Pierre Yovanovitch

20 de setembro de 2016

Criado em Nice, no sul da França, o designer de interiores Pierre Yovanovitch é um apaixonado confesso do Mediterrâneo, da luminosidade dessa região, da arquitetura singular da Riviera Francesa. Seu fascínio pelos materiais autênticos apareceu durante as muitas visitas que fez a Vallauris, cidade famosa pela sua produção de cerâmica, mundialmente conhecida graças aos grandes artistas como Picasso. A “Agência Pierre Yovanovitch Arquitetura de Interiores” nasceu em 2001 e, desde então, Pierre Yovanovitch tem deixado sua marca em vários projetos espalhados pelo mundo. França, Reino Unido, Bélgica, Suíça, EUA, Israel são alguns dos seus canteiros de obras e revelam a diversidade do seu potencial criativo. Recentemente seu escritório mudou para uma mansão do início do século XVIII, na rue Beauregard, no 2ème arrondissement de Paris. Totalmente restaurada e remodelada pelo próprio, um espaço que é, de algum modo, a identidade visual e a alma da “Maison Yovanovitch”.

Para falar de suas inspirações, dos novos projetos e de sua experiência internacional, Pierre Yovanovitch concedeu com exclusividade essa entrevista para o Correspondance Magazine® e aproveitou para evocar o design de interiores da nova Galerie Kamel Mennour, na Avenue Matignon, em Paris, um projeto que destaca o seu interesse pela arte contemporânea. “O exercício foi muito interessante para mim. Ao projetar esse espaço, pensei em colocar em evidência a força das obras expostas de modo que os visitantes respirem arte ”, confessa o designer francês.

Conte-nos um pouco da sua história e do seu percurso profissional.

– Minha carreira começou em Bruxelas e, em seguida, em Paris, onde trabalhei com Pierre Cardin e desenhei algumas coleções de moda masculina durante oito anos. Depois dessa experiência decidi me dedicar a minha paixão por design de interiores e abri minha agência “Pierre Yovanovitch Arquitetura de Interiores” em 2001. Hoje somos uma equipe de cerca de 30 pessoas. Acredito que minha experiência no mundo da moda se reflete no meu trabalho atual. Tal qual uma peça de vestuário deve ser arquitetada, ela também deve cumprir uma função e todo esse processo criativo deve ser enquadrado com rigor. Minha assinatura pode ser reconhecida através da palheta de cores que utilizo, das texturas e contrastes de materiais que incorporo ao design do mobiliário, tirando proveito da luz e da atmosfera que vai compor cada ambiente, tudo isso dentro do mesmo projeto. São esses elementos que expressam minha abordagem como designer de interiores.

Quais são suas fontes de inspiração?

– Quando trabalho num projeto, o contexto e o ambiente são uma inspiração. Seria impossível projetar uma decoração de interiores em Nova York ou Tel Aviv como o faria em Paris, Zermatt, Bruxelas ou nos Hamptons. Os clientes me inspiram, assim como minhas viagens e leituras, mas também aprecio, por exemplo, visitar a oficina de um carpinteiro para entender o processo do seu trabalho de criação. Além disso, sou apaixonado por cultura em geral e até mesmo a plataforma Instagram me ajuda a reciclar minhas ideias para poder discuti-las com minha equipe.

Quais adjetivos descrevem melhor o seu estilo?

– Eclético, radical, minimalista e maximalista são as palavras de ordem do meu estilo. Minha assinatura de trabalho também pode ser definida pelo volume, pela sofisticação sem arrogância, pela geometria e pelo contraste das formas. Sou extremamente atento aos detalhes e aprecio os materiais autênticos, como madeira, mármore, pedra, vidro, metal, cerâmica, tecidos naturais, entre outros. Peças de design contemporâneas dos mestres vintage, designers suecos, americanos ou franceses são emblemas da composição do meu estilo e gosto de adicionar móveis que deem personalidade a um interior. Como um grande colecionador de arte contemporânea, não posso imaginar um projeto de design de interiores sem arte. Em alguns projetos, conividamos os artistas com os quais trabalhamos, com o intuito de que as obras possam interagir com a arquitetura e a decoração.

Como você escolhe os materiais que vai utilizar em seus projetos?

