Cézanne na Suíça

3 de julho de 2017

Naturezas mortas, paisages e figuras, catalogadas por década e por tópico, favorecem uma progressão na trajetória artística de Paul Cézanne (1839-1906), formando o corpus da exposição “O canto da terra”, em cartaz até 19 de novembro, na Fundação Pierre Giannnada, localizada em Martigny, na Suíça. Identificado pelos seus contemporâneos como o pai da modernidade, o curador Daniel Marchesseau escolheu representar o talento desse artista excepcional através de cerca de cinquenta paisagens, uma dezena de naturezas mortas, quinze retratos e uma dúzia de composições emblemáticas composta por Banhistas.

Paul Cézanne, o pintor que conhecia a terra e sabia pincelar a paisagem com as cores da Provence, segue diariamente um rito quase sagrado. Todos os dias ele sai da casa de seu pai, Jas de Bouffan, em Aix-en-Provence, e numa carroça puxada por dois cavalos se dirige à pedreira de Bibemus, onde tem uma pequena cabana diante da montanha Sainte-Victoire. Em torno dele, as rochas vermelhas ainda visíveis pelas escavações das operadoras de de mina que lhe esculpem uma geometria imprecisa e quase uma tela para Cézanne. Nessa paisagem, quase surrealista, os pinheiros, cujos troncos sob a violência do sol tem tonalidades entre o verde e o roxo, e os ramos ilustram um céu saturado em poderosos e profundos matizes de azul, formando o panorama ideal para um artista intimista, que soube reproduzir essa inspiração da natureza em suas pinturas.

Nascido em 1839, Paul Cézanne viveu em Paris onde cursou a escola do Louvre, pintou em Auvers-sur-Oise, entre outros, na companhia íntima de Camille Pissaro, cujas obras revelam os mesmos fundamentos e, ao mesmo tempo, enormes diferenças os separam. Cézanne nunca pintou como Pissaro e, mais amplamente, Cézanne nunca pintou como um impressionista. Sua linguagem crua é livre, pessoal, intransferível, assim como sua forte relação com a terra e personalidade secreta. Observando suas telas é possível constatar esse mistério como uma fronteira bem delimitada: a do seu próprio talento forjado, entre outros, pelo seu temperamento calmo, contemplativo, e uma completa dissociação com a maneira de pintar dos outros. “No fundo, Cézanne era um provinciano, um homem do interior”, atesta o curador Marchesseau.

São esses detalhes, que ficam explícitos nas obras selecionadas por Daniel Marchesseau para compor a exposição “O canto da Terra”, escolhendo expor telas como o “Jeu de cache-cache, d’après Lancret” (1862-1864), o “Village des pêcheurs à l’Estaque” (1867-1869) ou ainda os “Rochers”, (1867-1870). Apostando também na produção do artista entre os anos de 1860 até o início do século XX com as telas “Deux enfants d’après Prud’hon” (em torno de 1860) ao “Ciel entre les arbres” (1862-1864), de “La Neige fondue à l’Estaque” (1870) à “La Côte de Jalais à Pontoise” (1879-1881), obras que evidenciam o vasto talento e a diversidade do trabalho de Paul Cézanne e as inovações artísticas desse grande caminhante solitário.

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