Inteligência das mãos

20 de outubro de 2019

Segundo o glossário, um artesão é essencialmente um trabalhador manual que faz itens com as mãos e que, através dessa habilidade, experiência e talento, pode criar coisas de grande beleza e objetos funcionais. Antes da Revolução Industrial, praticamente tudo era feito por artesãos, ferreiros, ourives, serralheiros, de armeiros à tecelões, tintureiros, carpinteiros, ceramistas e assim por diante. Um artista, por outro lado, dedica-se apenas ao lado criativo, fazendo um trabalho visualmente agradável apenas para o prazer e a apreciação do espectador, mas sem valor funcional. Todavia, para a Fundação Bettencourt Schueller essa distinção entre os dois conceitos não é tão nítida, já que a arte está em toda parte e o ato de criar coisas bonitas é uma segunda natureza do ser humano, portanto, o artesão é também um artista.

Nesse contexto e para entender a importância do significado do engajamento da Fundação Bettencourt Schueller, que comemora este ano vinte anos de seu compromisso com as artes, o Palais de Tokyo, em Paris, acolhe uma exposição inédita, batizada de “O espírito começa e termina nas pontas dos dedos”, exibindo 150 obras distribuídas em 900 m², que fica em cartaz até 10 de novembro no magnífico platô do Orbe New York desse centro cultural. A mostra, que tem como objetivo festejar duas décadas de engajamento artístico e artesanal, conta ainda com um impressionante armário de curiosidades que rende homenagem à inteligência das mãos e com peças das coleções da Escola de Belas-Artes de Paris, apresentadas pela primeira vez ao grande público, além de criações icônicas recentes dos vencedores do prêmio “Liliane Bettencourt pela inteligência da mão®”.

A agenda da exposição “O espírito começa e termina nas pontas dos dedos” oferece ao visitante a possibilidade de viver uma jornada artesanal em quatro episódios: Prelúdio, Atelier, Grande Galeria, Constelação. O itinerário dessa mostra, pensado por Laurent Le Bon e ambientado pela artista Isabelle Cornaro, é organizado de acordo com essas quatro sequências, que brincam com a variação da intensidade luminosa e a dilatação dos espaços para criar ambientes imersivos. Tudo começa com uma perspectiva histórica, sob a forma de um surpreendente cabinete de curiosidades com a apresentação de uma centena de peças das coleções da escola de Belas Artes de Paris. Uma amostra que tem como objetivo ampliar a importância das mãos que criam e, especialmente, valorizar os gestos envolvidos nesse processo criativo.

O visitante descobre ainda nos ateliês os rostos dos artesãos, algumas ferramentas, os maquinários e as matérias-primas que compõem os 281 ofícios destinados ao artesanato. O espaço se abre então para a cidade, com um desfile festivo de criações banhadas em luz natural e pontuadas pela presença de uma sequência vegetal simbolizando uma alegre vaidade. No último momento da exposição, um panorama de imagens colocadas em movimentos, apresenta ações a favor do artesanato, como um convite para pensar esses ofícios manuais com criações moldadas pelas mãos dos artesãos, conferindo primazia às sensações onde o proceso criativo foi beneficiado.

EDIÇÃO DE TEXTO – Marilane Borges

IMAGEM – Vitrine du gantier, Maison de l’outil et de la pensée ouvrière © Sophie Zénon para a Fondation Bettencourt Schueller – L’esprit commence et finit au bout des doigts de la Fondation Bettencourt Schueller © Thierry Depagne – Claude Aïello e Mathieu Lehanneur – Japon (série L’âge du monde), 2009 © Alexandre Balhaiche – Cortesia Perimeter Art & Design © Guy Rebmeister – Blow bangles © Kristin McKirdy – Cylindres © Benoit Grellet © Kristin McKirdy – Claustra, 2018 – Main droite de danseuse balinaise © Ecole nationale supérieure des Beaux-Arts, Paris © Thierry Ollivier

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