Luberon, o segredo da Provença

4 de abril de 2019

Nascido no coração da Provença, em Arles, uma cidade rica em história e cultura, conhecida por seus eventos internacionais de fotografia, Gilles Martin-Raget, que mora em Marselha, conversou com Correspondance Magazine® e nos contou suas aventuras desbravando estradas vicinais e pequenos caminhos que o levaram a descobrir paisagens estonteantes, clicadas para a produção da bela publicação “Luberon, Provença secreta” lançado pela editora Gourcuff Gradenigo, com textos de Jean-Pascal Hesse. O fotógrafo francês tem um percurso atípico que há 35 anos clica imagens de eventos náuticos e, por força das circunstâncias e das oportunidades que abaraçou, se tornou esspecializado em dois mundos que não têm muito em comum: a vela e as paisagens campestres da Provença, assunto da nossa entrevista. “Registrar em imagens a beleza da Provença é uma benção para mim, que só fotografo o que já existe, odeio flashes ou iluminação artificial…” confessa Martin-Raget.

Que evento desencadeou em você essa paixão pela fotografia?

– Arles é uma cidade cercada pela Camargue, pelos Alpilles, uma cordilheira de baixa altitude, com uma paisagem original de rochas calcárias brancas, localizada a noroeste do departamento francês de Bouches-du-Rhône. Toda essa região tem tradições muito vívidas, com paisagens tão maravilhosas que o desejo de tirar fotos surge sempre naturalmente. Além disso, os Rencontres d’Arles, evento com foco em fotografia, me permitiram ver muitas exposições e ouvir palestras com os grandes mestres da fotografia. Meu primeiro interesse foi pelo jornalismo mas a fotografia, que comecei a praticar ainda na adolescência, tomou mais e mais espaço na minha vida a ponto de se tornar meu ganha pão. Para mim, fotografar é muito mais que um trabalho, é um verdadeiro prazer.

Como você descobriu o Luberon? De onde vem o seu fascínio por esta região?

– Esta é uma das partes mais bonitas da Provença e, quando comecei a trabalhar realmente sobre esse assunto de maneira profissional, era uma obrigação conhecer todos os recantos. As paisagens são realmente divinas, muito humanas, não necessariamente desertas, mas muito variadas. É uma área ainda muito protegida, graças principalmente ao Parque Nacional, que evitou construções arquitetônicas. As paisagens são lindas, os vilarejos cheios de charme, é como se todos os moradores fossem decoradores e jardineiros neste território formado por agricultores.

Você poderia nos contar mais sobre esse projeto do livro “Luberon, Provença secreta”?

– Esse projeto é especialmente de Jean-Pascal Hesse, diretor de comunicação do estilista Pierre Cardin, que queria fazer um livro sobre esta região, onde trabalhou e viveu por muitos anos, graças as suas amizades com as pessoas da região, portas foram abertas para que pudéssemos fazer as fotos.

Qual é a parte da preparação e identificação de lugares antes do clique final e onde que a improvisação entra nesse processo?

– Já tinha um bom material relacionado às paisagens e vilarejos, mas pfiz  questão de fazer um complemento de acordo com o projeto do livro e, em especial, fotografar as propriedades particulares nas quais isso é possível apenas ocasionalmente graças a um projeto como este e também ao fato de os proprietários conhecerem Jean-Pascal Hesse. Essa é a parte mais interessante deste livro: portas que geralmente permanecem fechadas foram abertas sem restrições e é impressionante o número de propriedades magníficas encontradas nesta região. Uma vez que esse processo de imagens internas foi finalizado só me restava orar para que a meteorologia colaborasse com dias lindos de sol e que nenhuma nuvem viesse atrapalhar o momento do clique.

Qual é o melhor momento para fotografar a Provença, que tem uma luz especial?

– O Luberon é lindo em cada uma das quatro estações do ano, e todos os seus recantos tem seu momento de glória no ano: as flores de cerejeira podem ser admiradas em em abril, os campos de papoulas em maio, a lavanda em junho, os girassóis em julho, as videiras no verão, florestas no outono e neve não são incomuns no inverno. Os vilarejos são lindos durante a primavera, com flores por toda parte.

O Luberon é uma região muito bonita, conte-nos onde você encontrou inspiração para as fotografias dessa publicação?

– Em relação aos vilarejos e propriedades particulares, a inspiração não é muito difícil de encontrar. A paisagem é estonteante, então, basta posicionar a câmera e tirar a foto. Podemos  transformar o assunto através de diferentes óticas, ângulos, luzes, mas a matéria-prima está lá, simplesmente não cometemos nenhum erro ao destacá-la. Só estou tentando embelezar o que já é belo por natureza.

Há muitas imagens de lugares escondidos ou pouco conhecidos do grande publico nessa publicação, como você fez para descobri-los ou acessá-los?

– Precisei observar o tempo climático diariamente e estar disponível, quase como um plantão meteorológico, além de dirigir muitos quilômetros, porque cada pequena estrada sempre me levava a surpresas inesperadas. E fazia esse mesmo percurso de voltar no mesmo local no período da manhã ou à noite, quando a luz é linda, porque cada paisagem é favorecida pelo seu próprio tempo. Para as imagens publicadas em “Luberon, Provença secreta”, não hesitei em pensar a paisagem longe do apelo turístico. Para isso, precisei dispor de tempo para encontrar os lugares, os bons ângulos, a boa luz e isso é algo que faço sozinho, porque as pessoas podem pensar que sou louco voltando ao mesmo lugar três vezes no mesmo dia!

Especializado em eventos náuticos, em que outras áreas fotográficas você tem interessado ou deseja experimentar?

– A Provença é como uma diversão para mim porque aprecio o prazer de caminhar em todos os cantos desta região que amo. Todo ano, venho tirar fotos dos campos de lavanda, o que pode parecer bobagem, porque é sempre a mesma coisa, mas estou apenas buscando o prazer dos olhos e dos sentidos. É sempre tão lindo! Essa paisagem tão bonita fica a uma hora de Marselha, onde moro, enquanto as pessoas vem do fim do mundo para apreciar toda essa beleza… Posso me considerar um fotógrafo de sorte.

Você tem algum projeto de um novo livro em vista ou que você terminará em breve?

– Entre os eventos atuais sobre vela, atualmente estou trabalhando em um novo livro sobre iates clássicos, que deve ser lançado no outono deste ano de 2019. Mas com todas as fotos que venho fazendo há anos nessa região, gostaria de fazer um livro chamado “Morando na Provença”, e isso seria uma espécie de agenda sobre o que pode ser visto e feito na Provença durante todo o ano e com apenas 51 semanas anuais, a escolha seria muito, muito difícil!

EDIÇÃO DE TEXTO – Marilane Borges

IMAGEM © Cortesia do fotógrafo Gilles Martin-Raget

 

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