Jovem galerista

18 de junho de 2020

A galeria Carvalho Park, no Brooklyn, Nova York, cofundada por Jennifer Carvalho e pelo escultor, arquiteto e designer Se Yoon Park, forma uma parceria catalisada num alinhamento de atividades estéticas e instintos compartilhados. A programação da galeria é visualmente distinta com foco em artistas emergentes, que reconsideram as distinções entre disciplinas e expandem a linguagem da forma. O duo de galeristas elabora suas exposições tendo como perspectiva apresentar ao espectador um contexto diversificado, categorizando e permitindo que os objetos se movam livremente dentro e através das paisagens da arte e do design. A síntese dessas sensibilidades tem sido a estrela norte na articulação da Carvalho Park. “Também não temos medo da beleza. Nossos perfis profissionais antecedentes afetam inerentemente nosso trabalho e perspectivas individuais todos os dias e, portanto, permitimos que isso penetre em nosso programa e seja adotado. A natureza interdisciplinar do nosso programa é autêntica e distingue a galeria de outros espaços de arte contemporânea.”

Como surgiu a ideia de montar uma galeria?

– Quando conheci o escultor, arquiteto e designer Se Yoon Park em 2017, acredito que realmente ouvi uma voz dizer: ‘ele será importante para você’. Cada um de nós tinha um respeito tão elevado pela mente e trabalho do outro que lançar uma galeria foi uma evolução sem esforço. Nosso passado – o meu no balé clássico antes de trabalhar em museus e casas de leilão, o dele na arquitetura – formam um ponto de vista complementar que molda nosso programa e passa a mensagem de como consideramos o ambiente e a atmosfera de cada exposição, assim também como a fisicalidade de cada mostra e a experiência de visualização. A vantagem de ter Se Yoon como parceiro e arquiteto é que ele construiu esse belo espaço, onde anteriormente funcionava uma fábrica abandonada de roupas industriais, e também prepara o palco para cada espetaculo.

Como o programa da galeria evoluiu desde que você começou?

– A Carvalho Park foi lançada oficialmente no inverno de 2019. Para os dois primeiros anos da galeria, meu foco é definir nosso programa o  sob ponto de vista do que valorizamos. Nossas exposições apresentam artistas emergentes que trabalham reconsiderando a distinção entre disciplinas – arte visual, arte performática e design. Também apresentamos vários artistas internacionais à cena artística de Nova York neste ano. Nesse momento, estamos mostrando o que mais nos excita, com ênfase no trabalho que envolve perpecções, tanto óticas quanto físicas.

Enquanto planejamos nosso programa para o próximo ano, o âmago não é apenas as exposições, mas as trajetórias de nossos artistas individualmente e de como nutrimos, modelamos e impulsionamos essas exposições. Nos nossos primeiros 16 meses, que considero particularmente desafiadores, realizamos principalmente mostras centradas em dois artistas. Agora estamos trabalhando em exposições individuais focadas no futuro e em estreita colaboração com muitos de nossos artistas.

Qual foi o seu maior sucesso? E o seu maior desafio?

– Cada exposição tem sua própria produção e tenho imenso orgulho da manifestação e da resposta de cada uma delas, sobretudo, quando convidamos artistas visuais, compositores e coreógrafos para se apropriarem de um trabalho que ocupe o espaço total da galeria. Como uma galeria jovem, é desafiador entrar no radar de novos colecionadores e públicos e precisamos nos investir em todos os meios. Tenho que lembrar que a Carvalho Park é ainda muito recente e que a conscientização, tanto nossa, quanto do público só tende a se expandir. Por isso, é preciso ter paciência e perseverança.

Como você aconselha seus artistas?

– Mantenho relações estreitas e colaborativas com todos os nossos artistas. Aconselho no desenvolvimento do trabalho atual, mas também temos conversas em constante evolução sobre a trajetória futura deles. Todos temos a mesma idade – cerca de dez anos após o mestrado -, por isso, e o meu desejo é que cresçamos juntos, realizando plenamente nossas contribuições para as artes.

O que sempre surpreende você sobre o mercado de arte ao longo dos anos?

– Para minha surpresa – e consternação -, foi o quão de bom grado o público permitiu que as visualizações on-line substituíssem a experiência pessoal de uma exposição. A participação física nas galerias está em declínio exponencial há anos. Temos a sorte de ter plataformas especializadas, que fornecem um meio indispensável para facilitar introduções e aquisições entre colecionadores e galerias, nacional e internacionalmente. Isso é apenas uma centelha, um catalisador para promover artistas e galeristas, mas é crucial que as pessoas procurem e participem de exposições em galerias locais para afiar seus olhos, elevar a psique e apoiar a existência de galerias locais.

Quais os projetos de renascimento em um mundo das artes pós-Covid?

