René Lalique
Artista singular que marcou com suas joias e com suas criações de vidro a Art Nouveau e a Art Déco na virada do século 20, deixou sua marca não somente com seu talento artístico mas também com sua apurada técnica e sua desenvoltura comercial. Nascido na região de Champagne, foi em Paris que René Lalique (1860-1945) começou sua carreira, primeiro como desenhista, em seguida, como joalheiro. Inspirando-se da natureza e tendo a audácia de usar o corpo feminino como um elemento ornamental, Lalique criou em suas joias propostas inesperadas, utilizando materiais pouco em voga para a época como o marfim, o esmalte ou o vidro.
No auge da sua carreira como joalheiro, ele muda gradualmente e torna-se vidraceiro, depois de ter participado da última exposição de joias em 1912. Para essa guinada, a produção de vidros de perfume desempenhou um papel fundamental e essas criações levaram-no a criar sua primeira fábrica em Combs-la-Ville, na região parisiense. Eclético, Lalique projeta vasos, elementos arquitetônicos e inicia produções em série sem jamais renunciar à criatividade e à qualidade, muito pelo contrário, paulatinamente ele aperfeiçoou todas as técnicas de desenho e reprodução, especializando-se em acabamentos rebuscados, popularizando o desenvolvimento do conceito estético na decoração.
Criador, joalheiro, vidraceiro, decorador, René Lalique consagrou sua vida e carreira para observar atentamente a natureza tendo como foco a mesma curiosidade para extrair, invariavelmente, detalhes significantes que construíram a reputação de suas criações. A grande genialidade de Lalique reside na capacidade de adaptação criativa ao que via, uma vez que ele não copiava a natureza, nem estilizava os diferentes elementos mas os transformava de acordo com sua fantasia para criar a magia de um objeto material. A fauna e a flora foram objeto de suas mil criações, que contavam ainda com personagens místicos fabulosos, como ninfas e sereias, que foram sublimados pelo seu olhar.
O legado de René Lalique alcançou três gerações da família, que recebeu como herança artística sua influência e talento. Sua filha, Suzanne, apropriou-se das suas técnicas para desenvolver coleções de pescas milagrosas, enquanto seu filho, Marc, e sua neta Marie-Claude, reinterpretaram o mundo aquático estilizando diferentes tipos de peixes, cavalos marinhos, estrelas do mar, tartarugas ou sapos e libélulas em cores brilhantes e vibrantes. “Lalique se tornou um mestre nesta interpretação da fauna e da flora aquática, por isso suas peças são atemporais e sobreviverão à moda e à beleza fugaz,” escreveu o crítico de arte Pol Neveux, durante a Exposição Universal de 1900.
Ainda criança, Lalique explorou a paisagem da região de Champagne, na França, e foi iniciado na observação atenta da natureza em belas caminhadas ao lado do seu avô. Em Clairefontaine, propriedade que comprou na floresta de Rambouillet, em 1898, ele ficou fascinado pela beleza majestosa dos cisnes deslizando sobre um lago tranquilo. Se na literatura o cisne simboliza a nudez feminina com sua brancura que representa a pureza, na arte pictórica os peixes-mulheres, que agitam seus corpos voluptuosos deslizando nas águas claras com seus cabelos encaracolados, são criaturas mitológicas encontradas tanto nas histórias dos autores gregos como nos contos escandinavos, africanos ou caribenhos. Essas sereias, há muito conhecidas por atrair navegadores para suas armadilhas pela doçura de suas canções, são adornadas com os atributos de sedução na obra de René Lalique, que soube representar como nenhum outro artista o imaginário fantástico com suas formas estilizadas sob o signo da Art Nouveau e da Art Déco.
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