Encenação residencial
Em tempos de encontros seletivos, a arte encontra um novo público quando o espaço de exposição é um apartamento modelo. A agência de branding de Los Angeles, frenchCALIFORNIA, transformou uma cobertura assinada pelo arquiteto Marmol Radziner e Skidmore, Owings & Merrill (SOM), em São Francisco, em uma galeria de arte. Com vista panorâmica do centro da cidade, esta cobertura projetada por Radziner funciona como uma galeria temporária de obras de arte originais, oferecendo um mix de móveis italianos e brasileiros modernos de meados do século 20, incluindo um par de poltronas Shell de Hauner & Eisler.
A pandemia do Covid forçou os galeristas a imaginar novas propostas e as galerias não precisam mais de espaços permanentes para ter sucesso. Com um calendário cada vez maior de feiras físicas se transformando em vitrines virtuais, as novas plataformas oferecem opções mais transitórias e flexíveis. Ao investir nesses eventos, alguns especialistas do setor e os galeristas em especial dizem que conseguem atingir um público mais amplo, dar mais atenção aos talentos que representam e promover melhor a obra de arte. Mas esse novo tipo de exposição encenada em residências de alto padrão confunde as fronteiras entre o espaço público e privado propondo possibilidades verdadeiramente surpreendentes.
A frenchCALIFORNIA, sediada em Los Angeles, por exemplo, trabalha em estreita colaboração com incorporadoras imobiliárias para encontrar maneiras inovadoras de promover suas propriedades. A mais recente aventura nessa proposta consiste em se apropriar de uma lista rotativa de galerias e residências exclusivas para montar essas instalações temporárias. Esses esforços matam dois coelhos com uma cajadada só, por assim dizer, ao comercializar ao mesmo tempo, a arte e o espaço. Enquanto os incrporadores imobiliários podem mostrar os recursos de suas propriedades de uma maneira nova e empolgante, uma galeria pode apresentar seus trabalhos em ambientes impressionantes projetados por arquitetos de renome.
Em associação com a incorporadora Related California, a agência de brandingtrouxe uma variedade de eças originais de época colecionáveis e móveis contemporâneos, que foram instalados nessa cobertura em estilo moderno e californiano. Ancorada pela mesa Burton de jacarandá de 1950 de Sergio Rodrigues e pelas cadeiras Betty de madeira laqueada de Martin Szekely, a sala de jantar e a cozinha também hospedam vasos raros de Ettore Sottsass.
“Para este projeto, optamos por trabalhar com as galerias Gabriel & Guillaume e Jessica Silverman Gallery (Paris e Beirute), retirando essas peças de seus inventários”, diz o fundador da frenchCALIFORNIA, Guillaume Coutheillas. Além de intermediar o acordo entre as várias partes, sua empresa também liderou o projeto da instalação. “Claro, nosso objetivo é sempre defender o incorporador e garantir que ele fique feliz com a história do design que é apresentada nos seus empreendimentos. Mas também devemos respeitar a visão das galerias, certificando-nos de colocar as peças conforme o contrato estabelecido. Além disso, tiramos partido dessa oportunidade para tentar promover artistas locais e emergentes, colocando-os nesses espaços incríveis onde sabemos que seu trabalho será visto por um público muito seletivo.”
Móveis modernos originais de meados do século 20, luminárias e acessórios de Sergio Rodrigues, Joaquim Teneriro, Angelo Lelli, entre outros, justapõem obras pós-modernas e contemporâneas de Martin Szekely, Ettore Sottsass, Namika Atelier e Portego. Esta coleção cuidadosamente selecionada de design brasileiro, italiano, francês e libanês combina bem com obras de arte de Julian Hoeber, Amikam Toren, Ian Wallace, Davina Semo e Claudia Wieser, seleção feita pela diretora da galeria, Jessica Silverman. Enquanto Coutheillas e sua equipe ancoram toda essa mise-en-scène com cores ousadas e papéis de parede estampados que ajudam a distinguir os diferentes cômodos. O projeto multifacetado é uma peça ousada por si só que reflete as tendências em mudança tanto em design de peças colecionáveis quanto de interiores.
As paredes verdes em uma das duas suítes ajudam a conter uma matriz eclética que inclui um tapete Gilda feito à mão pela designer francesa contemporânea Marguerite Le Maire, um quadro de corrente de aço revestido de pó vermelho da Davina Semo e luminárias de estilo dos anos 1950. “Ecletismo é uma ótima palavra para descrever a maneira como as pessoas pensam sobre interiores e design atualmente”, reflete Coutheillas. “Em vez de escolher um determinado período ou estilo, as pessoas estão gravitando em torno de peças individuais que têm uma história. Muitos dos nossos clientes querem peças históricas que ancorem seus espaços e que reflitam seus gostos individuais, que normalmente vêm de uma mistura de fontes.” A proposta tem futuro, sobretudo, apoiada com as novas tecnologias, onde os colecionadores e o público em geral podem fazer um tour virtual da exposição que pode ser acessada no site da Gabriel & Guillaume.
Reportagem Especial Correspondance Magazine®
IMAGEM – Cortesia da galeria em imagens clicadas por Douglas Friedman e Brendan Mainini © Todos os direitos reservados
Você precisa fazer login para comentar.