Espalhando alegria de viver

23 de fevereiro de 2022

Designer independente, decorador e diretor criativo da Maison Christian Lacroix desde 2010, Sacha Walckhoff imprime com seu talento a alegria de viver em tudo o que ele empreende. Turbilhão criativo capaz de gerar vários projetos, pessoais e profissionais ao mesmo tempo, Sacha descobriu sua inclinação artística quando, aos 7 anos, assistiu “Funny Face” o filme de Stanley Donen com Audrey Hepburn, que retrata o mundo da moda nos anos 60.

“A partir desse dia, soube imediatamente que a minha vida seguiria nessa direção e foi isso que me guiou ao longo da minha carreira”, conta o designer que trabalhou 30 anos no mundo da moda incluindo 17 anos com o estilista Christian Lacroix e há mais de 10 anos marca presença no universo da decoração e do design.

Correspondance Magazine® bateu um papo com Sacha durante a apresentação da coleção primavera-verão da Maison Christian Lacroix, batizada de “Utopia”, onde imagens idílicas da flora envolvem padrões de tecidos, acessórios e mobiliário com a exuberância multicolorida de um jardim secreto.

Qual é a sua rotina diária ao trabalhar em uma nova coleção, como “Utopia”?

– Nessas profissões criativas, nunca paramos de nos ‘alimentar’ com tudo o que encontramos em nossas vidas, tudo e qualquer coisa pode ser um gatilho para uma ideia e uma imagem pode se tornar uma coleção inteira, não há regras, estamos constantemente em alerta, não inventamos nada, transformamos tudo e o que existia se torna-se outra coisa mais atraente com uma nova perspectiva. Picasso disse uma vez que “bons artistas copiam, grandes artistas roubam!”

Em geral, como você se prepara para as sessões criativas: qual é a parte de pesquisa antes e qual é o lugar da improvisação durante?

– É sobretudo fruto de um diálogo com o meu atelier. No início de cada coleção, apresento a minha equipe e aos colaboradores externos, com quem às vezes trabalhamos, todos os meus desejos favoritos na forma de imagens, fotos pessoais, livros e documentos desenterrados em mercados de pulgas ou durante minhas viagens. Faço listas e elaboro paralelos criativos, explico minha visão, o que gostaria de montar ou desmontar e depois eles compartilham o trabalho e me retornam com desenhos e maquetes refletindo o que captaram nessa primeira sessão.

Cada um contribui criativamente com sua própria personalidade e, juntos, aguçamos nossas percepções. Meu papel é então canalizar todas essas criações, dar-lhes significado e consistência para montar uma coleção. Não posso negar que é um pouco mágico e a magia opera a cada vez mas, quando isso não funciona, também pode ser muito assustador!

E quanto às suas criações pessoais?

– Minhas criações pessoais são mais livres, trabalho sozinho, sem estúdio e em estreita colaboração com muitas fábricas de tecidos e mobiliário ao redor do mundo. A minha abordagem é então um pouco diferente, absorvo o know-how dessas empresas com as quais colaboro para usar o conhecimento deles, enquanto expresso algo que é realmente pessoal para mim. Nesse contexto, tenho percebido a cada vez, uma certa dualidade, a sombra e a luz do que sou constituído, acho que devido às minhas várias origens eslavas, européias e africanas.

Você poderia nos contar mais sobre suas escolhas artísticas e qual o segredo para o sucesso de suas criações?

– Para a Maison Christian Lacroix e seu sucesso há mais de 10 anos, o segredo foi inspirar-me com a sensação que nosso público tem dos anos 80 e 90, época em que as coleções de Alta Costura da casa encantavam todo o planeta. Raramente olho para os arquivos e, com o meu estúdio, criamos coleções apartir de novas ideias e elas estão em sintonia com os tempos ou às vezes à frente deles. Por outro lado, tenho sempre em mente os temas relacionados com a história da marca: a alegria de viver, as cores, o glamour, a extravagância e os contrastes de formas.

Quais outras áreas artísticas lhe interessam, para além da arte decorativa, que você pretende ou gostaria de experimentar?

– Estou muito próximo do mundo da arte contemporânea, não sou artista mas sinto-me próximo de alguns artistas. Esses mundos da moda, arte e design tem contornos cada vez mais difusos e permeáveis ​​e tudo bem. Para Lacroix, trabalhamos em estreita colaboração com um jovem artista americano, Brian Kenny, com uma artista e performer francesa Regina Demina, bem como com um designer brasileiro, Rodrigo Almeida. E cada uma dessas colaborações, é sempre uma experiência incrível.

Existe alguma parte do seu trabalho pela qual você gostaria de ser lembrado? Por quê ?

– Para mim é tudo a mesma coisa, não trabalho para a posteridade mas para o presente. Espero trazer um pouco de alegria para as pessoas através do meu trabalho e, se o fizer, será a maior recompensa.

Como você definiria seu estilo criativo em 140 caracteres ou menos?

– Eclético, generoso e muito mais profundo do que parece. Ou você vê apenas o lado decorativo, ou você entende os diferentes aspectos e mensagens de um padrão de tecido ou objeto. Costumo trabalhar em usos duplos ou leituras duplas.

Quais personalidades artísticas lhe inspiram?

– Na moda, minhas últimas favoritas são as coleções de Glenn Martens para Y/project e J.W Anderson para Loewe. Na arte, gosto muito do trabalho de Raphaël Barontini, Alexandra Bircken, Sophie Calle, Mohamed Bourouissa e David Altmedj.

Na decoração, gosto do universo do artista mexicano Pedro Friedeberg, o jardim Inhotim, nos arredores de Belo Horizonte, no Brasil, que combina arte contemporânea e natureza exuberante e tantas outras coisas. Se você me fizer a pergunta novamente amanhã, terá outras respostas!

Você tem algum futuro projeto que possa ser partilhado com os nossos leitores? Ou projetos iniciados que você terminará em breve…

– Tenho dois projetos pessoais em andamento, um com uma casa de faïence francesa muito fina e outro com um fabricante de móveis luxuosos e extravagantes na Índia. E, claro, estamos trabalhando nas próximas coleções da Maison Lacroix em Paris, bem como em duas novas colaborações relacionadas ao universo da casa.

O que faz você sonhar como artista/designer/decorador?

– Neste momento tenho o meu primeiro projeto de design de interiores na Espanha e gostaria muito de desenvolver esta atividade no futuro…

EDIÇÃO DE TEXTO – Marilane Borges

IMAGEM – Cortesia da Maison Christian Lacroix © Todos os direitos reservados

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