Decifrando Brancusi
Doïna Lemny em sua mais recente publicação Brancusi, la chose vraie, em tradução livre “Brancusi, a coisa verdadeira”, lançada pela editora Gourcuff Gradenigo, considera esse livro como um trabalho monográfico sobre o artista. Resultado de mais de vinte anos de pesquisas, questionamentos, investigações em museus e coleções particulares, além de leituras e debates com colegas, “a acumulação de toda essa informação permitiu-me ter um olhar relevante sobre este artista singular do século XX, que revolucionou a escultura ao opor-se a Rodin sem negá-lo. É este aspecto que é amplamente apresentado no livro”, afirma Lemny.
“O que me permitiu diversificar o meu ponto de vista e enriquecer os ângulos de visão sobre o artista foram outros livros e artigos que escrevi sobre Brancusi e outros artistas, como Henri Gaudier-Brzeska, Antoine Pevsner. Também publiquei livros de sua correspondência com personalidades do meio artístico, como Marcel Duchamp ou a dançarina romena, Lizica Codréano, personalidade singular na vanguarda parisiense, e de sua correspondência amorosa com uma dançarina suíça, Marthe Lebherz.”
Correspondance Magazine® conversou com a autora durante o lançamento do livro “Brancusi, la chose vraie” e ela nos deu pistas sobre a personalidade misteriosa do artista romeno Constantin Brancusi, intimamente ligada à sua criação, no universo fechado do seu atelier. Nesse livro, Doïna Lemny consegue traçar um retrato sutil e, ao mesmo tempo, renovado de um dos artistas mais importantes do início do século XX.
Decifrando um artista – Conhecer um artista é dar uma boa olhada em suas criacões, compará-las com outras obras de artistas da mesma época e de épocas anteriores. É também investigar seus arquivos: notas de atelier, correspondências, ler tudo o que foi escrito sobre ele. Significa também dar-se tempo para refletir sobre certos aspectos de sua criação e relacioná-los com certas peças do arquivo ou certas declarações do artista.
Momentos importantes – Como sua marcante presença com Miss Pogany no Armory Show em Nova York em 1913, o escândalo causado pela modernidade de sua escultura Princesa X, em 1920 no Salon des Indépendants, bem como o processo contra a alfândega americana (1926-1928) em torno de L’Oiseau dans l’espace, uma prova que ganhou e que continua a ser um momento fundador da escultura moderna.
Paixão pela arte – Parte importante de sua criação é a fotografia, arte à qual Brancusi se dedica com paixão. Centenas de fotografias representando essas esculturas de diferentes ângulos revelam sutilmente o olhar do escultor sobre suas próprias criações.
Auto-imagem e criação – Seus autorretratos no ateliê exibindo-o trabalhando, descansando ou mesmo olhando discretamente para suas próprias obras completam a apresentação de sua criação: esculturas, desenhos, guaches e aquarelas.
Desconstruindo Brancusi – O artista é unanimemente conhecido como um personagem misterioso, cuja personalidade complexa resulta da feliz união de um “camponês” dos Cárpatos e um artista moderno de Montparnasse.
Escultor singular – Brancusi inovou na escultura porque se deu tempo para refletir, para não mais repetir os métodos que seus colegas praticavam e para encontrar seu próprio caminho. Adotou assim um método ancestral: o corte direto que lhe permitiu entrar em um diálogo profícuo com o material.
Reminiscências – Em suas anotações no atelier e em seus aforismos, ele expressa isso com sutileza: “A simplicidade não é um objetivo na arte, mas conseguimos alcançá-la, aproximando-nos das coisas com significado real. As formas refinadas, despojadas de todos os detalhes, saem desse longo diálogo e focalizam a essência dos seres e das coisas.”
EDIÇÃO DE TEXTO – Marilane Borges
Reportagem Especial Correspondance Magazine®
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