– A visualização online se estabeleceu nesta primavera, após um pivô digital bastante ágil no mundo das artes. Como fomos relegados aos nossos próprios espaços durante a quarentena do Covid, minha esperança é que esse extremo inicie um poderoso desejo para que as pessoas estejam mais presentes fisicamente para apoiar suas galerias locais participando de exposições, a fim de que os artistas recebam todo o nosso estímulo. Nosso público é uma parte indispensável e insubstituível na equação da nossa galeria, porque cada trabalho promove uma experiência singular. Apesar de toda essa nova realidade, estou otimista com que está por vir.

Quais os próximos projetos em termos de exposições e como você os apresentará?

– Nossa nova exposição foi desenvolvida entre dois artistas e está finalmente em exibição. Após uma experiência internacional que induziu à ansiedade no início do Covid-19, o trabalho finalmente chegou e montamos uma das exposições mais palpáveis ​​da galeria até o momento. A atmosfera na galeria é realmente vibrante. Order and Vertigo apresenta o trabalho do artista de Denver, Derrick Velasquez, e do artista parisiense, Guillaume Linard Osorio.

Neste outono, Carvalho Park apresentará o trabalho do pintor do Brooklyn, Brian Rattiner, cujas pinturas são uma absorção sinestésico da natureza – do som, da memória e do sentimento. Suas referências me lembram Cy Twombly em energia e ritmo. Em seguida planejamos um show solo muito esperado com o trabalho, baseado em fibra, de Mimi Jung. A galeria também publicará o primeiro livro da artista. Neste inverno Carvalho Park será palco de uma série de performances. É muito cedo para divulgar detalhes, mas será uma colaboração excepcional com a artista plástica Rosalind Tallmadge, que cria superfícies envolventes que envolve óticas esquivas com folhas de ouro e, para esse projeto, um coreógrafo-dançarino se ocupará das performances.

Conte-nos sobre um ou dois dos artistas ou obras de arte incluídas neste show.

– Nesta seleção há duas obras relacionadas à exposição atual de Carvalho Park, Order e Vertigo, com Derrick Velasquez e Guillaume Linard Osorio. Em um momento em que estamos coletivamente num estado de vertigem, depois de ver sistemas de estrutura aparentemente concretos questionados ou rapidamente revertidos, o trabalho desses dois artistas parece particularmente apropriado. Com potência incrível, o trabalho testa a arquitetura da percepção, da distinção material e dos modos de ver.

Se Yoon e eu fizemos uma visita ao estúdio de Guillaume, em Paris, neste inverno. Tínhamos nos correspondido com ele por cerca de dois anos, mas fiquei completamente encantada ao experimentar as pinturas pessoalmente. Guillaume propõe um novo campo dentro do plano da imagem, uma paisagem de canais entre folhas de policarbonato. O artista torna o site um ambiente cromático – injetando resinas coloridas que resultam em um jogo na retina de imagens semelhantes a líquidos. Os vazios tornam-se véus de transições inacreditavelmente belos com cores que oscilam entre transparência e saturação profunda por trás de uma imagem semi-reflexiva.

Já havia trabalhado com Derrick anteriormente, mas foi um prazer mergulhar mais fundo nesta exposição. O léxico ressonante de Derrick constituído de faixas repetidas de vinil, aparece inicialmente como emblemas da alta abstração modernista. Suas esculturas de parede sem título – uma série bem conhecida no centro de sua prática – sinalizam as doutrinas da pintura geométrica com suas decisivas transições de cores, suavidade da superfície e totalidade geométrica.

No entanto, é uma seleção de processo e material que, por sua vez, anula de maneira sensível e suave as regras ditadas pela abstração. Por meio da meditação, às vezes silenciosa pausa de bandas em camadas, as esculturas também dão lugar a um personagem humanizado, imitando a maneira que um corpo pode repousar, pendurado no braço de um sofá. Através dessas obras singulares, Derrick compõe uma linguagem de estrutura que eloquentemente rompe nossas noções de como o objeto material e artístico deve funcionar.

Estamos em um momento em que a multiplicidade de colaborações nas artes pode indicar novos caminho a seguir. Como isso pode funcionar para a galeria?

– A polinização cruzada entre formas de arte é onde podemos ver as faíscas mais elétricas. O nosso objetivo é facilitar pelo menos uma dessas colaborações – entre artes visuais e performáticas – a cada ano. Em termos de galerias, certamente houve uma mudança em direção a um espírito mais colaborativo, o que para mim sinaliza uma cena mais afinada, envolvente e vibrante que está por vir. A mostra Order and Vertigo fica em exibição no Brooklyn até 25 de julho.

TRADUÇÃO & EDIÇÃO DE TEXTO – Marilane Borges

IMAGEM – Cortesia  da Carvalho Park Gallery, 2020 © Todos os direitos reservados

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