Se as cadeiras pudessem falar
“Quando você olha para uma cadeira comum, você nem sempre sorri, confessa o designer londrino Yinka Ilori, meu trabalho é muito colorido e tem uma narrativa por trás de cada criação espero que as pessoas tirem boas energias e vibrações das minhas criações. Também quero que as pessoas questionem a cadeira; por que está nessa cor? por que tem uma perna de aparência estranha ou por que não é funcional?” Especialista em mobília vintage, inspirada nas parábolas tradicionais da Nigéria e nos tecidos africanos que o cercavam quando criança Yinka Ilori parece sempre bem humorado, provocador e divertido, cada peça de mobiliário que ele cria conta uma história. Trazendo tradições verbais nigerianas para uma conversa lúdica com o design contemporâneo, o trabalho de Yinka Ilori aborda temas variados e complexos como esperança, sexualidade e classe social. Consciente de que as parábolas são tão relevantes hoje como sempre, Ilori deseja compartilhar seu trabalho com pessoas de todo o mundo.
“Lembro-me daqueles tempos visitando meus avós e provocativamente sentando-me na grande e confortável poltrona favorita do meu avô. Ele sempre ria e tentava – invariavelmente com sucesso – recuperar seu assento, perfeitamente modelado ao seu corpo ao longo do tempo. » Ilori luta apaixonadamente contra o desperdício desnecessário que viu nas culturas de consumidores da Europa e da África Ocidental e isso o leva a reutilizar móveis descartados e outros objetos encontrados. Com cada peça personalizada, inspirada em uma parábola, Ilori restaura e dá nova vida aos objetos e materiais recuperados. Seus móveis adquirem novos significados, dependendo de como são usados ou posicionados e Ilori está interessado em brincar com a relação entre a função e a forma do seu trabalho, que se situa entre as divisões tradicionais da arte e do design.
É esse senso de rotina territorial que despertou o interesse do artista Yinka Ilori. “As cadeiras eram muito especiais e importantes na casa da minha família. Todo mundo tinha sua própria cadeira na qual sempre sentava. Tomar, por exemplo, a cadeira da minha irmã sempre me dava uma sensação de culpa, como se eu a tivesse roubado”, diz Yinka. E foi assim que o artista se interessou em como as pessoas se conectam com cadeiras e móveis. Ele se apropria de objetos de segunda mão ou peças abandonadas pelas ruas e brechós de Londres e lhes dá uma nova vida. Isso pode envolver a adição de tecidos coloridos com padrões vibrantes, levantando os braços ou encurtando as pernas. Yinka baseia os desenhos de sua maravilhosa série If Chairs Could Talk on em suas raízes africanas.
“Sou realmente apaixonado por ser africano e também britânico, por isso quero incorporar as duas culturas em tudo o que faço. Meus pais nasceram na Nigéria e moram na Inglaterra há mais de 30 anos. Imagino que muitas pessoas lutam com o fato de viver essa imigração, se questionando aonde elas se encaixam em termos de ter duas culturas. Sempre achei muito difícil distinguir os dois lados, por isso, quero retratar os dois estilos no meu trabalho.” Todos os designs de Yinka são individuais, mas eles tem algo em comum: eles contam uma história. Inspirado nas parábolas nigerianas que passam de geração em geração, ele separa as palavras-chave desses contos. “Pode ser um conto sobre uma girafa com pescoço comprido. Observo a palavra girafa e a palavra pescoço ou longo e, em seguida, descubro como posso integrar esse recurso essencial ao meu design. Não quero incorporar toda a narrativa nessa cadeira. Pego apenas uma pequena parte e faço dela o elemento mais impactante”, diz ele. Em seguida, ele adiciona os tons e tecidos, que ele descreve como “tendo devorado o banquete de domingo e depois recebendo sobremesa. Amo comer sobremesa, então adicionar cor é a sobremesa no meu processo criativo.”
Em uma inspeção mais detalhada, é possível descobrir que o trabalho de Yinka nem sempre é funcional; alguns de seus bancos tem características que os tornam impraticáveis, como falta de uma perna ou ganchos indelicadamente colocados em assentos. Mas isso não importa para o artista – é mais sobre como as pessoas querem usar os desenhos dele, e não como eles deveriam usá-los. “Quando você compra uma pintura de Basquiat por 50 milhões, o normal é pendurá-la na parede. Mas se eu comprar uma pintura de Basquiat e quiser colocá-la no chão, posso fazê-lo. Porque é assim que essa obra pode ter sentido para mim,” justifica-se. Dessa maneira ele não se desvia do seu principal objetivo que é fazer as pessoas felizes. “Não sou professor, nem especialista, não sou Jesus, mas espero que as pessoas tirem boas energias e vibrações do meu trabalho. Espero que ele surpreenda e inspire as pessoas a fazerem coisas boas e serem apenas pessoas melhores. Essa é a minha mensagem.”
IMAGEM – Cortesia do artista Yinka Ilori © Todos os direitos reservados
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