Marie Deroudilhe
Um edifício do século XVIII com pé direito alto e configuração particular, situado numa esquina da rue des Petits Champs com a rue du Beaujolais, que dá acesso à entrada secreta aos jardins do Palais Royal, abriga o recém-inaugurado Salon des Manufactures do Chef Alain Ducasse. O prédio, que é uma obra de arte em si, teve sua arquitetura de interiores totalmente repaginada por Marie Deroudilhe.
Correspondance Magazine® conversou com a arquiteta de interiores, que trabalhou com o londrino Terence Conran, antes de ingressar na agência parisiense de Patrick Jouin, onde trabalhou por cinco anos, gerenciando vários projetos de restaurantes, incluindo, os que levam a assinatura Ducasse, o Mix, em Las Vegas, e o Dorchester, em Londres.
Em 2009 Marie Deroudilhe criou sua Agência de Arquitetura que leva o seu nome e deu livre curso à sua criatividade. Nesses últimos anos, os projetos variaram de estilo para atender a demanda dos clientes e Marie continua avançando e imprimindo, por onde passa, seu estilo atemporal.
Sua colaboração com Alain Ducasse começou com o restaurante Rech, onde Deroudilhe escolheu dar um tom escandinavo ao local especializado em peixes. Esse minimalismo voluntário ilustra a filosofia da sua agência que prima pela luz natural, pelos volumes suavizados e pela preocupação com a excelência da execução de cada proposta. De posse de sua experiência, Marie tem se dedicado à vários projetos de restaurantes, bares, lojas, inúmeras residências particulares, além de encomendas especiais de objetos e mobiliário.
Conte-nos um pouco sobre a decoração projetada e imaginada para o Salon des Manufactures Alain Ducasse.
O Salon des Manufactures é uma das mansões privadas do século XVII, que pertencem a Alain Ducasse. Esse espaço cheio de personalidade pedia uma decoração à altura. Para harmonizar todos os detalhes e ainda assim dar lugar de destaque aos materiais nobres, investimos nas grandes janelas vestindo-as de cortinas floridas drapeadas e decoramos o salão com lustres de cristal.
Qual o conceito do Salon des Manufactures?
– É um lugar parisiense que poderia ser descrito como o encontro entre a Paris decadente dos anos 20 e o refinamento francês do século XVIII. Aberto durante o dia, o Salon des Manufactures está destinado a se tornar uma espécie de speakeasy à noite.
Quais foram as fontes de inspiração e o fio condutor para este projeto?
– O contexto! Um edifício do século XVIII com pé direito alto e configuração particular, situado numa esquina da rue des Petits Champs com a rue du Beaujolais, que dá acesso à entrada secreta aos jardins do Palais Royal.
Como você escolheu os materiais que se aliariam a essa arquitetura secular?
– No início, Alain Ducasse tinha uma obsessão pelas mansões do século XVIII e pelo tecido Lady Roxana de Rubelli, que ele propôs para as cortinas antes mesmo do projeto ganhar vida. Diante dessa estampa floral muito forte que evoca os apartamentos de Maria Antonieta, propusemos a estampa folha de bananeira de Madeleine Castaing para os tapetes, com o desejo de prolongar a audácia com um toque de loucura.
Depois tudo seguiu essa linha com pátinas de parede em pedra falsa, lustres de cristal Saint Louis, uma coleção de copos antigos, do proprio Ducasse, e abajures de seda plissados completam o espírito do século XVI do lugar. A nogueira francesa utilizada no layout do bar traz um toque mais contemporâneo e masculino.
Quais são os adjetivos que podem qualificar este projeto como especial?
– Romântico, Decadente, Eclético, Parisiense, Gourmet, Acolhedor…
Conte-nos um pouco sobre seu estilo: você trabalha sob o ritmo das tendências ou da intuição?
– É muito difícil se libertar da moda do momento, principalmente na era das redes sociais, mas nos esforçamos para fazê-lo. Mesmo que pareça muito clássico ou antiquado, tentamos, porque acreditamos em projetos que tem um charme atemporal e que vão sobreviver às tendências.
Existem personalidades do mundo da decoração e design ou de outros setores que a influenciaram? Como e por quê?
– Fui aluna no auge do OMA, cuja visão admiro. Sou fã do design escandinavo e americano dos anos 50 aos 70. Também devo muito aos meus dois empregadores, Terence Conran e Patrick Jouin, que me ensinaram com seus exemplos a importância do espírito empreendedor, a preocupação com as linhas e todos os detalhes da execução do projeto.
Como você se definiria: arquiteta de interiores, designer, decorador ou todos ao mesmo tempo?
– Tudo de uma vez e arquiteta acima de tudo.
Quais projetos você ainda não fez e gostaria de realizar?
– Adoraria usar minha experiência para imaginar um quarto de hotel.
Você sonha profissionalmente com o quê?
– Com tempo para me dedicar à pesquisa e ao desenvolvimento de novos projetos!
EDIÇÃO DE TEXTO – Marilane Borges
IMAGEM – Cortesia da Agência Marie Deroudilhe e da fotógrafa Julie Ansiau © Todos os direitos reservados
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