FIAC 2019
Os tempos estão extremamente controversos e complexos em todos os domínios que os assuntos de ordem político-social não interessam mais aos artistas? Esse foi o questionamento e a constatação durante a reportagem de Correspondance Magazine® à feira de arte FIAC, evento artístico que acontece de 17 à 20 de outubro na nave no Grand Palais, em Paris. O espírito que pairava nesse átrium gigantesco era de marasmo em relação às obras expostas, uma certa falta de motivação dos expositores, uma ausência de curiosidade dos galeristas em pesquisar novos artistas, enfim, uma apatia generalizada.
Segundo o próprio conceito da feira, a “FIAC Galeries” apresenta uma seleção especializada de galerias de arte moderna, arte contemporânea e design que estão entre as mais emblemáticas do cenário internacional, que propõe-se a apresentar o melhor da criação artística, desde mestres modernos do início do século XX até as tendências mais emergentes. Com todo o respeito aos artistas e marchands de plantão, mas nada disso foi visto ou se tronou presente nesta edição, que parece desanimadora, sem energia com stands pouco atraentes e assuntos artísticos pouco interessantes…
O historiador de arte Richard Meyer em seu livro, que data de 2013, “O que era arte contemporânea?”, lançado pela editora MIT Press, chamou o termo rastejante ‘agora-ismo’ na história da arte atual. Ao explorar episódios no estudo, na exposição e na recepção da arte e da cultura visual do início do século XX, Meyer recupera momentos da história da arte outrora atual e redefine “o contemporâneo” como uma condição de estar vivo para e ao lado de outros momentos, artistas e objetos.
Mas a pergunta que não quer calar é: onde estão os artistas e seus combates, suas temáticas do agora e suas ideias de relevância contemporânea? Onde estão o talento dos artistas e seu poder contestador? Onde estão os artistas realmente engajados, que manifestem seus discursos com suas obras de arte persuasivas? Onde estão os artistas que colocam em evidência as temáticas sócio-políticas em outro patamar de discussão além da fronteira permeável das mídias sociais? “Hoje, estamos presos no presente, pois ele se reproduz sem levar a nenhum futuro. […] Pode-se dizer que agora vivemos um tempo de indecisão, de atraso – um tempo chato”, segundo o crítico de arte, teórico da mídia e filósofo Boris Efimovich Groys.
O setor Lafayette criado em 2009 e apoiado pelo Grupo das Galerias Lafayette, que pressupõe “apoiar financeiramente a presença de galerias jovens”, todavia os curadores não fizeram o exercício de encontrar novos expoentes das artes. Além disso, “com seu programa artístico, a FIAC visa expandir a gama de espaços de expressão disponíveis para galerias e artistas e tornar acessível ao maior número de pessoas a experiência íntima de criação…” Esse critério também não se fez presente. or isso repetimos Groys: “Para ser contado como arte, um objeto ou expressão deve ser novo, e sua novidade é estritamente definida pelos limites temporais do momento presente, o agora.” Na verdade, não havia nada de novo, nem objetivo, nem um estado de surpresa, nem uma performance convincente, nem obras fascinates, nem temáticas contundentes, nem ideias profundas, nem um processo histórico atraente, apenas uma coleção de obras de arte comercialmente aceitáveis, essa é a imagem desta 46ª edição da FIAC.
TEXTO – Marilane Borges
IMAGEM © Galerie Laurent Godin © Charles Sandinson © Baronian Xippas © June Crespo – Cortesia do artista e da galeria P420, Bolonha © Fotografia C. Favero, 2018 © Cortesia do artista Stefan Nikolaev e da Galerie Michel Rein, Paris/Brussels, 2019 © Fotografia Maria Djelebova © Haim Steinbach © Jean-Michel Alberola © Galerie Catherine Issert © Nike – Cortesia do artista Mathew Cerletty e da galeria Karma, Nova York
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