Tornando-se Matisse

20 de novembro de 2019

Se, além do talento, tudo o que é necessário para se tornar um artista é começar a fazer arte, Henri Matisse pode ser considerado um modelo de superação. Esse é o mote da exposição “Tornando-se Matisse”, apresentada no Museu Matisse, situado na cidade de Cateau-Cambrésis, no norte da França, região onde o artista nasceu. Em comemoração aos 150 anos do nascimento de Henri Matisse, a mostra explora o longo caminho que o artista percorreu e as dificuldades que enfrentou para forjar seu talento e se tornar um mestre em sua arte. Através de registros dos seus primeiros desenhos, da sua peregrinação artística em Paris e das suas viagens de aprendizagem, seguindo os passos de artistas como Barye, Davidsz De Heem, Delacroix, Chardin, Quentin de la Tour, Goya, Corot, Camoin, Cézanne, Cross, Gauguin, Manguin, Marquet, Monet, Rodin, Renoir, Picasso, entre outros, a mostra “Tornando-se Matisse” revela os esforços e os progressos que Matisse empreendeu para assumir seu próprio estilo e criar uma assinatura artística para sua vasta obra.

Mundialmente reconhecido como um dos artistas mais influentes do século XX, a notável carreira de Henri Matisse inclui pinturas, desenhos, esculturas, artes gráficas, como gravuras, linogravuras, litografias, aquatintas, além de recortes de papel e ilustração de livros. Seus temas eram diversificados e versavam invariavelmente sobre paisagem, natureza morta, retratos, interiores domésticos e de ateliês, além de serem particularmente focados na figura feminina. Convencido de que o assunto de um pintor estava inteiramente em suas pinturas, Matisse se entregou, ao longo de sua vida, à sistematizar seu pensamento sobre a arte como uma doutrina ordenada. O artista criou telas coloridas brilhantemente estruturadas por cores, aplicadas em uma variedade constante de pinceladas espessas com variações de áreas planas de pigmento puro, às vezes acompanhadas por uma linha sinuosa, tipo arabesco. Ao longo de todo o seu processo de evolução e aprendizagem, Matisse mudou várias vezes de estilo sem, contudo, abandonar seu objetivo, que permaneceu intacto ao longo dos anos, que era descobrir “o caráter essencial das coisas” e produzir uma arte “de equilíbrio, pureza e serenidade”, como ele próprio cita em suas “Notas de um pintor”, publicado em 1908. Para além da fácil espontaneidade, o que fez Matisse triunfar foi a vontade de explorar e exercitar com constância e meticulosamente os recursos e as possibilidades da arte, valendo-se da única grande regra que o pintor considerou absoluta: o trabalho diário.

Os anos de 1908 à 1913 foram focados em arte e decoração e Matisse produziu várias telas em grandes formatos, como interiores de estúdio, um grupo de quadros marroquinos de cores espetaculares. Estes foram seguidos por quatro anos entre 1913 e 1917 de experimentação e discurso com o cubismo de Pablo Picasso e Juan Gris, cujas composições resultantes eram muito mais austeras, quase geometricamente estruturadas e às vezes próximas da abstração. Em 1932, em preparação para The Dance, um mural para o Dr. Albert Barnes, Matisse começou a usar uma nova técnica – a de criar a composição a partir de formas recortadas de papel previamente colorido. A partir de 1940, os recortes de papel se transformaram no meio exploratório preferido do artista e, até o final de sua vida, sua forma dominante de expressão. “Tornando-se Matisse”, que fica em cartaz até 09 de Fevereiro de 2020, traça o antes e o depois da carreira do artista, desde os seus primeiros desenhos até a sua conversão aos recortes de papel. Nessa jornada cronológica, pontuada de obras de obras primas vindas de empréstimos de grandes museus do mundo inteiro, a exposição explora os métodos de trabalho de Matisse, sua amizade com outros artistas, seu papel de professor e sua influência sobre seus alunos. Verdadeira homenagem ao artista, essa exposição revela o caráter e a ascensão de um homem modesto, que veio de uma família tecelã e trilhou seu caminho no mundo das artes e se dedicou à lapidar sua criatividade com determinação e ousadia. Tanta dedicação é o próprio legado do artista, afinal, “ninguém que fez algo que valha a pena agiu de outra maneira…” Por tudo isso, Matisse se tornou uma referência na história da arte moderna.

EDIÇÃO DE TEXTO – Marilane Borges

IMAGEM – Henri Evenepoel “Henri Matisse dans l’atelier d’Henri Evenepoel”, Paris, Avenue de la Motte-Picquet, octobre 1897, Musées Royaux des Beaux-Arts de Belgique, archives de l’Art contemporain en Belgique, Bruxelles, AACB INV.76613/451, cliché KIK-IRPA X 078421 3,8 x 5 cm Fonds Henri Evenepoel – Libre de droit – Henri Matisse “Autoportrait”, 1900 Huile sur toile 55 x 46 cm MNAM Donation Pierre Matisse, 1991 Centre Pompidou, Musée national d’art moderne- Centre de création industrielle © Photo RMN © Succession H. Matisse – Henri Matisse “Première nature morte orange”, 1899 Huile sur toile 56 x 73 cm Centre Pompidou, Paris, Musée National d’Art Moderne/ Centre de Création Industrielle En dépôt au Musée départemental Matisse, Le Cateau-Cambrésis, © Photo Philip Bernard © Succession H. Matisse – Henri Matisse “La Pourvoyeuse”, d’après Chardin, Fin XIXe (1896) – début XXe (1903) Huile sur toile 46×38 cm Musée départemental Matisse, Le Cateau-Cambrésis © Photo P. Bernard © Succession H. Matisse – Henri Matisse “Etudes d’antiques 3 nus”, 1907-1908 Crayon sur papier 18.4 x 21.1 cm Coll particulière © Photo Ted Dillard © Succession H. Matisse

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