Clémentine de Chabaneix
Estranho, melancólico, poético são os adjetivos com os quais Clémentine de Chabaneix qualifica seu próprio trabalho criativo com a cerâmica. Descendente de uma família de artistas, mãe atriz e avós escultores, Clémentine passou sua infância rodeada pela atmosfera dos camarotes de teatro e das oficinas de artista, onde desenhava de forma permanente. Uma premissa para o seu trabalho que versa, de alguma maneira, sobre esse universo com suas esculturas que evocam essa época de sua vida infanto-juvenil. Em sua juventude, Clémentine fez aulas de teatro e artes plásticas para, em seguida, se dedicar especialmente à escultura. “Nesse período, aluguei uma pequena oficina que ficava numa grande fábrica que acolhia, entre outros, construtores de órgãos, serralheiros, carpinteiros, pintores, gravadores, um estúdio de efeitos especiais para cinema,” conta a jovem escultora que começou a criar suas peças com resina epóxi.
Desenvolvendo um trabalho que se aproximava do mundo da ilustração, Clémentine de Chabaneix se indagava constantemente sobre a evolução do seu próprio trabalho. “Queria encontrar um material com menor teor tóxico que a resina e apostei na cerâmica”, recorda-se. “Não tinha ideia do quão exigente esse material era e não consegui trabalhar a terra como estava acostumada com a resina. Depois de algum tempo me resignei e pensei que poderia me abandonar a suas características para ver até onde isso me levaria”, conta a ceramista. “Acho que é preciso uma vida inteira para descobrir todas as maravilhas que a cerâmica pode oferecer em termos de criação”, Correspondance Magazine® conversou com a artista sobre os sentimentos que envolvem a concepção de suas poéticas esculturas e a percepção onírica que suas peças revelam. Clémentine de Chabaneix pinta, desenha e esculpe em cerâmica, resina e madeira. Seu universo favorito reside essencialmente na imaginação e no mundo de “Alice no País das Maravilhas”, um estilo poético matizado por uma malícia perturbadora que evoca a ambivalência da vida, as questões existenciais e as feridas da infância.
Fale-nos um pouco sobre a influência dos seus avós na sua formação artística.
– É óbvio que meus avós foram muito importantes na minha abordagem artística. Eles eram escultores e para executar seus trabalhos, um se inspirava de animais e outro da flora. Eram artistas complementares, de alguma forma. Eles me deram a base de um vocabulário que me apropriei para enriquecer pessoalmente minhas obras, mostrando entre as flores e os animais, uma figura humana que não existia no trabalho deles.
Com essa ascendência artística familiar tão forte, o que inspira você naturalmente?
– Explorar os sentimentos, os sonhos e a complexidade dos seres é isso que me inspira no quotidiano. Tento traduzir essas cicatrizes emocionais com um vocabulário imaginário muito pessoal. Como por exemplo, a escultura da menina que tem em seus braços um jacaré. Isso me faz lembrar a complexidade da transição para a idade adulta. Este jacaré parece com uma espécie de armadura que serve como proteção contra o mundo, mas também incorpora o mundo da ferocidade. A menina que parece frágil o abraça destemida. É uma imagem dúbia, porém, tudo nessa peça evoca os sentimentos ambivalentes com os quais lidamos todos os dias.
Como você escolhe os materiais com os quais desenvolve a temática dos seus projetos?
– Na escultura permaneço fiel à cerâmica, porque tenho muitas opções a explorar com esse material. Ainda que não tenha começado a usar esmaltes coloridos, um projeto que vai esperar ainda alguns anos, gosto de me apropriar das características naturais da cerâmica como um exercício de paciência. Quanto às instalações, prefiro usar vários materiais, como papelão para a construção de grandes volumes a um custo muito baixo e muito mais leve, e também incorporo pequenos dispositivos de projeção ou som. Para as instalações posso imaginar peças realmente grandes, enquanto com cerâmica isso é impossível, porque o tamanho do meu forno é muito limitado. Quem sabe no futuro ou quando tiver a oportunidade, poderei mergulhar em grandes formatos com o maior prazer.
Suas temáticas seguem algum padrão ou você se guia pela intuição?
– Raramente lanço uma produção com uma ideia estabelecida do que vou fazer. Gosto de improvisar e se, no meio de processo, acontece um acidente, que não seja muito grave, o resultado pode ser ainda melhor. Aprecio a ideia que não sou eu quem fabrica, mas o acaso que se ocupa do que faço.
Como você se define: artista, artesã, decoradora ou tudo ao mesmo tempo?
– Estou longe de ter as habilidades de um artesão ou de um decorador. Digamos que o fato de poder frequentar um corpo artístico e muitos projetos diversificados, adquiri um amplo conhecimento e bastante conhecimento e técnicas de muitas profissões. Todavia, todo esse conhecimento é superficial e alguns empíricos. Isso é o suficiente para eu me lançar em projetos complexos, mas ainda preciso conhecer profissionais mais competentes que eu para me lançar na realização. Além disso, sou absolutamente apaixonada por técnicas de fabricação, ferramentas e pessoas. Meu último encontro foi um “Néoniste”, nem sabia que essa palavra existia… um verdadeiro poema!
Existem projetos que ainda você ainda não realizou e que gostaria de conseguir?
– Gostaria de viajar. Sem hesitar, é isso que me vem à mente. Sonho em trabalhar em outros países. Até agora sempre trabalhei no meu estúdio e, em seguida, enviando ou depositando minhas esculturas em galerias. Sonho que poderia realmente levar apenas minhas pequenas ferramentas favoritas e me apropriar de outros lugares, afinal, há terra em toda parte!
E, atualmente, quais os seus novos projetos, exposições, instalações em curso…
– Tenho dois endereços em Paris onde apresento minhas esculturas de forma permanente, a galeria Antonine Catzéflis e a Club Sensible. Na primavera de 2018, vou começar a trabalhar com uma galeria em Los Angeles e continuo a apresentar em Roma, na Dorothy Circus Gallery, uma parte única do meu trabalho, onde desenvolvo exclusivamente para essa galeria peças em resina epóxi. Na Itália tenho a sorte de estar rodeada por artistas de prestígio como Miss Van, Mark Ryden ou ainda Ray Cesar.
Com o que você sonha, além das suas viagens artísticas?
– Não tenho sonhos extravagantes. Meu grande sonho é continuar fazendo o que amo fazer, conhecer pessoas apaixonadas pela arte, fazer belas colaborações. Gosto dessa partilha porque, na verdade, sempre trabalho sozinha no meu estúdio. Então, de vez em quando, conhecer um “outro ser artista” e desenvolver um projeto em comum, é muito enriquecedor.
PORTRAIT – F. Begoin
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