O atelier de Rodin

31 de maio de 2018

A casa de um artista é, sob vários aspectos, seu refúgio espiritual, um local que reflete o interior de sua alma, dos seus interesses pessoais e que configura um estilo de vida particular, sobretudo, quando seu atelier é uma extensão do seu lar. Esse privilégio o escultor Auguste Rodin tinha em sua residência em Meudon, nos arredores de Paris, onde o artista mudou-se em 1893 com sua esposa, Rose Beuret. Construída no estilo Luís XIII, a Villa Brillants, residência e atelier de Rodin, são referências do talento do escultor, considerado um dos maiores do seu tempo, cuja magníficas esculturas são conhecidas por seu incrível realismo e poder expressivo.

Em Meudon, Rodin esculpiu algumas de suas obras-primas impulsionado pela sua arte, trabalhando incansavelmente para criar peças pessoais e também esculpindo encomendas do Estado para sustentar sua família. Transformada em museu, a casa de Auguste Rodin abriga seus moldes de gesso dos quais foram feitas suas obras mais famosas, como as esculturas de Balzac. Passeando pelos jardins, o visitante pode se deparar com algumas dessas esculturas, como “O Beijo”, que é um convite romântico para os casais que visitam o local. “O museu Rodin em Meudon é o lugar da revelação quase mágica do talento do seu criador, porque existe uma alquimia entre o lugar, a luz e os vestígios de sua personalidade; uma atmosfera combinando intimidade e liberdade, evocação do passado e inspiração para os artistas de hoje,” relata Catherine Chevillot, diretora do Museu Rodin. “Uma espécie de  tempo suspenso em que as obras aparecem sob outros ângulos, estabelecendo um novo relacionamento com o visitante.”

“Meu desejo é que o público descubra este Rodin íntimo e envolvente, que é ao mesmo tempo, o mais imprevisível e o mais original, porque nos permite voltar à fonte da sua essência criativa,” discursa Chevillot. “É um desafio e uma condição de sobrevivência para um museu nacional que, de acordo com os desejos de Rodin, tem autofinanciado todo o seu orçamento operacional desde a sua criação.” Novos projetos de visita e utilização dos espaços serão implementados, através de uma vasta programação cultural, projeção de filmes de animação sobre as técnicas de escultura, abertura de um atelier de Antiguidades, uma das paixões de Rodin, onde vai ser apresentado as obras egípcias e greco-romanas da coleção do artista, além de muitas ofertas para o público em geral. Outros programas de inserção cultural e educação artística para a democratização cultural com o intuito de promover a igualdade de oportunidades, especialmente para o público jovem. “Mais do que nunca, o museu Rodin de Meudon será um lugar de memória, voltado para o público de hoje com ambições de influenciar jovens artistas no futuro.”

Auguste Rodin legou ao Estado a sua obra e, segundo a vontade do artista, o museu Rodin de Meudon é composto de um conjunto de mais de 300 esculturas em gesso e terracota, que fazem parte da coleção do ateliê. Nesse espaço, o visitante descobre a gênese dos principais monumentos, “As portas do inferno”, sem suas figuras proeminentes, tais como Rodin exibiu em 1900, vários passos de Balzac, “Os Burgueses de Calais”, “La Défense”, os monumentos dedicados ao escritor Victor Hugo ou ainda o “Puvis de Chavannes”, entre muitos outros. Nas vitrines, inúmeras imagens ilustram a técnica utilizada por Rodin por volta de 1900 e as “Figuras das Portas do Inferno” estão disponíveis em todas as posições, associadas a outras, através de diferentes combinações, muitas vezes relacionadas a elementos de plantas ou vasos antigos. A atmosfera do atelier é impregnada pelo talento do artista, sua luz natural que se projeta na brancura dos detalhes das obras, brincando com os volumes das esculturas, oferece um espetáculo constantemente renovado de acordo com a hora do dia. A Villa des Brillants oferece uma visão aprofundada do cenário onde o escultor criou alguns dos seus trabalhos mais pessoais, influenciando para sempre a arte do século XX. A casa e o atelier são cercados por um jardim no qual Rodin está enterrado, juntamente com sua esposa, sob o olhar benevolente do Pensador, um dos seus trabalhos mais famosos.

IMAGEM © Christian Nouzillet em reportagem especial para o Correspondance Magazine®

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