O dândi do violino
Charlie Siem tem uma carreira musical invejável e, aos 30 anos, foi um dos mais jovens professores de música do Reino Unido. Sua virtuosidade ultrapassa sua maestria com as notas musicais e seu carisma conquistou o mundo das artes em geral. Com sua beleza e elegância naturais ele seduziu o universo da moda e sua imagem é comumente associada às grandes marcas de haute couture como Dior, Hugo Boss, Armani ou Chanel. Esse estilo de vida internacional contribuiu para sua reputação como artista pop, apesar desse talentoso violinista ter um repertório baseado especialmente na música clássica.
Sua formação no Royal College of Music com Itzhak Rashkovsky e, posteriormente, com Shlomo Mintz, e seus estudos no Eton College e na Universidade de Cambridge, conferiu a Siem uma latitude sem precedentes para a consistência da sua carreira artística. Siem se apresentou com algumas das mais importantes instituições musicais do mundo, como as Orquestras Filarmônicas Real de Moscou e de Rotterdam; as Orquestras Sinfônicas Nacionais Tcheca e de Oslo, e foi regido por grandes maestros, incluindo Charles Dutoit, Edward Gardner, Yannick Nézet-Séguin, Sir Roger Norrington, Libor Pesěk e Yuri Simonov, além de ter tocado para a Rainha da Dinamarca.
Neste ano, especialmente durante o período de confinamento, Charlie Siem em companhia do pianista Itamar Golan, decidiram criar um repertório com faixas de música clássica e lançar o primeiro álbum de Siem, batizado de Between the Clouds, que inclui obras de Kreisler, Sarasate, Paganini, Elgar e Wieniawski. Conhecido internacionalmente por seu ouvido treinado, Siem confessa amar a música brasileira, “já toquei várias vezes no Brasil, minha primeira grande apresentação foi no Rio em 2002 e guardo no coração um lugar especial pela música brasileira”, confessa nosso entrevistado.
Para falar de sua paixão pelo violino, pela música e do seu novo álbum, “Between the Clouds”, lançado pela Signum Records, Correspondance Magazine® conversou com exclusividade com o violinista britânico Charlie Siem. Durante o proceso de gravação e curadoria das faixas para “Between the Clouds”, Siem nos contou não saber necessariamente para onde estava indo, em um sentido filosófico, mas que se sentia, literalmente, nas nuvens. O álbum, que tem um estilo de música de salão parisiense, revela a incrível versatilidade desse artista, que tem o requinte como uma de suas marcas registradas.
Quanto tempo você levou para planejar seu álbum “Between the Clouds”?
– Foi bem rápido porque o Itamar (Golan, o pianista) e eu tínhamos uma seleção de peças virtuosas que tocamos regularmente e sentíamos que se harmonizariam bem em um álbum. “Between the Clouds” é uma coleção de algumas das minhas peças favoritas para violino e piano, que funcionam como um programa de recital, que pode ser executado após a sonata.
Quais foram as etapas para preparar um álbum com esses clássicos?
– Essas partituras fazem parte do repertório de violino com as quais cresci. Os personagens que as escreveram são meus conhecidos e muito do meu próprio desenvolvimento musical e técnico foi moldado por eles.
Como você encontrou ideias para incluir nesta coletânea musical?
– Tenho muito carinho por este repertório de salão virtuoso. “Between the Clouds” é uma seleção muito pessoal do repertório central e foi uma alegria poder registrá-lo para compartilhar essa leveza de espírito com o meu público.
Por que é tão importante para você compartilhar essa seleção com o público?
– O processo de gravação de “Between the Clouds” foi maravilhoso porque tive a oportunidade de me questionar diretamente e criticar o que o que ouvia para poder me aperfeiçoar. Para se apropriar desse momento intenso, você tem que tocar, interpretar uma peça musical que tem milhares de notas, fazer com que todas se encaixem, preencher frases e, por assim, erguer a arquitetura da música no ar, para que ela crie algo coerente e identificável para uma audiência. Além disso, amo trabalhar juntamente com meus colaboradores para buscar uma forma expressiva de comunicar essa emoção musical e “Between the Clouds” traduz esse estado de espírito.
Qual é a parte mais gratificante de tudo isso para você?
– Ter conseguido gravar com meu grande amigo Itamar Golan.
Você saberia explicar por que você ama música?
– A música é uma arte abstrata e intangível que pode levar as pessoas ao âmago do seu ser. Sendo definida pelas ondas sonoras e pelo tempo, ela transcende o mundo material e qualquer metáfora em que a maioria das artes se baseia. Amo a música porque ela vai direto ao âmago do significado dessa essência e se faz presente.
Como essa paixão pelo violino e consequentemente pela música surgiu?
– Sempre toquei violino, comecei a tocar quando tinha três anos e nunca olhei para trás. Foi minha mãe quem me apresentou o instrumento. Ela costumava tocar música e realmente me apaixonei por isso. O repertório para violino é particularmente especial e ele se presta a uma variedade infinita de interpretações. Algumas das grandes peças que costumava ouvir quando era criança são absolutamente inspiradoras e estimularam a minha imaginação. Foi o desejo de interpretar essas músicas que ouvia na minha infância, que me levou a dedicar minha vida a tocar violino e seguir minha carreira nesse domínio artístico.
Quais desafios os desafios de ser um violinista?
– Como violinista amo o desafio de interpretar os grandes clássicos e ter meu momento no palco, que é único, para compartilhar essa emoção ao vivo com o público. A chave de ser um bom músico é se encontrar na música. Como violinista tenho que ler as notas e criar uma interpretação. Nesses momentos sempre ofereço uma parte de mim mesmo dentro do significado da música, a fim de traduzi-la ao público e que este perceba que há algo comovente e significativo nela.
Se as pessoas pudessem tirar apenas um ponto importante sobre o seu álbum “Between the Clouds”, o que você gostaria que fosse?
– “Between the Clouds” foi criado para fazer as pessoas sorrirem e apreciar o quão fundamental a música é para os seres humanos. Meu objetivo é o de poder partilhar minha paixão por essa arte com o público em geral.
EDIÇÃO DE TEXTO – Marilane Borges
IMAGEM – Cortesia do artista Charlie Siem © Todos os direitos reservados
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