Suzanne Valadon

6 de dezembro de 2020

Filha de uma lavadeira solteira, Suzanne Valadon, que nasceu Marie-Clémentine Valadon, nunca conheceu seu pai e esse evento a rotulou a vida inteira como marginalizada, transgressora e rebelde, características que Valadon abraçou à medida que se desenvolvia como pessoa e como artista e as transformou até se tornarem positivas. Aos cinco anos, Suzanne Valadon mudou-se com a família para Montmartre, uma pequena área animada que conseguiu manter uma certa qualidade de vilarejo e que, como tal, lembrava-lhe do seu lar em Bessines-sur-Gartempe, centro-oeste da França. Montmartre era conhecido como o bairro boêmio de Paris, onde viviam artistas, prostitutas, cafetões e outros personagens criativos e incomuns. A família se sentia à vontade nesse ambiente e Valadon cresceu vagando pelas ruas, brincando e fazendo travessuras, enquanto sua mãe trabalhava como faxineira. Essa infância livre, sem regras a levou a se transformar em uma artista sem limites morais.

“Mas, como se tornar um artista quando você nasce mulher?” Sua atitude e os retratos de Valadon encorajaram as mulheres a procurarem por si mesmas e a reivindicarem um ponto de vista pessoal sobre a arte delas. O catálogo, “Valadon e suas contemporâneas. Pintoras e Escultoras, 1880-1940”, que faz parte da exposição homônima, em cartaz até 14 de fevereiro de 2021 no Musée des Beaux-Arts de Limoges e de 13 de março a 27 de junho de 2021 no Monastère Royal de Brou, na cidade de Bourg-en-Bresse, discursa sobre essas referências de feminismo na arte. A publicação é editada pela In fine editions d’art e regrupa quase cinquenta artistas-escultoras renomadas, como Camille Claudel, Sonia Delaunay, Marie Laurencin, Séraphine de Senlis, Tamara de Lempicka e outras menos conhecidas, como Gerda Wegener, que participaram desse momento marcante e histórico da arte.

Essas mulheres-artistas demonstraram na virada do século 20 que o valor artístico de uma obra não está diretamente relacionado ao gênero. Ilustrado com mais de cem obras, este livro permite pela primeira vez compreender de forma ampla as contribuições de pintoras e escultoras, que participaram da explosão artística francesa entre 1880 e 1940. Liderando os movimentos de vanguarda, elas se armaram como criadoras experientes, abordando todos os assuntos, incluindo um dos maiores tabus do seu tempo: o nu masculino. Nesta virada do vigésimo século, as mulheres finalmente praticam o nu, tanto feminino quanto masculino, e assim se reapropriam do seu próprio corpo, por muito tempo separado da essência do seu ser. Como Suzanne Valadon começou sua carreira nas artes ainda adolescente, no bairro de Montmartre, posando como modelo para artistas que patrocinavam o cabaré Lapin Agile, ela se tornou a porta-voz dessa conquista feminina.

Seus clientes incluíam artistas como Pierre Puvis de Chavannes, Pierre-Auguste Renoir e Jean Louis Forain. Com a ajuda deles, além de Henri de Toulouse-Lautrec e Edgar Degas, Valadon aprendeu a pintar e, aos 44 anos, foi capaz de se concentrar exclusivamente em sua carreira artística. Suzanne Valadon viveu e trabalhou no epicentro absoluto da Paris artística em seu apogeu, foi uma modelo e uma amiga querida de alguns dos artistas mais famosos de sua geração, bem como uma artista inovadora por direito próprio. Ela forjou uma carreira no mundo dos homens, desafiou as convenções do nu e esculpiu um novo espaço crítico em relação ao corpo de uma mulher. Valadon foi a primeira mulher admitida na Société Nationale des Beaux-Arts e suas representações ricamente coloridas de banhistas e naturezas mortas florais estão entre suas obras mais veneradas. As obras da artista e de suas contemporâneas podem ser apreciadas nas coleções do Centre Georges Pompidou, em Paris, no Art Institute of Chicago e no Museu de Arte Moderna de Nova York.

EDIÇÃO DE TEXTO – Marilane Borges

IMAGEM – Cortesia da editora In Fine éditions d’art © Todos os direitos reservados

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