– Gosto de materiais nobres e prefiro a força de um material natural. Minha ideia é que eles ecoem no espaço.

Você costuma trabalhar sob o ritmo das tendências ou segue sua intuição?

– Tenho recusado ao longo dos anos ser ditado pela moda ou pelas tendências. Minha prioridade na arquitetura de interiores é com as linhas tensas suavizadas com a presença de curvas e alcovas, um ambiente sóbrio aquecido por materiais como madeira, pedra e incrustações de mármore, têxteis que alternam suavidade e rugosidade com uma iluminação difusa e sutil que realça detalhes arquitetônicos. Meu desafio é criar uma certa tensão entre o local, as tendências, os materiais, as peças de design e as obras de arte para desenhar uma assinatura atemporal. Na minha opinião, uma abordagem arquitetural contemporânea não deve alterar o espírito de um lugar mas se valer das formas clássicas com certa sutileza.

Existem personalidades na decoração, no design ou em outra area que influenciaram você? Como e por quê?

– Sempre fui muito interessado em artistas contemporâneos do século XX, sejam escandinavos, americanos ou franceses. Entre os que me inspiraram pessoalmente poderia citar Paul Dupré-Lafon, que já era muito radical em seu tempo e trouxe uma nova invenção do desenho de linhas tensas e o uso de materiais simples mas sofisticados ao mesmo tempo, como metal, mármore, pergaminho. Jean-Michel Frank por sua sutileza e pelo sentido da planta. Além disso, a arte contemporânea me inspira muito. Gosto especialmente do artista contemporâneo Imi Knoebel, cujas obras de formas geométricas são minimalistas e singulares.

Conte-nos um pouco sobre seus novos projetos…

– Tenho tido a oportunidade de me expressar através de diferentes projetos residenciais, institucionais, comerciais e hotéis ao redor do mundo. Os nossos projetos atuais incluem um castelo do século XVII na Provence, dois apartamentos no Central Park West e na Quinta Avenida, em Nova York, uma casa nos Hamptons, duas mansões em Bruxelas, uma mansão de 2.500m² na Esplanada dos Invalides em Paris, dois grandes apartamentos contemporâneos numa torre à beira-mar em Tel Aviv, um conjunto de apartamentos de luxo em Londres, um tríplex de 900 m² no Cairo. Estou ainda conduzindo o projeto de renovação de Saran Castelo Champagne, da Maison Moët & Chandon com previsão para reabertura no Outono de 2017.

Como você se define: designer de interiores, decorador, criativo ou ambos?

– Meu papel como designer de interiores é me colocar à disposição do cliente para criar um espaço onde ele vai se sentir melhor em casa e para que isso se realize a relação de confiança é primordial. Este é um trabalho conjunto que dá profundidade a um projeto. Em função do desejo e da necessidade do cliente o espectro de minha intervenção se define, podendo englobar da arquitetura pura ao paisagismo mas em geral atuamos nos espaços interiores, sua disposição, no mobiliário e decoração respectivos. Um lugar é para a pessoa que vai viver lá. Portanto, é essencial para mim entender como os meus clientes vivem, se eles gostam de receber, se viajam com frequência, é importante conhecer os hábitos dos clientes para estabelecer um diálogo e responder às suas necessidades. Em alguns casos, meus clientes têm opiniões fortes e sabem o que querem e o que não querem. Nesse caso trocamos ideias e princípios. Mas existem clientes que não tem ideias específicas, por isso, precisamos dar o primeiro passo, propor formas para que eles reajam. Um projeto representa muitos meses de trabalho e é imprescindível que o relacionamento com meus clientes seja o mais justo, sincero e amigável possível.

Que gênero de projeto você ainda não realizou e gostaria de fazê-lo?

– Depois de ter realizado a cenografia de exposições, como a “Patinoire Royale” em Bruxelas ou a nova Galeria Kamel Mennour em Paris, gostaria de tentar a decoração de teatro, especialmente para a cenografia de obras de ópera com repertório do século 20. Acredito que teria uma legitimidade neste registro, que é um dos meus preferidos. Além disso, um dos meus desejos para o futuro é fazer uma casa de A a Z: das bases ao toque final na decoração.

Com o que você sonha?

– Em ter tempo para sonhar!

www.pierreyovanovitch.com/

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