Corto Maltese
Boné de marinheiro, argola numa das orelhas, sorriso maroto e olhar de soslaio, eternizado por Hugo Pratt (1927-1995), esse é Corto Maltese que encarna o herói de todos os mares nas histórias em quadrinhos. O mais famoso personagem da Marinha é o alter-ego do seu criador na exposição “Hugo Pratt e Corto Maltese 50 anos de viagens no mito”, apresentada no “Museo della Storia di Bologna – Palazzo Pepoli” até 19 de março.
Desenhista habituado a usar canetas, lápis, nanquim e aquarelas para criar seus personagens, a verdadeira marca registrada de Pratt é a elegância e o refinamento do seu traço. O “Museo della Storia di Bologna – Palazzo Pepoli” expõe mais de uma centena de obras , entre desenhos, edições de gravuras, silkscreens em metal, panorâmicas digitalizadas e croquis. Fortemente influenciado pelos comics americanos mas também pelo cinema, os desenhos de Pratt parecem storyboards onde alguns dos enquadramentos, os jogos de luz e sombras, e o movimento evocam a sétima arte. O traço de Pratt revela a poesia e os mistérios do mar, que parecem emergir de seus scripts sob a forma de personagens tão reais como Corto Maltese, que faz com que cada marinheiro sonhe mergulhar na experiência de reviver suas peripécias.
Não é por acaso que Corto Maltese faz sonhar, afinal, a vida de Hugo Pratt conjuga desenho e viagens: de Veneza a Buenos Aires, de Londres a Lausanne, passando por Paris, o desenhista traçou ao longo de sua vida e através de seus múltiplos encontros, uma obra universal marcada pelo seu maior personagem, o aventureiro Corto Maltese. Nascido em Rimini em 1927, Hugo Pratt passou sua infância em Veneza. Filho de uma família cosmopolita com origens diversas: inglesa, francesa, turca e moura, ele aprendeu com a mãe, que transmitiu sua paixão pelo esoterismo, a seguir o conselho dos astros. Supersticioso, apesar de ser um grande viajante, o desenhista tinha pavor de voar de avião e mantinha como hábito consultar, nos aeroportos, todas as revistas que ofereciam previsões de horóscopo. Se uma delas anunciasse catástrofes iminentes, Pratt anulava imediatamente seu vôo.
Em 1936, seu pai, que era militar, foi transferido para uma colônia italiana quando o jovem Hugo tinha apenas 14 anos. Essa experiência multicultural, onde italianos, ingleses, etíopes e senegaleses conviviam em harmonia marca para sempre a vida do desenhista, que fica fascinado pelos uniformes militares. De volta à Itália em 1943, depois da morte do seu pai, Hugo Pratt freqüenta o colégio militar e torna-se intérprete do exército aliado no final da guerra. Em 1945, ele se torna desenhista-colaborador da revista “Ás de Pique”, título que posteriormente foi adquirido por uma editora na Argentina, para onde ele se muda. Com a situação econômica degradante naquele país, Pratt volta à Itália (1962), depois de ter trabalhado dois anos em Londres.
Em 1967, ele lança, com o apoio de um mecenas, a revista mensal Sgt. Kirk, que apresenta ao público italiano as obras do período em que viveu na Argentina, mas também os clássicos americanos e suas próprias novidades. Na primeira edição, Hugo Pratt revela nove lâminas de uma nova história: “La ballade de la mer salée” (A balada do mar salgado) e seu novo personagem: Corto Maltese. O ano de 1970 marca uma verdadeira reviravolta na carreira de Pratt, quando a direção de Pif Gadget, um dos jornais de maior tiragem da época, decide publicar as aventuras de Corto Maltese, que reaparece no episódio “Le secret de Tristan Bantam” (O segredo de Tristan Bantam), transformando o marinheiro em uma lenda dos quadrinhos. Desde 1971, os especialistas do domínio consideram Pratt como um dos melhores autores de desenhos em quadrinhos do mundo.
Você precisa fazer login para comentar.