Experiências visuais
“Tendo desfrutado de muitas horas desenhando e pintando diretamente da natureza e de modelos vivos, todas as minhas pinturas se originam dessa experiência”, diz Annabel Andrews. O trabalho da artista britânica Annabel Andrews, nascida no Reino Unido, oscila entre figurativo e abstrato – o último sendo mais aparente. Embora a cor seja uma das características mais importantes das suas criações, ao longo dos anos surgiram muitas possibilidades diferentes, envolvendo experimentações, cores e formas, como durantes os anos em que a artista trabalhou com preto e branco, retratando gelo e fontes vistas no mosteiro de El Escorial, cidade perto de Madri, onde vive e trabalha.
Suas influências, diz Andrews, vêm principalmente de suas amizades com o artista expressionista abstrato José Guerrero e o artista construtivista Pablo Palazuelo, os quais “desencadearam uma nova aventura pictórica” para ela. Depois de estudar as técnicas dos mestres, ela prepara suas própria telas com base de cola de caseína caseira e branco de zinco, o que confere ao trabalho um acabamento leve e luminoso para aplicação posterior de cores acrílicas em várias camadas.
Annabel Andrews começou a pintar e desenhar desde muito jovem. A artista obteve um certificado de honra da The Royal Drawing Society, de Londres, e, até hoje, continua seus estudos em academias particulares e oficinas municipais em Las Palmas de Gran Canaria e no Circulo de Bellas Artes de Madri, na Espanha, aperfeiçoando as técnicas de gravura e litografia. Seus trabalhos foram exibidos em importantes galerias de Madri, também em centros culturais da Espanha, e ela recebeu vários prêmios. Suas pinturas e colagens fazem parte de coleções particulares na Espanha, Inglaterra, Canadá, Estados Unidos, Itália, Alemanha, Bélgica e Ilhas Canárias.
Como você descreveria seu trabalho para um estranho?
– Primeiro, pedindo a esse ‘estranho’ que me descreva o que ele ou ela sente. Então, estabeleceria uma conversa, esperando chegar a um entendimento interessante para nós dois. Acho que as crianças são maravilhosas para serem ouvidas, porque elas têm mentes abertas e desfrutam de cores vivas, sem elaborar análises abstratas dizem apenas o que pensam.
Como se manifestaram seus primeiros experimentos artísticos?
– Ser criança durante a guerra na Ilha de Wight significava que não havia muitos brinquedos. Sempre fiquei fascinada com as cores brilhantes das flores, colocando-as entre papel e prensas até que estivessem secas o suficiente para grudar no meu álbum. Mais tarde na escola, minha matéria favorita era botânica e as ilustrações que fizemos com aquarelas, depois de separar as plantas e examinar todas as suas formas estranhas.
Quais sentimentos você tem quando cria e como se sente quando não cria?
– Se a pintura está indo bem, o sentimento é estimulante, positivo e agradável, mas, quando fica muito difícil, vou trabalhar no jardim, andar na floresta ou encontrar amigos para um café e conversar no vilarejo onde moro na Espanha, San Lorenzo de El Escorial.
Se algum dos nossos leitores comprasse uma das suas obras de arte hoje, o que você diria sobre o seu trabalho?
– Explicaria que a pintura é minimalista, construtivismo de cores principalmente geométrico, trabalhado em telas de algodão de pato preparadas por mim com cola de caseína e pigmento branco de zinco. Isso torna as cores brilhantes. Parte do trabalho não é completamente abstrata.
O que significam os títulos das suas telas?
– Os números são apenas para referência. As pinturas são nomeadas em relação aos objetos que vi com suas formas e cores, usadas de maneira abstrata para refletir suas características relevantes, não totalmente desapegadas das imagens perceptivas, mas as formas puras têm propriedades próprias.
Onde você se encaixa e a quem você acha que pertence no mundo das artes?
– Os artistas que mais me influenciaram são José Guerrero e Pablo Palazuelo, que também eram meus amigos em Madri. José Guerrero havia retornado recentemente à Espanha, onde fazia parte da escola de Expressionismo Abstrato de Nova York. Ele causou uma ótima impressão em mim, inspirando-me a experimentar o minimalismo e a abstração. Pablo Palazuelo, que era geométrico e construtivista, tinha um grupo interessante de amigos ao seu redor e é uma das pessoas que influenciou bastante o meu trabalho. As duas influências eram antagônicas, mas ambas desencadearam uma nova aventura pictórica para mim.
Como o seu trabalho se encaixa na sua trajetória de vida?
– Olhando para trás, acho que houve uma evolução natural, começando com paisagens figurativas pintadas da natureza, que gradualmente se tornaram mais abstratas e simples, embora haja momentos de experimentação que parecem seguir outras direções. Ainda gosto de desenhar diretamente da natureza e das pessoas.
Você consegue controlar para onde o seu trabalho lhe conduz?
– O trabalho me controla em permanência, pois sempre há surpresas e acidentes felizes ao longo do caminho, o que pode levar a pintura a uma direção diferente. Quando isso acontece, geralmente o trabalho pode ficar pesado e controlado demais e deve ser jogado fora. Se eu soubesse exatamente como as coisas terminariam, não haveria incentivo para continuar!
Existe um dia de trabalho típico para você?
– Com a primeira luz do amanhecer, subo silenciosamente ao estúdio, com uma xícara de chá na mão para ver o que aconteceu no dia anterior. A semi-escuridão facilita o julgamento do peso das diferentes cores e do equilíbrio da imagem. Durante o café da manhã, sou mais prática e o trabalho pode começar mais tarde. Cada dia é diferente. Na maioria dos dias eu pinto, outros precisam ser gastos preparando a tela e fazendo a cola ou apenas olhando e ponderando sobre o que está em andamento sem realmente fazer qualquer trabalho.
Quais são os aspectos menos agradáveis de ser uma artista e com os quais você ainda luta?
– Responder perguntas que traduzem experiências visuais em palavras, é quase impossível para mim.
O que podemos esperar dos seus projetos futuros?
– No momento, estou recuperando algumas das minhas técnicas antigas usando cola de caseína, pigmentos e carvão para obter um trabalho mais leve e aberto. Tendo feito colagens nos últimos meses, as coisas mudaram um pouco. Tantas coisas são possíveis de serem feitas e que precisam ser pensadas para serem simplificadas!
TRADUÇÃO & EDIÇÃO DE TEXTO – Marilane Borges
IMAGEM – Cortesia da artista Annabel Andrews © 2020 Todos os direitos reservados
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