Olaf Heine
“Alguns escrevem diários, eu fotografo as coisas que me tocam”, afirma o fotógrafo alemão Olaf Heine. Conhecido internacionalmente pelas suas fotos de capas de álbuns e portraits de celebridades do mundo musical, como Sting, Iggy Pop, U2, Cold Play, além de clicar campanhas de publicidade e editoriais de publicações importantes. Heine participou de várias exposições solos e uma grande parte de suas tiragens figuram em galerias renomadas, museus e coleções de arte privadas. Olaf Heine alimenta uma verdadeira fascinação pelo Brasil a ponto de ter se aventurado durante vários anos pelo país e ter lançado o livro “Brazil” em homenagem ao estilo de vida brasileiro. “Entre 2009 e 2014 viajei para o Brasil provavelmente mais de uma dezena de vezes. Praticamente me dediquei a descobrir, celebrar e encorajar o estilo de vida brasileiro em todas as suas formas, e tentei capturar a estética e o espírito deste belo país além dos clichês já conhecidos. O Brasil e os brasileiros me cativaram com todo o seu vibrante carisma”, confia Herne. Correspondance Magazine® conversou com o fotógrafo que vive em Berlim para saber como surgiu essa paixão brasileira e para descobrir que tipo de imagens ele procurava para publicar em seu livro “Brazil”, lançado pela editora alemã teNeues.
– Conte-nos um pouco sobre este livro “Brazil”. Você viajou pelo país? Quais foram suas impressões?
– Na verdade, tudo começou com a música de Sergio Mendes “Mas que nada”, que uma estação de rádio de Berlim tinha como uma espécie de música tema. A cultura dos anos 60 no Brasil sempre me inspirou: a música Bossa Nova de João Gilberto, Tom Jobim ou Gilberto Gil, a arquitetura de Oscar Niemeyer, Mendes da Rocha ou Lina Bo Bardi e, claro, o seu excelente futebol com Pelé e Garrincha. Tudo isso era tão leve e solto. A primeira vez que fui ao Brasil para documentar um festival de rock no final dos anos noventa, não encontrei essa leveza. Na verdade, tudo parecia bastante difícil e complicado para mim. Todavia, no início dos anos 2000, tive a impressão que uma nova era cultural começava no Brasil com uma nova arquitetura, novos artistas, novas músicas, filmes, literatura e economia florescendo.
O que aconteceu de mais interessante ao longo desses périplos pelo Brasil?
– Depois do lançamento do meu último livro “I love you, but I I’ve chosen rock” (Eu te amo, mas escolhi rock), comecei a rastrear os traços do arquiteto Oscar Niemeyer. Voei para Brasília e me apaixonei pelas curvas e linhas de seus edifícios. Visitei São Paulo e Rio de Janeiro e fiquei viciado. Quando voltei alguns meses depois, conheci Niemeyer e o fotografei. Ele tinha 103 anos. Este encontro teve um efeito duradouro em mim, especialmente quando o arquiteto me contou que tinha se inspirado da paisagem e na forma das curvas das mulheres do seu país para desenhar Brasília. Ele parecia muito nonchalant sobre o assunto. Niemeyer e seu escritório me ajudaram muito a circular pelo Brasil.
Num país tão vasto, como você definiu o ‘quê’ iria ser fotografado? Quais foram as fontes de inspiração para essas fotos sobre o Brasil?
– Tudo o que sabia naquela época era que não queria fotografar as mesmas coisas uma outra vez, por isso, em vez de trabalhar de forma linear e conceitual, comecei à deriva e fiquei vagueando de um lugar a outro. Não sabia o que aconteceria, o que veria ou quem iria encontrar. Estava, sobretudo, curioso o suficiente para absorver toda a inspiração que o Brasil colocava na minha frente e simplesmente olhei ao redor e segui tudo o que me atraiu e me interessou.
O que fez você se tornar um fotógrafo profissional?
– É difícil para mim dizer quando exatamente me tornei um fotógrafo. Meu pai me deu minha primeira câmera quando eu tinha oito anos. E, crescendo, surgiu naturalmente esse desejo de registrar as coisas que me cercam. Mas acho que foram as bandas musicais em que meus amigos tocavam, que me inspiraram a trabalhar de forma mais profissional. Isso foi no início dos anos noventa em Berlim.
Como você descreveria o seu estilo fotográfico?
– Não acredito que minha fotografia seja verdadeiramente realista, simplesmente não tenho essa abordagem. Em vez disso, tento incluir um pouco dos meus sentimentos ou a minha percepção nas minhas fotografias. Não ousaria dizer que meu livro Brasil é uma representação verdadeira do país. Isso não me interessa. Estava apenas aprendendo sobre esse país e, ao longo do caminho, tentei documentar meus encontros e as coisas que me ocorreram. Mariana Lima, uma atriz de teatro que fotografei para o livro, me disse que, olhando para minhas fotos, ela pode sentir o Brasil que capturei. Não é real, mas pode ser porque o que fotografei foi a alma desse povo, uma versão romântica do país atual.
Como você escolhe as temáticas para as suas fotos?
– Bem, acho que meus assuntos me escolhem. Com o livro “Brazil”, minha abordagem era uma abordagem estética mais formal. Segui as linhas orgânicas da arquitetura, as paisagens e as pessoas. Se era a curva impulsiva de uma onda ou a curva sensual de uma menina – estava procurando o núcleo, o coração, a paixão e a parte obscura do que ouvi no violão de João Gilberto. Tentei tirar fotos que podem transportar o sentimento de “um pouco de saudade…”
Você tem algum mentor na área fotográfica?
– Sempre gostei da fotografia de retratos clássicos, como os de August Sander, Irving Penn ou Horst P. Horst mas foi a abordagem em forma de documentário dos fotógrafos de rua do meio do século Robert Frank, Cartier Bresson ou Walker Evans que muito me inspiraram quando comecei a fotografar.
Quais os seus próximos projetos?
– São tantos mas me falta tempo para me dedicar a eles.
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