A nova parisiense
Lindsey Tramuta é a embaixadora americana da cultura francesa. Vivendo há anos em Paris, como correspondente para várias revistas e jornais de língua inglesa, essa jornalista americana fez da sua vivência como ‘parisiense’ uma missão, a de promover o estilo de vida à francesa para o público internacional. Seu mais recente livro The New Parisienne: The Women & Ideas Shaping Paris, em tradução livre, “A nova parisiense: as mulheres e as ideias que moldam Paris”, publicado pela editora Abrams tem imagens clicadas pela talentosa fotógrafa Joann Pai e ilustrações de Agathe Singer.
Esse novo projeto editorial se debruça sobre as mulheres que fazem Paris ser o que ela é, uma capital de estilo, criatividade e um universo feminino singular que faz a cidade ser referência internacional. Com o objetivo de delinear a biografia das novas parisienses, Tramuta se debruça exatamante sobre o perfil de mulheres não tradicionais, que nem sempre aparecem na mídia internacional, mas que são personalidades de renome na cultura local. Para o leitor que não conhece os códigos sobre o real significado de ser parisiense, a autora fez um levantamento histórico sobre o mito da parisiense e estabeleceu contrapontos com as novas criativas, que moldam Paris. Como a Prefeita Anne Hidalgo, Sarah Zouak, Rokhaya Diallo, Lauren Bastide, Leïla Slimania ativista anti-racista Lauren Bastide, e muitas outras.
Todas as biografias apontam para o fato de desconstruir a imagem de uma parisiense de revista, para colocar em evidência pessoas realmente atraentes com histórias de vida e combate fascinantes. Todas essas mulheres com experiências tão diferentes são um exemplo a ser seguido por todas as pessoas que almejam assumir o controle de suas vidas. Para partilhar suas ideias e motivações sobre “A nova parisiense: as mulheres e as ideias que moldam Paris”, a autora conversou com a editora do Correspondance Magazine®.
Esta é a sua 2ª publicação sobre o estilo de vida parisiense, qual foi sua inspiração para escolher este novo projeto?
– O primeiro livro, The New Paris, pretendia oferecer uma perspectiva alternativa sobre uma das cidades mais amadas e visitadas do mundo. Por muito tempo, a narrativa em torno de Paris se concentrou na grandeza e no peso do passado e, especialmente, na resistência da cidade à mudança. Achei que era uma perspectiva limitada que omitia as tremendas inovações, ideias e evoluções que tornaram a capital um lugar dinâmico para se viver e visitar. Da mesma forma, eu queria oferecer uma visão mais ampla e menos redutiva de uma das características que definem a cidade: suas mulheres.
Você poderia apresentar, em suas palavras, “The New Parisienne” para nossos leitores?
– Por gerações, a imagem da mulher parisiense foi codificada por meio de representações literárias, histórias de revistas, cinema convencional e mídia popular. Faço alusão ao trabalho de Jean-Jacques Rousseau, como os leitores poderão ver na introdução do livro. O que isso nos deixa é uma representação resultante do acúmulo dessas representações ao longo do tempo e quase todas elas focam em seu eu exterior, não em quem ela é como pessoa. Ela é magra, quase sempre heterossexual. Ela tem um estilo impecável e afeta uma elegância ou nervosismo que nos dizem ser inatos. E, claro, ela é branca. Ela nasceu na França. Ela é talentosa na sedução e exala uma liberdade sexual que as mulheres estrangeiras verão como uma aspiração. Claro, nada disso reflete a maioria da população. Portanto, a NOVA Parisienne não significa que essas mulheres sejam jovens como no romance, mas sim que elas e suas vozes raramente são celebradas ou destacadas dessa maneira.
Quanto tempo você demorou para planejar este livro?
– Todo o processo, da proposta ao lançamento, levou dois anos! Mas tive cerca de 9 meses para pesquisar, entrevistar, escrever e fotografar o projeto inteiro. Foi uma maratona!
Conte-nos sobre as criadoras incluídas em “The New Parisienne”. Como você as encontrou?
– Tinha uma lista restrita que incluí na minha proposta de livro, composta por mulheres cujo trabalho eu vinha seguindo há anos e sabia que queria passar um tempo conversando com elas e aprendendo com elas – mulheres como Rokhaya Diallo, Lauren Bastide, Leïla Slimani e Amélie Viaene. Outros nomes me foram recomendados ou faziam parte da minha rede de contatos próximos. O mais importante para mim foi incorporar uma multiplicidade de origens e vozes na tentativa de apresentar uma representação mais adequada da população.
Qual foi o seu maior desafio para organizar este livro?
– Ter que fazer uma seleção. Havia tantas outras mulheres que teria adorado incluir, mas não consegui me conectar com elas a tempo ou não tinha espaço suficiente no formato do livro para incluí-las. Mesmo assim, estou emocionada com o resultado e as histórias que pude compartilhar!
Qual é o seu fato favorito sobre essas parisienses e por quê?
– Cada uma delas tem um profundo amor e afeição por Paris, não importa o quão difícil seja sua vida na cidade. Paris, continua sendo, para a maioria dessas mulheres, um berço estimulante de criatividade e debate permanentes.
O que a surpreendeu nessas criativas parisienses em geral ao longo dos anos?
– Que tantas das mais talentosas criadoras, pensadoras, escritoras quase nunca recebam a atenção internacional que merecem! Acho que isso tem a ver com o mito: é difícil para a mídia estrangeira dissociar Paris e seu povo das suposições que fizeram sobre eles. Como resultado, a atenção tem sido dada a criadores ousados vindos de outras cidades européias.
Por que é importante para você mostrar “The New Parisienne” aos leitores?
– Porque o arquétipo e o mito que todos conhecemos apaga a enorme e revigorante diversidade da população e ignora os muitos obstáculos à sua verdadeira liberdade. Esta continua sendo uma sociedade patriarcal onde as discriminações, especialmente contra as mulheres, são legião. Mas o arquétipo a transformou em uma marca e fortaleceu Paris como um carimbo de qualidade, o que significa: essa imagem longamente mantida é lucrativa. Era hora de mudar essa narrativa!
Em termos de assuntos para outra publicação, o que está por vir?
– Estou apenas começando a pensar no que pode acontecer a seguir! Não posso dizer nada especificamente, mas posso garantir que será sobre uma narrativa única.
EDIÇÃO DE TEXTO – Marilane Borges
IMAGEM – Cortesia da editora da autora e da editora Abrams © Joann Pai © Todos os direitos reservados
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