Mauricio Clavero Kozlowski
Talvez seja porque ele nasceu no Chile, mas o criativo designer de interiores Mauricio Clavero Kozlowski sempre teve uma forte ligação com a natureza. Inspirando-se nela, na Mãe Natureza, Clavero diz que se sente particularmente atraído pelas cores e texturas.
Mauricio Clavero Kozlowski, que vive e trabalha em Paris, nasceu em uma família de arquitetos e confeiteiros. “A minha paixão pelos detalhes e pelas técnicas de produção manual permitiram-me evoluir num ambiente onde a singularidade (tailor-made) é muito valorizada”, afirma o designer de interiores e de produto franco-chileno.
Ao longo de sua prolífica carreira, como diretor artístico por mais de 7 anos de várias marcas de luxo e know-how francês, Mauricio Clavero Kozlowski se tornou conhecido pelos seus talentos e pelos seus projetos tão variados quanto diversos. “O material e a excelência do que é feito sob medida são a chave para que cada criação transmita emoções”, atesta Clavero.
Correspondance Magazine® conversou com exclusividade com o designer de interiores franco-chileno, que está desenvolvendo, entre outros projetos, uma coleção vibrante de tecidos modernos impressos para a decoração de interiores, inspirados na botânica do seu país natal e pensados exclusivamente para uma marca chilena.
Você criou toda uma carreira em design de interiores, de mansões de luxo a iates, além de coleções para as maiores casas francesas. Imagino que você tenha “desenvolvido” sua própria filosofia pessoal sobre esta profissão, você poderia compartilhá-la com nossos leitores ?
– Minha filosofia é não ter uma visão absoluta e limitada do design, ou da arte, duas áreas que muitas vezes andam de mãos dadas. Gosto de me deixar surpreender pelo que é proprio do design.
Além disso, acredito firmemente na singularidade das coisas (objetos, projetos), criando algo único para cada pessoa, família, ambiente, uso.
Você é curador de design e também designer de interiores. Portanto, você deve estar constantemente olhando para o futuro…
– Essa ‘curadoria’ tem como objetivo criar algo único e trabalhar em estreita colaboração com os artesãos é crucial.
O fato de ter morado e trabalhado em vários países me deu a grande oportunidade de conhecer artesãos de excelência em suas áreas. Como os artesãos japoneses que trabalham com casca de cerejeira e folha de ouro; artesãos italianos que trabalham com mármore; artesãos chilenos que trabalham com crina e cobre; artesãos franceses que trabalham com cristal, porcelana, madeira, bronze, etc.
Na sua opinião, quais são as facetas importantes desta indústria?
– A possibilidade de recorrer a artesãos de todos os quadrantes que perpetuam as tradições, para a transmissão de saberes, porque são as suas mãos que tornam cada projeto único.
Também é importante se apropriar do desenvolvimento de novas tecnologias que permitem que formas impossíveis se tornem possíveis.
Nesse contexto, como combinar beleza e funcionalidade ?
– É claro que a beleza tem precedência sobre a funcionalidade, mas não podemos esquecer que no design a funcionalidade faz nascer a beleza. Para mim, a mágica acontece quando o tecnicismo é invisível.
Houve um momento crucial em que decidiu seguir o seu caminho no campo ‘artístico’ ?
– Sempre estive rodeado pelo universo criativo e da criação, quer pelos meus avós arquitetos, quer pela minha mãe pasteleira.
Também queria me expressar através da criação, poder compor espaços, brincar com formas, cores, materiais e luz.
Qual é a sua rotina diária ao trabalhar em uma nova coleção?
– Cada projeto demanda uma pesquisa que me permite entender o material antes da forma, para descobrir as diferentes técnicas de transformação.
Priorizo o encontro com os artesãos e os clientes, porque muitas vezes nesses momentos de conversas e partilha, através dos gestos ou simplesmente com o silêncio, revelam elementos importantes que podem desencadear todo o processo criativo.
Você poderia nos contar mais sobre suas criações, suas escolhas artísticas e como você conquistou tudo isso?
