Lina Bo Bardi

2 de julho de 2020

Nascida em Roma em 1914, Achillina Bo, seu nome completo de solteira, é uma das mais famosas arquitetas modernistas brasileira de origem italiana. Designer industrial e ativista, cujo trabalho desafiou a ordem convencional, ela projetou estruturas ousadas que fundiam o modernismo com o populismo. Achillina Bo obteve seu diploma em arquitetura da Universidade de Roma, em 1939, onde estudou com arquitetos de renome como Marcello Piacentini e Gustavo Giovannoni. Logo depois de sua formatura, mudou-se para Milão e começou a trabalhar com o arquiteto Carlo Pagani e iniciou sua carreira no jornalismo de design, trabalhando com o arquiteto e designer Gio Ponti e colaborando com ele na revista Lo Stile, além de escrever para várias outras publicações italianas especializadas em design. Em 1944, tornou-se diretora adjunta da Domus – revista fundada por Ponti em 1928 – e ocupou esse cargo até 1945.

Para ilustrar a importância dessa arquiteta e sua criatividade transbordante, a editora Prestel lançou o livro “Habitat – Lina Bo Bardi” que esboça com riqueza de documentos de arquivos um registro surpreendente sobre a abordagem e a visão artística da arquiteta. Suas criações influenciaram o design industrial e a arte, tanto quanto seus projetos de arquitetura, curadoria, edição e desenho de móveis. Constituída de vários ensaios, assinados por diversos especialistas, a publicação confere uma ampla abordagem à vida e à obra de Bo Bardi, mostrando uma nova perspectiva sobre os processos conceituais e os materiais que constituíam cada um dos seus projetos. Lina Bo Bardi é a arquiteta que desafiou os limites da gravidade e deixou para o mundo o legado de um compromisso sem concessão com a simplicidade das linhas, que se fundem naturalmente na paisagem. Seus projetos foram pensados e estruturados para servir à sociedade, colocando o cidadão e o indivíduo no centro do seu processo criativo e arquitetural.

A publicação traça a história pessoal de vida de Lina, que casou-se com Pietro Maria Bardi, escritor, curador, colecionador e crítico de arte italiano. Eles se mudaram para o Brasil nos idos de 1946, quando Pietro Maria Bardi aceitou o convite do jornalista e magnata da mídia Assis Chateaubriand para ajudar a estabelecer e dirigir o Museu de Arte de São Paulo (MASP), inaugurado em 1947. Para esse primeiro museu do Brasil a coletar e exibir arte moderna, Bo Bardi projetou o interior e os acessórios e desenvolveu um sistema inovador para exibir as pinturas sem usar as paredes. Uma série de suportes de madeira e placas de vidro, que eram distribuídos pelo chão, como totens e onde os visitantes podiam circular entre as obras. Essa proposta foi abandonada anos depois.

Em 1958, Bo Bardi começou a trabalhar em um novo prédio para o MASP, que foi concluído em 1968. Centralmente localizado na Avenida Paulista de São Paulo, o icônico edifício de vidro e concreto foi elevado a oito metros acima do solo, apoiado em gigantes pilares de concreto pintados na cor vermelha. O vão aberto no nível do solo foi pensado como um local de encontro para socialização, shows, protestos, feiras de antiguidades aos finais de semana e afins. Lina Bo Bardi também projetou cadeiras empilháveis e ​​dobráveis, ​​fabricadas de madeira e couro de jacarandá brasileiro, usadas durante palestras e eventos. Anos mais tarde, ela fez a curadoria de uma grande exposição no MASP sobre a história do design de cadeiras.

Uma de suas construções mais emblemáticas é, sem dúvida, a casa que ela projetou para ela e seu marido, batizada de Casa de Vidro Modernista, construída no bairro do Morumbi, em São Paulo. Edificada sobre uma colina e totalmente transparente, essa casa se integra majestosamente na paisagem verdejante dentro de um cenário de floresta tropical, e é o exemplo-chave do modernismo brasileiro com sua forma de linhas simples em concreto e vidro. A sala principal, que se estende sobre a encosta da colina, é elevada e apoiada apenas por finos suportes de concreto armado, conferindo uma leveza etérea a essa construção. Proeza imaginada pela arquiteta que transformou a problemática inclinação do terreno com uma solução inovadora, singular e definitivamente moderna.

EDIÇÃO DE TEXTO – Marilane Borges

IMAGEM – Cortesia da editora Prestel para o livro “Habitat – Lina Bo Bardi” © Todos os direitos reservados

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