Museu Christian Dior

22 de dezembro de 2016

Correspondance Magazine® conversou com a curadora Laura Hamonic do Museu Christian Dior que nos explicou a importância do trabalho de um responsável de coleção num museu como o do costureiro Christian Dior e nos falou dos segredos encontrados nos arquivos dessa maison histórica, das exposições em curso e dos projetos festivos para comemorar os 70 anos da criação da Maison. “O Museu Christian Dior é o único dedicado a um costureiro que detém a insígnia “Museu de France”. Em junho de 2012, o Museu Christian Dior obteve o rótulo de “Casa de Ilustres” do Ministério da Cultura. Instalado na casa de infância de Christian Dior, em Granville, na Normandia”, conta Hamonic. Na década de 80, sob a liderança do curador Jean-Luc Dufresne, primo do estilista, a ideia era transformar a “Villa Les Rhumbs” num lugar dedicado à memória de Christian Dior.

Conte-nos sobre a gênese do Museu Christian Dior.
– Em 1987, a exposição “Christian Dior, ele mesmo um outro” apresentada no “Museu de Arte Moderna Richard Anacréon”, em Granville, deu origem a criação de um fundo constituído inicialmente pelas doações de amigos do costureiro, especialmente suas duas irmãs, Catherine e Jacqueline, e de colaboradores, além de peças compradas pela cidade de Granville. A partir de 1991, ano de criação da associação “Presença de Christian Dior”, os preparativos dessas coleções são feitos gradualmente. Até o ano de 1995, a cidade de Granville faz aquisições enquanto a associação levanta doações. Depois desse período, a associação continua fazendo as aquisições juntamente com “Dior Couture” e “Dior Parfumes”, assim como com o grupo LVMH, a cidade de Granville e o Fundo Regional para Aquisição de Museus.

Qual a periodicidade das exposições apresentadas no Museu Christian Dior?
– O museu Christian Dior não tem exposições permanentes apenas temporárias. Desde 2010, além de uma exposição temática no verão, organizamos uma exposição outono-inverno, como esta mostra atual “Uma maison, várias coleções”, que visa apresentar as próprias coleções do museu. Esse projeto que está em sua sétima edição tem a intenção de apresentar quase que exclusivamente as coleções do museu. Em maio ou junho, quando a exposição de verão é iniciada, a equipe do museu começa a pensar sobre a temática que poderia ser apresentada na exposição outono-inverno. Muitas decisões são tomadas de um ano para outro, levando-se em consideração os códigos Dior, os funcionários da Christian Dior, os vários diretores artísticos da maison e também tentamos propor novos temas.

Quanto tempo leva para planejar a montagem de uma exposição?
– Em geral, nosso objetivo é garantir que a exposição se torne a prioridade da equipe desde o início de setembro para uma abertura em meados de novembro, por isso, tudo deve ser planejado minunciosamente para que não possamos perder tempo! Uma vez que tudo está organizado e sabemos o que será exposto em cada espaço, passamos para a fase de construção. Primeiro vem a montagem técnica, depois a formação dos manequins e, em seguida, a disposição dos acessórios. Esta etapa demora cerca de uma semana e mobiliza toda a equipe do museu e os credores. Em paralelo, estabelecemos a comunicação em torno da exposição.

Que tipo de pesquisa é feita para compor a seleção de peças que figuram numa exposição?
– Todas as pesquisas são feitas especialmente nas coleções do Museu Christian Dior, em Granville. Em primeiro lugar, selecionamos as coleções que não foram apresentadas ao público, no mínimo, nos últimos três anos. Essa é uma regra primordial para manter os padrões de conservação das coleções, e uma questão fundamental para um museu. As coleções têxteis são frágeis e devem permanecer por algum tempo na reserva após a exposição.

