Tempestade à vista
Para o visitante que se concentra atentamente nas criações de Benjamin Poulanges, a impressão que se tem é a de estar em órbita observando as nuvens negras de tempestade que se formam em torno do globo terrestre. O vigoroso realismo de suas pinceladas é uma constatação do seu talento pictural, que se apóia num médium inusitado, a cerâmica, com a qual o artista imprime sua energia metafísica em potes, vasos, jarros e ânforas. Sua mais recente exposição, intitulada de “Orage” pode ser admirada na Galeria Negropontes, em Paris, até 30 de novembro, e reúne um corpo de quinze peças de formas variadas.
“Orage” ao primeiro olhar parece experimental, mas Benjamin Poulanges se debruçou para encontrar abordagem instintiva para utilizar a argila verde de San Sepolcro, Itália, com o objetivo de transformá-la em obra de arte. O processo começa com um forno aquecido à mais de mil graus, que transforma a terracota num vermelho intenso. Para que a cerâmica possa receber cores, as peças ao saírem do forno são envolvidas em uma fina camada branca e, em seguida, esses grandes potes de barro são pintados em matizes sombreadas, enriquecidas com tintas e esmaltes, mate e cetim, branco, preto, azul cobalto. A mistura dessas gradações associadas à veemênia das pinceladas impressas por Poulanges desenham espectros de tempestade de um realismo extraordinário.
A grande geniosidade do trabalho de Benjamin Poulanges consiste em transformar peças utilitárias do cotidiano em obras de arte decorativas de extrema beleza. Suas criações usufruem do privilégio de se valer da pureza do suporte, a cerâmica, que se molda generosamente às camadas sobrepostas em tonalidades de branco, preto, azul cobalto, traçando a intensidade das tempestades que o artista, com seus pincéis mágicos, desenha de forma livre e abstrata.
IMAGEM © Benjamin Poulanges, Orage, 2018 © Matthieu Salvaing
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