Viva Chile!

27 de maio de 2019

“Após seis meses de trabalho, as obras são surpreendentes e raras, com uma personalidade forte, caracterizando a criação dos artesãos chilenos e privilegiando uma narrativa contemporânea com forte apego ao território”, discursa Mauricio Clavero Kozlowski durante a Bienal Révélations, evento que acolheu no Grand Palais, em Paris, entre os dias 23 à 26 de maio. Nesta 4ª edição a Bienal de Artesanato e Criação Internacional, articulada pelos Ateliers d’Art de France, contou com 33 países e mais de 500 designers, artistas, artesãos, galerias, além de pintores, escultores, ceramistas, fundações e instituições de arte, que apresentaram a excelência do seu artesanato em criações singulares.

Neste ano, Mauricio Clavero Kozlowski é o Comissário do Pavilhão do Chile, nomeado pelo Ministério da Cultura do seu país, Correspondance Magazine® conversou com o designer de origem chilena, residente e domiciliado em Paris há 18 anos, Clavero é multidisciplinar e desenvolve várias atividades ligadas ao design de produtos e ao design de interiores, além da fotografia e nos últimos dez anos colaborou como Diretor Criativo com várias manufaturas francesas de luxo no domínio da arte de viver. Graças a essa bagagem cultural, ele criou seu próprio estúdio – mauricioclavero.com – para estabelecer sua marca criativa em projetos diversificados e expandir seu potencial expressando sua visão de mundo em áreas diferentes.

Conte-nos um pouco sobre essa experiência de se tornar o Curador do Pavilhão do Chile durante a Bienal Révélations?

– Em primeiro lugar, é uma honra para mim ter sido nomeado pelo Ministério da Cultura do Chile como responsável por criar, imaginar, estruturar e definir de que maneira a criação e o artesanato chileno deveriam ser mostrados ao mundo. Ser curador de exposições é uma profissão que requer um conhecimento muito aguçado sobre o assunto, uma visão clara sobre o propósito da exposição e uma grande sensibilidade para coordenar os aspectos profissionais e humanos dos artistas envolvidos. Esse projeto demandou muito tempo mas foi uma experiência enriquecedora para mim porque pude conhecer artesãos, artistas e designers, ouvir suas histórias. Entrar na imaginação desses criadores e entender sua paixão foi um privilégio, sem dúvida, um momento único que desejo renovar sem hesitação.

Você poderia nos dar maiores informações sobre este projeto do Pavilhão do Chile e como você chegou a elaborá-lo?

– Este projeto curatorial, cuja finalidade é a promoção das artes e do artesanato, é mais do que evidente em um país como a França, onde a tradição e o know-how fazem parte do patrimônio cultural. Infelizmente, este não é o caso no Chile, onde as tradições não são transmitidas. Aceitar esse convite me confrontou com minha própria experiência entre o que vivenciei no meu pais e o que estou vivenciando na França. Graças ao apoio do Ministério da Cultura do Chile, fomos capazes de iniciar um programa de desenvolvimento econômico através da criatividade. Ter a responsabilidade de ser comissário dessa exposição aguçou os meus sentidos e quero poder mostrar ao público todas as atividades que são feitas localmente graças à paixão, à pesquisa e à excelência dos artesãos.

De que maneira sua experiência como diretor criativo influenciou sua visão como curador ?

– Meu relacionamento com o artesanato e o “artesanal” sempre esteve presente no meu desenvolvimento profissional. Dos meus primeiros projetos no Chile e na França, esse relacionamento continuou a se desenvolver tanto que me tornei Diretor Criativo da manufatura de porcelana Haviland, em Limoges, a fábrica de vidro Daum, em Nancy, e o ourives Odiot, na região Parisiense, entre outros. Em 2016 renovei minhas ligações com o artesanato chileno indo à comunidade de Rari onde as mulheres tecem a crina de cavalo com a técnica de cestaria por mais de 250 anos.

Existem alguns pontos em comum entre ser designer e se tornar um Curador de exposição?

– Três palavras vêm à mente sobre o crescimento dessas duas disciplinas criativas. Em primeiro lugar, a Observação, um ato racional e vital em nossa profissão porque nos permite descobrir o contexto e seus componentes; às vezes encontramos relações improváveis. Em segundo lugar a Reflexão, que é nutrida pela observação, que permite ao imaginário viajar sem fronteiras e possibilita definir um conceito ou articular uma ideia. A terceira palavra é a Emoção que experimentamos, cada vez que visitamos novos lugares para desenvolver cada projeto.

Como você desenvolveu o tema e como se deu a escolha de artistas que participam desta Bienal?

– Confrontado com a excelência e as profissões de artes na França e na Europa, além da importância da transmissão de geração à geração, desenvolvi um tema que confronta os limites da criação no Chile. Meu país tem uma geração jovem, criativa e curiosa, altamente motivada, que questiona os limites do saber existente e tenta superá-los em uma busca prospectiva e fértil. Priorizamos a expressão dessa juventude chilena, que encontrou sua própria linguagem de expressão, inventando novas formas de fazer, transformando o material e dando origem a uma narrativa contemporânea com um forte apego ao território, foram esses os temas que desenvolvemos juntamente com os artistas, artesãos e designers chilenos.

Onde você encontrou os artistas e como suas intervenções seriam apresentadas durante a Bienal?

– Um primeiro contato foi feito via e-mail para explicar os projetos e os desafios, uma vez que os artistas concordaram com a proposta de participarem da Bienal, fui ao Chile para conhecer os sete artistas escolhidos, a fim de definir um conceito que acabou com o tempo e a paixão de cada um evoluiu rapidamente. Após seis meses de trabalho, as obras são surpreendentes e raras, com uma forte personalidade que caracteriza a criação no Chile.

Em quais gêneros artísticos você está interessado ou é inspirado?

– Gosto da descontextualização dos códigos, da desconexão entre o assunto e seu universo, gosto de me sentir perdido e de não entender nada diante de um trabalho. A escassez e a banalidade me inspiram diariamente.

Você tem algum projeto futuro que você possa partilhar com nossos leitores?

– Atualmente estou trabalhando no design de interiores de um mega iate que espero ver terminado muito em breve, além de desenhar os exteriores de uma grande villa na Riviera Francesa. Também tem uma coleção de porcelana com previsão para ser lançada em janeiro de 2020 e durante o Salone del Mobile, em Milão, desenho complementos de design de interiores para uma bela casa francesa.

EDIÇÃO DE TEXTO – Marilane Borges

PORTRAIT – Serge Bouvet

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