Questionando certezas
“Quem disse que pesquisa é importante para mim?” Essa é a abordagem irreverente do designer Marteen Baas, quando questionado sobre as pesquisas que empreende para criar seus projetos. Baas acaba de ganhar uma exposição solo no Design Museum Ghent, na Bélgica, “Hide & Seek”, em cartaz até 30 de setembro, que foi pensada e planejada durante anos. Essa é a primeira grande exposição individual desse aclamado designer holandês, que engloba os últimos 15 anos de carreira e do talento versátil de Marteen Baas, e conta com trabalhos célebres que datam da sua pós-graduação, até algumas de suas mais recentes encomendas, incluindo as coleções Smoke, Clay e Real Time. Correspondance Magazine® conversou com o controvertido designer holandês, que queima literalmente etapas no processo criativo para chamar a atenção do público para o que ele considera importante: questionar algumas certezas.
Como você se preparou para a montagem dessa exposição solo sobre suas criações?
– Sempre quero contar histórias. Para mim, cada conceito é uma nova história. Muitas vezes uma história em que questiono algumas certezas. Certezas sobre o tempo, sobre a beleza, sobre a presença. Então, a exposição também precisa contar as histórias em uma determinada ordem. Primeiramente eu “queimo” a história com minha coleção Smoke, e então começo algo novo, uma nova vida, com a coleção Clay. A última parte dessa história é “Posso ter sua atenção?”, que aborda o desejo de todos de serem ouvidos, recebendo e prestando atenção. Isso é ideal para ser apresentado no final de uma exposição para acelerar o processo de compartilhamento, de pensamentos e opiniões, do público.
Quais critérios você utilizou para selecionar as criações que iriam figurar em “Hide & Seek”?
– Tudo começou com uma longa lista de peças que considero representativas. Feito isto, comecei a afiar detalhes com os curadores, constantemente perguntando qual peça adicionar, ou qual delas não era necessário ser apresentada. Cada sala é uma declaração clara em si mesmo.
O que você considerou mais gratificante nesse processo de montar uma exposição solo?
– Para mim, é bom ver tudo o que criei intuitivamente, para perceber que isso faz sentido no meu processo criativo. Uma nova história é criada juntando tudo, isso também é novo para mim. E, claro, as reações positivas também são recompensadoras. Como uma peça teatral: o artista precisa interagir com seu público, senão ele se mata. Sendo assim, também preciso de respostas e fico feliz quando essa resposta é positiva.
O que despertou seu interesse pelo design?
– Desde a minha infância queria me tornar ou fazer algo “criativo”. Música, teatro ou escrita, mas não consegui encontrar a área certa. Então eu vi um amigo do meu irmão projetando uma cadeira e pensei: isso é algo para mim. Gostei das restrições da função versus a liberdade de interpretar essas fronteiras. Sempre me senti como um artista que usa objetos funcionais para se expressar.
O que mais fascina você nesta área e o que o público pode esperar de “Hide & Seek”?
– A exposição é muito pessoal e universal ao mesmo tempo. Por exemplo, a sala “Baas está na cidade” poderia ser sobre o equilíbrio entre o nosso eu autônomo e autêntico e o mundo exterior, sobre o qual você precisa se adaptar. Uso esse tema de uma maneira específica como um artista que faz um show mas não sabe como (a peça central é uma lâmpada de neon escrita SHOW, mas o S está quebrado, então aparece HOW), mas é o mesmo dilema para todos pessoalmente. Acho que cada sala tem uma leitura pessoal e significante. Uma cadeira queimada de Rietveld não é sobre Rietveld, pode ser sobre o fato de que os dogmas com os quais você cresceu estão mudando, diz respeito a seguir em frente e deixar o passado para trás. Clay poderia ser sobre a ingenuidade interior versus a mente racional. Assim você pode ver muitos temas nos vários trabalhos.
De onde vem sua inspiração de um modo geral?
– Dos artistas. Alguns artistas holandeses, como Wim T. Schippers ou Teun Hocks ou, internacionalmente, Erwin Wurm.
Quem é Maarten Baas?
– A exposição é chamada “Hide & Seek”, porque não conheço a resposta para essa pergunta.
IMAGEM © Lisa Klappe © Marten de Leeuw © Erwin Olaf © Adriaan van der Ploeg © Maarten Van Houten © Bas Princen
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