Uma vez que a seleção é feita, quais os passos seguintes?
– Depois data identificação inicial ou que já temos um tema em mente, tentamos analisar se as nossas reservas podem responder a essa demanda, a partir de um conjunto de coleções que pensamos ser relevante para projetar uma vitrine sobre o tema. Com isso podemos garantir que haja uma sinergia entre os vários espaços da exposição, a fim de que o visitante possa se reconhecer apartir de uma visão global coerente. De qualquer maneira, as coleções são sempre o centro do nosso pensamento. Tentamos apresentar alguns modelos ou acessórios que nunca saíram da reserva e, para completar algumas vitrines, tomamos emprestado dos arquivos da “Maison Dior”, “Dior Héritage” e para as joias recorremos a um credor privado, Jean-Pierre Cornille.

O que deu origem a essa exposição “Uma maison, várias coleções”?
– Esta exposição acontece em três níveis da “Villa Les Rhumbs”. Este ano, no piso térreo escolhemos apresentar aos visitantes o “savoir-faire” da “Maison Dior”. Os visitantes podem descobrir como as coleções de alta costura, joias e lenços são elaboradas como foco na escolha dos tecidos. Tentamos ser didáticos e oferecer ao visitante a possibilidade de tocar várias amostras de tecido, para descobrir sua origem e apresentar um modelo icônico usando um tecido específico, um tailleur em lã musseline, vestido de seda, etc. Esta seção fornece uma introdução à história da exposição e o primeiro andar é dedicado a Christian Dior num período preciso de sua criação entre 1947 e 1957. Em seguida, decidimos expor o tema do inverno e a ideia surgiu ao percebermos que raramente expomos nossos casacos. Esta apresentação se finaliza com uma vitrine temática sobre o réveillon com vestidos de baile brancos e dourados, onde apresentamos também o trabalho de dois importantes colaboradores de Monsieur Dior, o estilista de sapatos Roger Vivier e o bordador René Bégué apelidado de Rébé. O segundo andar é reservado aos cinco sucessores. Cada um tem uma retrospectiva de sua carreira e, pelo menos, dois modelos icônicos: um casaco de inverno para fazer alusão ao primeiro andar e um vestido de noite. Terminamos a apresentação com um vídeo do último desfile da casa que q presenta a coleção prêt-à-porter desenhada pela designer Maria Grazia Chiuri.

Qual é a parte mais interessante de trabalhar no Museu Dior?
– O acesso a documentos confidenciais como, por exemplo, quando pesquisava nos arquivos de Jacques Rouet, ex-CEO da Dior, e encontrei uma carta assinada pela Princesa Grace de Mônaco, endereçada a “Maison Dior”, agradecendo à equipe por tê-la escolhido como madrinha da boutique “Baby Dior” lançada em 1967. Essa descoberta foi um achado tão comovente que decidimos expô-lo e até mesmo determinar o universo de toda uma vitrine num universo infantil que ilustra os modelos para bebês com a grife “Baby Dior”.

Qual a importância do trabalho de um responsável de coleção num museu?
– Como responsável de coleção a principal atividade que desenvolvemos é a pesquisa nas coleções do museu onde descobrimos verdadeiros “tesouros”. Além disso, as reuniões formais e informais com a equipe são interessantes porque promovem um intercâmbio de novas ideias para a escolha de modelos, temas para montagem de uma vitrine para uma cenografia, por exemplo.

Quais os futuros são os projetos de exposições do Museu Dior Christian?
– O projeto “Uma maison, várias coleções” provavelmente irá continuar nos próximos anos e 2017 é um ano memorável onde festejaremos os 70 anos da “Maison Dior”. Para celebrar este aniversário, o museu irá apresentar a exposição “Christian Dior Granville, casa de infância e de alta costura”, que acontece de 8 de abril a 24 de setembro de 2017, e vai honrar os habitantes locais e as inspirações que marcaram o trabalho de Christian Dior.

Como você definiria o “estilo Dior”?
– Dior é elegância, estilo ousado e atemporal.

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