Sobre morar com estilo

28 de novembro de 2018

Vestida com denim escuro e uma camiseta preta, seus sapatos Manolo estalando em um piso de vidro que era uma vez vários metros de concreto, a designer de joias Kim Dunham passa por uma escada independente e faz uma pausa na área de jantar, onde uma pintura de Richard Serra serve como pano de fundo. Essa massa concerto preto que apoia a tela se harmoniza com o resto da mobília do quarto – cadeiras esqueléticas Gio Ponti, uma mesa Saarinen preta, armários italianos elegantes – e dialoga com o senso inerente da elegância que emana do apartamento. A área de estar no andar de cima se abre para o terraço e é onde ocorre a maior parte do entretenimento interno da casa. Um tapete gigante ancora os móveis em cromo, couro e vidro, enquanto a arte é deixada, quase relaxadamente, encostada em uma parede com acabamento parecido com concreto. Mas as coisas nem sempre foram assim.

Quatro anos atrás, o duplex era composto de dois apartamentos separados. Kim e o marido viviam na unidade do andar de baixo enquanto um vizinho ocupava o andar superior – aquele com o terraço envolvente e a vista para o rio Hudson. Kim admite que há muito fantasiou em comprar seu lugar e combiná-lo com o deles; o casal até mesmo insinuou a ideia com o vizinho algumas vezes, mas este sempre sustentou que ele nunca venderia o seu apartamento. Então, uma noite, enquanto estava à procura de um espaço maior em outro prédio, Kim teve um sonho: “Fui dormir e tive uma visão de que ele iria vender”, relembra ela. No dia seguinte, o vizinho enviou um e-mail para perguntar se ainda estavam interessados. “Nós compramos em menos de um mês”, Kim conta sorridente.

Transformar dois espaços separados na casa que eles sempre imaginaram levou ainda mais tempo e paciência. “Nós mudamos para a parte maior”, diz Kim, que contratou a ZH Architects para realizar a tarefa. “Até o porteiro teve que sair no dia em que os pedreiros começaram a martelar o concreto, tamanho era o barulho…”

E o piso de vidro? Chegou em um dia gelado de janeiro; as autorizações foram garantidas para bloquear uma rua onde um guindaste estava estacionado e pronto para levantar as peças. A última coisa a chegar eram as posrtas envidraçadas… e estavam erradas. “Tivemos que retorná-las”, afirma Kim, balançando a cabeça, lembrando da novela, mas ela acredita que valeu a pena. A paciência e a determinação do casal valeram a pena, provando que há momentos em que suor e lágrimas são apenas parte do processo.

As cadeiras Gio Ponti cercam uma mesa de jantar Saarinen na cozinha cheia de estilo. Esse era um dos sonhos de Kim, que sempre quis uma cozinha toda preta, e agora usa o espaço diariamente para preparar pratos veganos inspirados nos seus destinos favoritos. O exaustor de fogão espelhado adiciona outra camada de profundidade ao ambiente.

Kim abordou o design do apartamento com o mesmo conceito com o qual suas coleções de joias são elaboradas, sobretudo, pelos seus anéis de ouro personalizados gravados, cada um feito como resultado da correspondência pessoal com o destinatário. “São verdadeiras narrativas pessoais”, atesta a designer sobre suas criações. “Não é como se alguém escolhesse algum símbolo aleatório, minhas peças contam uma narrativa – quem é você? qual é a sua história?” O processo de pesquisa para cada peça é extenso, e o produto final é o que Kim chama de “talismã”, onde a jia combina a história pessoal de quem a usa com o momento presente.

“Meu apartamento é muito parecido com as minhas joias e eu queria algo moderno, mas com alma”, diz Kim. Essa dicotomia é ilustrada várias vezes em todo o espaço: paredes de gesso veneziano ficam ao lado de uma balaustrada de vidro, um tagine marroquino prepara a elegante cozinha italiana e os discos de uma loja são tocados com mais frequência do que qualquer lista da plataforma Spotify.

Não é que Kim não seja influenciada pelas tendências mas o que é mais evidente em seu apartamento é a maneira como ela considera a arte em cada espaço. E é com essa autoridade que ela aconselha: “Não tente coletar coisas de que você não gosta. Coleções acontecem organicamente, e não há razão para você ter que forçá-la.” Quando ela percebeu que a maioria das peças para as quais se sentia atraída estavam em tons de preto, branco e cinza, ela decidiu se entregar a essa evidência e usar a descoberta para aprimorar seu olhar em torno dessa paleta.

Juntos, ela e o marido acumularam uma representativa e eclética coleção de arte. “Aconteceu devagar, mas agora temos várias peças que amamos.” Uma escultura comprada num leilão destinava-se a ser usada como escada, mas era pesada demais para se mover. A coleção de discos, muitos escolhidos ao longo das viagens do casal, é uma coisa valiosa. “Meu marido e eu somos amantes de música”, conta Kim. “Eu cresci em uma casa com R & B, disco, jazz e funk, e ele cresceu em uma casa onde eles só podiam ouvir música clássica. Fui eu que, definitivamente, o apresentei algumas coisas novas.”

Ter um terraço na cobertura é uma característica rara no mercado imobiliário de Nova York e, tanto Kim quanto o marido, estavam dispostos a torná-lo uma extensão utilizável do apartamento. Uma variedade de  bétulas e outras folhagens cercam o perímetro, fazendo com que o espaço pareça um jardim secreto no céu. “Queríamos que houvesse diferentes zonas”, observa Kim. Uma churrasqueira e uma mesa de jantar de cimento – “são tão pesadas que terão de ser vendidas com a casa” -, em uma das extremidades, enquanto em frente, um canto particular do quarto principal serve como um ponto para o café da manhã. No meio, uma pérgula com assentos embutidos e um trio de chaises é um dos lugares ideal para passar um dia ensolarado de verão ou para apreciar o pôr do sol descendo sobre a cidade. “Temos muita sorte em ter esse espaço”, diz Kim. “O fato de estar sentada aqui ou apenas olhando para o jardim ou enquanto estou na cozinha preparando algo ou cozinhando, é uma das coisas que me empurra para um estado meditativo.”

TRADUÇÃO & EDIÇÃO DE TEXTO – Marilane Borges

REPORTAGEM – David Bazner

IMAGEM © Tony Vu

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