O Japão de Roberto Badin
“Desde a minha infância o Japão sempre me fascinou como um planeta distante”, confessa o fotógrafo brasileiro Roberto Badin abordando a temática do seu mais recente livro, Inside Japan, lançado pela editora Benjamin Blanc, a publicação trilingue – inglês, francês, japonês – que conta visualmente a paixão de Badin pela cultura nipônica. A gênese do projeto tinha como ponto de referência retornar o mesmo estado de espírito da primeira viagem, quando o viajante se estasia durante uma primeira visita a um lugar desconhecido. O fotógrafo, juntamente com seu editor Benjamim Blanc, mantiveram como foco essa simplicidade e a curiosidade de quem reencontra novos significados durante um segundo olhar.
O cineasta Claude Lelouche dizia que “um filme deve ser preparado como um assalto. Temos um plano para fazer o melhor que pudermos e depois, temos que estar prontos para surpresas”, essa frase segundo o fotógrafo ilustra perfeitamente sua abordagem ao preparar um projeto e Inside Japan é fruto dessa surpresa que aguarda todos os viajantes no cruzamento de uma esquina. Esse é o espírito que os leitores encontram nessa viagem visual de Roberto Badin, onde os enquadramentos estruturados, a luminosidade estudada e o olhar milimétrico do fotógrafo delineiam com imagens de uma poesia singular um belo espetáculo nas páginas de Inside Japan.
Como você se preparou para a temática do livro?
– Preparo minhas viagens da melhor forma possível, mas deixo muito espaço para a improvisação uma vez que chego no lugar. Para o Inside Japan, a arquitetura e arte contemporânea foram uma espécie de fio condutor do meu percurso. Além disso, dois livros me acompanharam e me inspiraram de formas diferentes, o excelente “Esthétique du Quotidien au Japon”, de Jean-Marie Bouisson, que traça a história da estética japonesa, tão particular; e o outro é um Manga, “The Gourmet Solitaire”, de Jiro Taniguchi e Masayuki Kusumi, que retrata a história da sociedade japonesa através do prisma da gastronomia, assim como o diretor Yasujiro Ozu em alguns de seus filmes. Durante minha viagem, todas essas referências enriqueceram meu imaginário e o lado narrativo das imagens surgiu espontaneamente.
Conte-nos um pouco sobre a gênese deste projeto fotográfico. Qual a parte mais gratificante de todo esse trabalho para você? Como e por quê?
– Tudo é gratificante na criação, sobretudo, quando consigo compartilhar a emoção que senti ao fazer minhas imagens. Isso é muito prazeroso e motivante para os próximos projetos. Existe ainda um prazer especial quando percebo o olhar dos próprios japoneses em relação às minhas imagens, por isso, decidimos traduzir os textos também em japonês, além do inglês e do francês.
Durante o trabalho de pesquisa para a edição desse livro, que tipo de experiência foi especialmente mais marcante para você?
– A edição do livro foi feita em duas partes, cada uma relacionada a uma viagem ao Japão. O interessante foi voltar em alguns lugares e rever os ambiantes que já havia fotografado. Todas as imagens tem uma história e eu poderia passar horas falando sobre isso, pois elas me trazem boas lembranças. A escolha final das fotos foi difícil, porque tinhamos material suficiente para fazer um livro muito maior. Quem sabe um dia publicaremos uma edição especial…
As suas fotografias tem uma estética minimalista, essa é uma proposta especifica para o livro?
– Na verdade, a abordagem minimalista está inscrita em muitas das minhas imagens, mesmo fora do projeto Inside Japan. Em geral, se meu trabalho pode parecer muito estruturado, muitas vezes com um enquadramento frontal, gráfico e posicionado, tudo parece natural e espontâneo. Neste projeto, por exemplo, não trabalhei com tripé para fotos, usei apenas luzes ambientes. O que me fascina é a imagem como um pedaço da realidade, o que procuro trazer à tona é a banalidade cotidiana de um lugar, revelando uma beleza secreta construída com um elemento humano, que sempre permite enriquecer a narração e oferecer uma escala dimensional à cena.
De onde vem esse fascinante interesse pela fotografia? Como tudo começou?
– Tive minha primeira câmera aos 14 anos, ainda no Brasil. Um dia, acidentalmente, fiz uma dupla exposição de dois nasceres do sol e isso me fascinou completamente. Talvez esse momento tenha sido o começo da minha paixão pela fotografia. Ainda estávamos na época do filme, da revelação e da ampliação. Um processo que parecia mágico… Depois dessa experiência, comecei a fotografar tudo o que meus olhos podiam ver e não parei mais desde então!
Como você qualificaria seu estilo fotográfico ?
– Algumas palavras me vem ao espírito e, muito mais que a definição acadêmica de um estilo, me valho da curiosidade, da técnica e da emoção para registrar minhas imagens. O objetivo de um artista pode ser diferente daquele interpretado pelo espectador. Para mim, o importante não é necessariamente a mensagem transmitida, mas a emoção que nasce do encontro do espectador com a obra.
Quais personalidades do mundo artístico ou de outro setor influenciaram você e sobre as quais você gostaria de dedicar um livro?
– Oscar Niemeyer e Aytron Senna são, sem dúvida, as duas personalidades que mais me influenciaram até hoje.
EDIÇÃO DE TEXTO – Marilane Borges
As belas imagens de Inside Japan estão em exposição até 12 de março no Hotel Jules et Jim – 11, rue des gravilliers, Paris 03
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