Georgia O’Keeffe
A exposição itinerante “Georgia O’Keeffe, living modern”, apresentada pelo Brooklyn Museum, em Nova York, até 23 de julho, conta com pinturas, esculturas num total de 46 trabalhos pensados por Georgia O’Keeffe, além de 98 fotografias da artista, da sua casa e da sua vida, assim como vários livros, vídeos e uma variedade de “coisas efêmeras”. Há mais de 60 itens do seu guarda-roupa, incluindo vestidos, blusas de trabalho, calças, acessórios e uma pequena coleção de joias, ao lado de seus quadros e dos retratos da artista. Correspondance Magazine® entrevistou Wanda M. Corn, curadora e autora do livro que acompanha a exposição “Georgia O’Keeffe: Living Modern”, lançado pela editora Prestel/Delmonico Books, em associação com o Brooklyn Museum, que inclui mais de 300 ilustrações e é o primeiro estudo sobre as roupas de O’Keeffe e sua “auto-imagem” de moda escrito por Corn, especialista sobre a vida e obra da artista americana.
Fale-nos um pouco sobre seu interesse por essa artista.
– Sempre estive interessada na arte de Georgia O’Keeffe desde quando conheci suas criações em 1970, durante a primeira retrospectiva sobre sua obra em Nova York no Whitney Museum. Dei cursos sobre a arte de O’Keeffe na minha disciplina de arte moderna, estudei e escrevi sobre suas pinturas de ossos do Novo México em meu livro, “The Great American Thing: Modern Art and National Identity”, publicado pela University of California Press, em 1999. Em suma, Georgia O’Keeffe faz parte dos meus assuntos artísticos de pesquisa prediletos.
Qual a gênese dessa exposição “Georgia O’Keeffe: Living Modern”?
– Há quinze anos, comecei a pesquisar uma série de artistas que usavam o vestido como parte de seu Modernismo e auto-apresentação. Em 2011-12, falei dessa temática na minha exposição itinerante “Gertrude Stein: Five Stories”. Em 2001, descobri que Georgia O’Keeffe tinha deixado os armários, em suas duas casas do Novo México, cheias de roupas – algumas peças datavam dos anos 1920 e 1930. O Museu Georgia O’Keeffe, em Santa Fé, detentor das casas e das roupas, estava catalogando-as mas ninguém fora do museu ainda as tinha visto ou estudado. Quando finalmente tive a oportunidade de olhar para essas peças de seu vestiário em 2005, sabia que queria escrever sobre elas e colocá-las em exposição. Tenho me dedicado ao seu livro “Georgia O’Keeffe: Living Modern” e a essa mostra em tempo integral nos últimos quatro anos.
O que tem sido mais influente: a arte de O’Keeffe ou sua personalidade marcante?
– Os dois trabalham em conjunto para criar sua celebridade. Desde o início, ela era conhecida pela sua aparência, assim como pela sua arte. O que a torna incomum é que ela projetou uma personalidade tão duradoura que cresceu e evoluiu ao longo do tempo e não cessou até sua morte em 1986. Mesmo após sua morte, os artistas pintaram seu retrato e fotógrafos fizeram imagens das casas onde ela viveu.
É mais comum para mulheres (contra artistas masculinos) sentir a necessidade de criar uma persona como uma maneira de se vender ou vender sua arte?
– Não acredito, é apenas uma questão de mulheres artistas sentirem essa necessidade. É frequente que os homens – fotógrafos, proprietários de galeria, editores de revista – empurrem as mulheres para criar uma “personae” como uma maneira de se introduzir no mercado e destacar-se da multidão. É muito parecido com as formas como as estrelas de Hollywood são construídas pela indústria cinematográfica.
Será que Georgia O’Keeffe se considerava feminista?
– Ela não usou o termo mas, como uma verdadeira feminista, ela se encarregou de todos os aspectos de sua vida. Georgia O’Keeffe sempre foi muito independente e escutou a si mesma, resistindo a ser um “gênero” como pessoa, preferindo ser uma artista em especial e buscando a igualdade com os homens no mundo da arte. Jovens feministas na década de 1970 celebraram-na por romper o teto de vidro nas artes.
Qual o legado de Georgia O’Keeffe?
– Há muito tempo me intereso no que pode ser aprendido com a cultura material que um artista deixa para trás – sua casa, seu estúdio, seus móveis ou suas roupas – e Georgia O’Keeffe é, ao mesmo tempo, um estudo de caso perfeito e um desafio. Como este arquivo de roupas poderia lançar uma nova luz sobre uma artista renomada? A Georgia O’Keeffe que descobri a partir deste trabalho, que emerge neste livro, foi uma artista não apenas em seu estúdio mas em sua casa, alguém que criou um discurso de “auto-imagem” de moda. Ela, proposital e criativamente, usou suas roupas para construir uma identidade singular. Serviu de modelo para mais de quarenta fotógrafos e vestiu-se para seus retratos em seu estilo muito simples e distintivo caracterizado somente pelo preto e branco.
Qual é a influência de Georgia O’Keeffe no mundo da moda?
– Ela não tinha sido adotada como uma inspiração para os estilistas até recentemente. No início dos anos 80, Calvin Klein e Issey Mikaye mencionaram o quanto eles foram atraídos pela simplicidade minimalista do estilo de O’Keeffe, mas eles não começaram uma tendência. Hoje, no entanto, se você faz uma pesquisa no Google com os termos “O’Keeffe e Moda”, estilistas do mundo inteiro falam da artista como uma musa. Georgia O’Keeffe ficaria chocada ao saber que os designers de moda se aferram a sua imagem pessoal muito mais que a sua obra de pintora.
De acordo com suas pesquisas, qual o fato mais marcante nessa exposição?
– Os espectadores podem se surpreender ao saber que Georgia O’Keeffe foi quem desenhou as primeiras roupas de sua coleção e foi uma costureira notável.
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