De volta para casa

24 de setembro de 2019

Assim como Alice no país das Maravilhas, Nomadic Matt viajou pelo mundo durante anos para se dar conta de que o que ele procurava estava, na verdade, na tranquilidade do cultivo de uma vida doméstica. Matthew Kepnes é uma testemunha ocular do mundo, fascinado por lugares e pessoas e, o que ele considera como mais importante, as transformações que esses encontros com novas culturas, lugares, povos promovem na vida dos viajantes. Os questionamentos que ele evoca em sua biografia batizada de “Ten Years a Nomad: A Traveler’s Journey Home”, em tradução livre “Dez anos como nômade: a jornada de um viajante de volta para casa”, lançado em inglês pela editora St. Martin’s Press, são facilmente aplicados à vida cotidiana e podem ser resumidos em se encontrar ou permanecer perdido. Se a resposta está quase sempre inserida na pergunta, esse viajante convida os leitores a embarcar nessa aventura de auto-conhecimento, que ele mesmo levou uma década para se dar conta. Afinal, em suas indagações germinava a semente de quem ele é hoje: um homem que conhece o mundo e a si mesmo.

Os seguidores fiéis do globettroter Nomadic Matt descobrirão que as intenções e obsessões do autor não são tão diferentes das de milhares de sonhadores que almejam um dia, quem sabe, desbravar o mundo. Com uma coleção de histórias fascinantes e a experiência de quem conhece a estrada da vida, Matt partilha suas memórias, questiona suas escolhas e convida a todos que o leem a se perguntar: “Como é que posso preencher o vazio da minha existência com algo que ainda é desconhecido para mim?” Valendo-se da sua intensa vida de mochileiro e da quantidade incrível de terras estrangeiras visitadas, ele relata suas aventuras ao redor do mundo, partilhando suas bagagens emocionais, vagando de um destino a outro, oscilando de maneira excitante de um país para outro. Nesses relatos pessoais, Matt descreve seus sonhos, os velhos e novos amigos que ganhou e perdeu, cita algumas histórias cômicas de passeios que poderiam ter terminado em catástrofes, evoca casos de amor que viveu, fala de um obscuro projeto de jardim que nunca teria acontecido até que as viagens terminassem e ele pudesse realmente se concentrar no que é essencial: plantar a primeira semente de uma vida futura.

Em “Dez anos como nômade…”, Nomadic Matt escreve sobre a história maravilhosa de sua caminhada em busca do paraíso perfeito, lê-lo é como passar um agradável momento na companhia de um viajante cheio de aventuras para partilhar, alguém que foi moldado pela sua determinação e pela coragem de seguir um sonho. Sem que o protagonista se desse conta imediatamente, alguns fatos inesperados e fascinantes vividos durante suas viagens transformaram para sempre a vida dele. Em uma série de questionamentos distintos, peculiares e inclassificáveis, Matt voltou repetidamente às mesmas obsessões, abordando-as sob diferentes ângulos, muitas vezes em cenários inusitados, tal qual um nômade intelectual perdido em si mesmo sem um mapa mental que o orientasse sobre qual o melhor caminho a seguir.

Durante a leitura de “Dez anos como nômade…” me senti completamente contagiada pelos seus questionamentos e me percebi perguntando: será que todo mundo sente esse vazio existencial? Será que estamos todos perdidos, de alguma maneira, na nossa própria jornada? E então me dei conta que esse é exatamente o ponto neuvrágico abordado nesse livro, que trata tão bem do significado da arte de viajar, uma arte que nos ensina a nos confrontar com outras realidades, próximas ou distantes, e que isso promove, invariavelmente, questionamentos em relação às escolhas de estilo de vida com as quais nos adaptamos. Até que alguém, como Nomadic Matt, que percorreu um longo caminho de volta para casa nos indique algumas pistas de onde estamos nessa viagem de descobertas.

No final, se perder pode ser uma aventura cheia de perigos, em termos de auto-conhecimento. Afinal, essa busca interior é uma passagem de não-retorno para quem você era e uma breve revelação de quem você vai se tornar: uma outra pessoa. Resumindo, “Dez anos como nômade…” não é apenas a biografia de um viajante que se tornou um guia para os aventureiros modernos, a história de Matthew Kepnes pode ser considerada como um exemplo do quanto um sonho pode mudar o sonhador, fazendo acordá-lo para uma realidade que significa aceitar as mudanças e seguir confiante na própria transformação. Essa é, de fato, a essência desse livro.

EDIÇÃO DE TEXTO – Marilane Borges

PORTRAIT –  Lola Akinmade

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