Claudia Wieser
“O ato de fazer é importante para a minha prática artística. Se um material passa por minhas mãos, isso me ajuda a tomar decisões e encontrar soluções,” comenta a artista alemã Claudia Wieser. Internacionalmente conhecida pelas suas instalações e desenhos multimídia, Wieser foi aprendiz de ferreiro antes de estudar para ser pintora. Seus trabalhos utilizam diversos materiais como espelho, cobre, cerâmica, madeira e papel; ela também se baseia em arquitetura, artesanato e técnicas do Movimento de Artes e Ofícios em sua prática. Em certos projetos, a artista se apoia em pesquisa como, por exemplo, para seus quadros de cerâmica vidrada, que foram inspirados na Bauhaus e no artista Wassily Kandinsky ou ainda nas instalações imersivas de fotocópias encontradas em interiores belgas. Uma característica comum do trabalho de Wieser é o uso de formas geométricas intensas e ornamentadas com aplicação seletiva de cores. A artista também as emprega em seus desenhos, muitas vezes através de folhas de ouro ou lápis colorido para desenhar suas imagens, que sugerem um forte valor de composição para a artista, especialmente através de fotografias antigas ou páginas de livros previamente selecionadas.
Com essas imagens a artista impõe formas geométricas simplistas para aprimorar e ou contrabalançar o contexto visual da própria fotografia, “uma referência às primeiras identificações com a arte, que vieram com a descoberta da abstração do século XX e de algumas pinturas medievais, que impactam de forma significativa minha criatividade de artista.” Ainda segundo Claudia Wieser, essas formas primárias e elementares oferecem a resposta mais apropriada para essas imagens da natureza. Correspondance Magazine® se deparou com as obras da artista expostas no stand da galerista Jessica Silverman Gallery, de São Francisco, durante a FIAC – Feira Internacional de Arte Contemporânea, que aconteceu neste mês de outubro em Paris. A artista Claudia Wieser, que vive e trabalha em Berlim, aceitou gentilmente nossa proposta de entrevista para falar sobre o seu relacionamento pessoal com suas criações artísticas.
Houve um momento crucial em que você decidiu seguir seu caminho como artista?
– Acredito que desde muito cedo me sentí atraída pela criatividade. Para mim era uma possibilidade de escapar do mundo medíocre onde cresci, nos subúrbios de Munique, um lugar que não fazia parte de quem sou. Mais precisamente durante os meus anos de ensino médio, vi uma exposição de Ellsworth Kelly – pintor, escultor e gravador americano associado à pintura de ponta, ao campo de cores e ao Minimalismo – e mais tarde conheci o trabalho de Robert Ryman – pintor americano identificado com os movimentos de pintura monocromática, Minimalismo e arte conceitual. Ele era mais conhecido por pinturas abstratas em branco sobre branco. Esses dois artistas realmente me emocionaram e me fizeram pensar em experimentar algo relacionado com a arte.
Você pode nos contar sobre o processo criativo? Conte-nos um pouco sobre suas criações.
– Fiz uma temporada de aprendizagem como ferreiro depois de terminar o ensino médio. Desde então, sinto-me atraída por esse material e pelo artesanato, principalmente, porque esse trabalho manual me ajuda no processo criativo. Desenho em parte uma nova ideia e depois faço manualmente o trabalho no meu estúdio ou mando os primeiros passos para um outro artesão. O importante para mim é estar envolvida e conectada ao objeto de uma maneira física.
Qual é a sua rotina diária ao trabalhar ?
– Levo minha filha para a escola, depois tomo um café e sigo de bicicleta para o estúdio. Sempre trabalho lá até tarde, às vezes por conta própria, às vezes com assistência de terceiros. Se houver um prazo determinado para a entrega de uma obra, os dias podem ser bem longos. Existe mil coisas diferentes para serem feitas normalmente: da burocracia à pintura, dos desenhos aos cálculos, entremelados de leituras, organização…
De que maneira você gostaria que sua arte fosse lembrada?
– Gostaria de ter diferentes aspectos do meu trabalho, como papel de parede, esculturas, azulejos, expostos numa sala ou num placo. Por exemplo, uma instalação no The Drawing Center, em Nova York, ou no centro de arte Kunsthalle Nürnberg, em Nuremberg, na Alemanha.
Se você pudesse trabalhar dentro de um movimento artístico do passado, qual seria?
– Pode parecer lugar comum, mas gostaria de ter estudado na Bauhaus, gosto da ideia relacionada às atividades comunitárias, sinto falta desse aspecto no meu trabalho, e da tentativa de unir vida e arte no mesmo processo. E, como mencionei antes, sou muito atraída pelo artesanato, pelo design e pela arquitetura e, para mim, a Bauhaus representa todos esses aspectos.
Como você definiria arte em 140 caracteres ou menos ?
– A arte é algo indefinível. Num mundo ideal, a arte faria alguém dar um passo ao seu lado. Fazer a mente expandir mas não sei se a palavra certa em inglês é “expandir.”
Você tem uma personalidade ou artista favorito ou outras pessoas que o inspira?
– Essa reposta pode mudar em função do que estou desenvolvendo. Tenho alguns heróis de todos os tempos de diferentes períodos da história cultural, mas no momento é em Frances Ford Coppola, na verdade, que estou pensando.
Qual artista do passado você gostaria de ter conhecido?
– Marcel Duchamps.
Você interage com o mundo digital ou se apropria da tecnologia em seu trabalho?
– Em termos de conteúdo para o meu trabalho, diria que não, mas como uma produção, uma ferramenta de comunicação sim.
Você já teve um momento em que questionou completamente sua carreira?
– Não totalmente, mas em certos aspectos, sim. Gostaria que, no campo da arte, houvesse mais reconhecimento relacionado às questões ambientais e sociais.
Que conselho você daria para um jovem artista seguindo seus passos?
– Considere com muito cuidado se essa é realmente a única opção para a sua vida – se sim, faça de tudo para que suas escolhas dêem certo.
Qual é a sua maior indulgência na vida?
– Estar cercado pelas pessoas certas é importante, além de usufruir da liberdade de fazer o que quero, e isso é o essencial.
IMAGEM © Cortesia da artista Claudia Wieser e Jessica Silverman Gallery, San Francisco © Todos os direitos autorais reservados.
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