Hélio Oiticica
Inovador, surpreendente e visionário, o brasileiro Hélio Oiticica (1937-1980) empurrou os limites tradicionais da arte e é, indiscutivelmente, um dos artistas latino-americano mais influente do período pós-Segunda Guerra Mundial, reconhecido por suas significativas contribuições para o desenvolvimento da arte contemporânea. Para homenagear esse artista-performer singular, o Instituto de Arte de Chicago apresenta até 07 de maio, a primeira retrospectiva nos Estados Unidos, nomeada “Hélio Oiticica: organizar o delírio”, em tradução livre, com as realizações pioneiras e influentes do artista brasileiro.
Além de ver as obras originais em exibição, os visitantes serão convidados a tirar seus sapatos e caminhar através de instalações cheias de areia, ver papagaios da Amazônia, interagir com os “Parangolés Oiticica”, objetos que ele criou para ser carregado ou usado e que são uma das contribuições mais radicais do artista para a arte contemporânea. No final dos anos de 1960 Oiticica envolve-se com a comunidade do Morro da Mangueira e dessa experiência nascem os Parangolés. Trata-se de tendas, estandartes, bandeiras e capas de vestir que fundem elementos como cor, dança, poesia e música e pressupõem uma manifestação cultural coletiva. Posteriormente a noção de Parangolé é ampliada e conceituada nas palavras do próprio Hélio: “Chamarei então Parangolé, de agora em diante, a todos os princípios formulados aqui […]. Parangolé é a antiarte por excelência; inclusive pretendo estender o sentido de ‘apropriação’ às coisas do mundo com que deparo nas ruas, terrenos baldios, campos, o mundo ambiente enfim […]”.
Oiticica moveu-se rápida e radicalmente sob a influência do modernismo europeu e suas instalações em larga escala eram destinadas a ser fisicamente experientes, muitas vezes utilizadas para criticar questões políticas e sociais. Ao longo de sua breve mas enérgica carreira, Oiticica fundiu perfeitamente as preocupações formais e sociais em sua arte, buscando ser internacionalmente relevante e, ao mesmo tempo, especificamente brasileiro. Acima de tudo, ele pretendia comunicar ao seu público o profundo prazer e a satisfação inerentes ao trabalho criativo, transformando o visitante de simples espectador num participante ativo ou “participator.” Suas instalações interativas alcançaram grande sucesso alavancando sua carreira e transformando sua arte numa natureza cada vez mais imersiva. Hélio Oiticica é um artista cuja produção se destaca pelo caráter experimental e inovador. Seus experimentos, que pressupõem uma ativa participação do público, são, em grande parte, acompanhados de elaborações teóricas, comumente com a presença de textos, comentários e poemas.
A editora Prestel Publishing lançou uma bela publicação sobre essa exposição com artigos de intelectuais brasileiros e internacionais que tentam desvendar a arte de Hélio Oiticica. Explorando as obras mais aclamadas de Oiticica, como os “Parangolés” e sua instalação pioneira “Tropicália”, este livro também examina seu envolvimento com a música, a literatura e sua resposta à política e ao ambiente social no Brasil. Desde sua imersão na contracultura de 1960 até sua vida e trabalho em Nova York e retorno final ao Rio de Janeiro, este catálogo mostra o desenvolvimento de um talento absolutamente original, cujo trabalho é abrangente e envolvente.
IMAGEM – Hélio Oiticica von Lynn Zelevansky
Hélio Oiticica. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017.
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