– A maioria das minhas criações são feitas sob encomenda ou para integrar meus projetos de interiores. Cada criação é fruto de trocas com meus clientes e também da minha relação de longa duração com as oficinas e com os artesãos que, graças ao domínio de suas técnicas, dão forma às ideias que concebo.
Em geral, qual é a parte de preparação e prospecção antes, qual é o lugar da improvisação durante a concepção dos seus projetos?
– O processo criativo é desencadeado pela troca permanente com o cliente, não por regras ou estruturas. Isso é válido tanto durante a visita a uma propriedade ou à bordo de um iate ou num clube privado.
Sou a favor de um processo de reflexão após cada reunião antes da validação do projeto. Tudo o que se segue deve estar alinhado com cronogramas e orçamentos validados pelo cliente.
O que determinou sua paixão por este trabalho? Conte-nos sobre quando você decidiu que esse era o caminho a seguir.
– Desde pequeno eu queria criar, essa era a minha linguagem. Ver a minha mãe fazendo bolos com amor para as datas importantes de seus clientes foi, no mínimo, inspirador.
Dessa forma, o design parecia a equação perfeita que unia criatividade e em prol do amor ao próximo. As duas vertentes que hoje são a base do meu trabalho.
Que área do design parecem mais interessantes na sua opinião? Suas criações têm algo a ver com isso? Perguntamos isso porque poucos designers realmente fazem o que querem.
– Sem hesitação, a criação de espaços, seja uma residência, um escritório ou um iate, porque é fruto de um trabalho próximo com os meus clientes, onde posso criar para eles na medida dos seus sonhos.
Gosto muito de trabalhar com a iluminação, pois ela permite despertar todos os sentidos, dramatizar uma obra de arte. Com um toque de criatividade, é possível criar um espaço propício ao trabalho e à intimidade.
Qual é o aspecto mais frustrante do seu trabalho como designer? E o mais gratificante?
– Muitas vezes, o mais frustrante é criar espaços bonitos onde eu jamais viverei, por isso, na finalização de um projeto procuro ficar o máximo de tempo possível aproveitando dessa atmosfera dos sonhos.
Uma das coisas mais gratificantes é, depois de investir tanta energia, tempo e paixão, ver a expressão de alegria do cliente ao ter seu sonho materializado.
Qual é o pedido mais estranho ou bizarro que você recebeu de um cliente?
– A lista é longa, mas a maior parte desses pedidos mais extravagantes estão sempre associados a uma paixão.
Tivemos um cliente apaixonado por uma flor que tivemos de esculpir, moldar e reproduzir em cristal em milhares de exemplares para enfeitar o teto da sala de estar de sua residência à beira-mar na riviera francesa.
Na sua opinião, qual o futuro do design de interiores?
– Interiores claramente mais sensíveis em residências, escritórios ou iates. Interiores que nos aproximam da natureza com um toque de sofisticação graças aos materiais e tecnologias que nos permitem nos adaptar facilmente às expectativas do cliente e ao bem-estar do planeta.
Alguns planos ou projetos que você possa compartilhar com nossos leitores?
– Entre outros, tenho três projetos em desenvolvimento que me fascinam:
Uma residência em Saint Jean-Cap-Ferrat onde os arquivos históricos tem me auxiliado a recriar um modo de vida do passado para manter seu estilo, adaptado às exigências dos novos proprietários.
Uma grande coleção de tecidos para a decoração de interiores (tapeçaria, cortinas, etc.), inspirados em estudos e publicações botânicas que, espero, façam sonhar.
Uma linha de luminárias de interior para um renomado fabricante francês.
Como você definiria seu estilo criativo em 140 caracteres ou menos?
– Orquestrar com sutileza os desejos dos meus clientes e sublimar com sofisticação, clássica ou contemporânea, o projeto dos sonhos deles.
Com o que você sonha como artista/designer?
– Encontros que potencializem minha criatividade.
ENTREVISTA & EDIÇÃO DE TEXTO – Marilane Borges
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