“Rue de Varenne”

24 de março de 2022

Uma fotógrafa e uma designer foi o declique inicial para a montagem dessa exposição, batizada simbolicamente Rue de Varenne, apresentada ao público até 28 de março no 40, rue de Varenne, Paris 07. Correspondance Magazine® conversou com Morgane Le Gall & Hélène Nepomiatzin para entender como nasceu a ideia de unir dois médiuns diferentes em prol de uma exposição com mensagens subliminares em cada ângulo. Esta instalação dispõe de um conjunto formado por gravuras e peças em séries limitadas e numeradas.

Conhecida pelo seu trabalho fotográfico em torno do objeto, Morgane Le Gall expõe uma série de imagens tiradas em uma das salas do Palácio de Versalhes. Essas imagens são provenientes de uma encomenda fotográfica do jornal “Les carnets de Versailles” e estão sendo reveladas pela primeira vez nessa exposição.

Nascida em Brest, Morgane é formada pela Escola Nacional de Artes Decorativas de Paris. Graças às suas múltiplas colaborações com designers como Ronan & Erwan Bouroullec, Normal Studios, Lelièvre e Sammode, em particular, ela desenvolveu um trabalho fotográfico para transcrever a especificidade de um objeto ou a beleza de um lugar. Suas imagens são frequentemente publicadas em catálogos ou livros e esta exposição é uma oportunidade para mostrar o seu trabalho de uma forma diferente. Ela é representada pela agência Renate Gallois Montbrun.

Hélène Nepomiatzin, parisiense, estudou no Studio Berçot e construiu sua carreira criando acessórios para o mundo do luxo e da moda para marcas como Hermès, Céline e Karl Lagerfeld. Hábil e criativa, ela desenhou acessórios caprichosos para sua marca “31 de fevereiro”, graças ao qual ganhou o ANDAM Fashion Awards alguns de seus modelos estão nas coleções do Museu das Artes Decorativas. Atualmente ela está desenvolvendo um novo universo em torno de objetos de estilo de vida.

Nossos leitores adorariam conhecer a história desse projeto “Rue de Varenne”, como ele surgiu e em que circunstâncias ele foi imaginado?

Morgane Le Gall – A origem deste projeto surgiu durante uma conversa com Hélène, que me contou sobre seu desejo de expor suas novas criações. No que me diz respeito, já tinha um tempo que queria sair dos canais clássicos onde minhas imagens costumam ser exibidas. Foi então de modo espontâneo que imaginamos misturar nossos dois mundos para montar uma exposição.

Hélène Népomiatzi – A ideia para esta exposição nasceu de forma espontânea. É a reunião harmoniosa de nossos dois universos criativos e Morgane Le Gall tinha produzido muitas séries fotográficas sobre as minhas criações.

Vocês já se conheciam antes de desenvolver a ideia de montar esta exposição? Quando e como seus caminhos pessoais e profissionais se cruzaram?

Morgane Le Gall – Sim, Hélène é uma amiga, nos conhecemos há 6 anos. Eu a encontrei durante uma seção fotográfica da revista Faux Q para uma série especial sobre acessórios e ela apareceu com a bolsa de fósforos e a bolsa de porco do mealheiro. Achei os objetos muito divertidos e muito bem produzidos. Quando Hélène passou no estúdio depois do shooting para recuperar seus objetos, a ‘corrente’ passou muito bem entre nós. Mais tarde, descobri todas as facetas do seu trabalho. Gosto muito da sua fantasia e do seu universo, sempre à serviço da tradição artesanal.

Hélène Népomiatzi – Há 6 anos, Morgane estava fazendo uma série de fotos para a revista Faux Q, quando entrei em contato com ela e visitei seu estúdio fotográfico. Adorei suas fotos e sua personalidade, a partir desse encontro  nossa amizade se instalou e se desenvolveu também através de colaborações com outros projetos fotográficos.

Quais são os maiores desafios e benefícios de gerenciar um projeto de duas pessoas em mídias diferentes?

Morgane Le Gall – Tentamos fazer desta diferença de médiuns um trunfo. Com efeito, os objetos de Hélène já estavam em andamento e era preciso partir desse ponto. Procurei uma série de fotos que pudessem acompanhar suas criações e ofereci para ela esta série feita para os cadernos de Versalhes. As cores e as molduras inspiraram Hélène sobre a escolha do couro para seus objetos. Uma troca formal e colorida entre nossos dois universos foi montada e a exposição é o resultado desse intercâmbio.

Hélène Népomiatzi – Para mim foi uma parceria muito positiva porque a troca nutre e enriquece a criatividade. A série de fotos de Morgane já estava completa e do meu lado eu já tinha criado os objetos. Busquei inspiração nas suas fotografias para explorar minha gama de cores e texturas, entre ouros, o couro liso ou a camurça que ecoam nos detalhes de suas fotos. Brinquei com a geometria e com as misturas de cores que nos lembram o enquadramento de sua série de imagens.

De acordo com vocês, quais os valores que caracterizam a exposição “Rue de Varenne”?

Morgane Le Gall – A originalidade da abordagem é o que caracteriza a essência da exposição “Rue de Varenne”. Onde nos inspiramos da criatividade da outra para enriquecer o nosso próprio trabalho, a fim que a instalação final fosse a mais justa e sincera possível. A confiança mútua foi um fator primordial ao longo desse processo.

Hélène Népomiatzi – O diálogo entre as fotos e os objetos, assim como os diálogos entre nós duas. O paralelo entre o trabalho, os detalhes dos objetos e as fotos. As imagens são como o reflexo num espelho, o jogo de cores que passa de um fotografia a um objeto e vice-versa…

Podemos esperar o lançamento de uma nova colaboração ou projetos solo num futuro próximo?

Morgane Le Gall – Um projeto à quatro mãos como “Rue de Varenne” é enriquecedor e emocionante. No futuro, será interessante repetir a experiência. No que diz respeito ao projeto solo, gostaria de integrar o stop motion mais naturalmente no meu trabalho e, desta forma, me reconectar com a foto-montagem que já pratiquei.

Hélène Népomiatzi – A emulação desta exposição criou novos desejos e projetos mas, no momento, estou vivendo no presente.

Se vocês pudessem escolher um assunto para fotografar, criar em que ou com quem vocês gostariam de trabalhar?

Morgane Le Gall – Gostaria de continuar este trabalho de coletar imagens em torno de lugares antigos, grandes ou pequenos, pertencentes ao patrimônio ou não. Através do enquadramento e da luz, gostaria que esses espaços fossem percebidos com uma leitura contemporânea.

Hélène Népomiatzi – Um dos meus objetivos é colocar em destaque o know-how dos artesãos com os quais colaboro, empreendendo esse diálogo tão enriquecedor que existe entre nós e que permite concretizar ideias…

TEXTO – Marilane Borges

IMAGEM – Cortesia Morgane Le Gall & Hélène Nepomiatzin © Todos os direitos reservados

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