estrutura do movimento, bem como a sua interface com o vidro. Esse modelo dispõe de três pés (como o modelo 566), o que dá uma postura sólida e estável para o “Atmos”, enquanto apoia sua fachada, totalmente removível, o que permite ajustar a movimento. A forma e a legibilidade são possíveis graças a caixa transparente que acentua e destaca o movimento. O resultado final é um objecto intrigante, quase mágico, que lembra em alguns aspectos, um navio em uma garrafa.
Por que utilizar o cristal?
– Porque é um material bonito e nobre.
Que aspectos do relógio “Atmos” fez você querer oferecer-lhe um novo design?
– Para mim, o “Atmos” é um objeto complexo e mágico, que parece estar em movimento perpétuo e que exige um ambiente estável para funcionar. Parece vivo – há uma sensação de que o pêndulo sente a sua presença – o que acho estranhamente reconfortante. O “Atmos” é um completo anacronismo e é isso que me agrada: é tão moderno hoje como sempre foi, e ninguém foi capaz de melhorar ou alterar as suas características técnicas. Gosto da maneira como uma empresa como Jaeger-LeCoultre continua a colocar em evidência tal objeto.
Em comparação com outros objetos, qual é a peculiaridade de desenhar um relógio?
– Quando trabalho, minha abordagem sobre o design é sempre a mesma. Considero cada projeto como um problema matemático, um quebra-cabeça que tem que ser resolvido com imaginação, compreensão e inovação. É o mesmo para cada objeto que desenho, seja um carro, uma cadeira ou um relógio. Em termos de design, me esforço para criar objetos com os quais você pode criar um link permanente para a vida inteira e você nunca mais vai querer substitui-lo. Itens que serão reparados e que continuarão a funcionar, mantendo-se moderno e clássico ao mesmo tempo. O “Atmos” resume perfeitamente essa filosofia. Enquanto se tornou quase banal considerar objetos digitais como descartáveis, o “Atmos” é a antítese perfeita, ele é sustentável do ponto de vista filosófico e nunca vai acabar em um aterro sanitário.
Qual foi o seu maior desafio?
– Estava muito confiante com essa oportunidade que me ofereceram porque conheço muito bem o “Atmos” mas, ao mesmo tempo, me perguntava, como poderia me exprimir através desse objeto? Esse foi o meu grande desafio. O movimento já existia e os mecanismos básicos não poderiam ser modificados. Apesar do cuidado tomado na concepção das peças internas, a verdadeira surpresa, sem dúvida, está na caixa de cristal Baccarat e sua forma cúbica arredondada. Sua fabricação se tornou extremamente complexa e solicitou muito trabalho e desenvolvimento para aperfeiçoar sua forma.
O que o “design” significa para você?
– Você reconhece um bom design ao vê-lo. Isso diz respeito a criar objetos que não envelhecem, objetos que resolvem problemas graças à inteligência e à compreensão além da exploração de materiais e de ciência. Um bom designer sabe quando parar.
Como você descreveria seu relacionamento com o tempo?
– Evidentemente nunca tenho o suficiente… Mas a passagem e a medição do tempo sempre me fascinaram. Um relógio é um objeto mágico: ele contém todo o universo em sua caixa.
Para você, qual é o melhor momento para criar?
– Acho que crio o tempo inteiro – na minha cabeça – e nunca me desconecto realmente. Levo meu caderno para onde quer que eu vá. A maior parte do meu tempo produtivo é definitivamente quando estou num ambiente silencioso, onde ninguém pode entrar em contato comigo. A 12 km de altitude em um avião é geralmente meu lugar ideal para trabalhar.
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